Fanfic: Cilada!!!!! | Tema: web novela

O campo era grande e o gramado um verde alegre. Tinha várias árvores espalhas, bancos, mesas e um lago no centro. Havia muita gente em volta. Crianças correndo, brincando de bola, empinando pipa ou apenas correndo uma das outras. Vendedores de pipoca, balão, algodão doce e balas. Alguns casais espalhados, assim como famílias, também fazendo piqueniques naquele parque. Emerson havia posto uma larga toalha de mesa no chão e uma cesta com comidas. Bah e Rick já haviam comido e no momento riam das historias que o pai da garota contava. Tereza estava deitada com a cabeça no colo do esposo enquanto Bah tinha a cabeça sobre a coxa de Rick, que acariciava seu cabelo. 
–– vida, vamos dar uma volta –– Rick sussurrou para Bah quando o outro casal começou a conversar um assunto entre si.
–– volta por onde? –– Bah falou se sentando.
–– sei lá. Preciso falar com você –– ele franziu o rosto e apertou os lábios.
–– sobre aquilo de ontem? –– ela arqueou as sobrancelhas e viu o menino concordar –– então vamos.

Colocaram-se de pé e viram Emerson os observar. 
–– aonde vão? –– ele perguntou.
–– dar uma volta pai. Pegar um sol, um vento –– Bah disse divertida.
–– tudo bem, mas não demorem mais que duas horas, certo? –– ele disse notando as horas no relógio.
–– certo –– eles assentiram e saíram dali lado a lado.

Andaram um pouco pelo gramado, em total silêncio. Bah estava de braços cruzados e Rick com as mãos nos bolsos. Ambos olhavam para o chão e nenhuma palavra saia da boca deles.
–– então... –– Bah iniciou o assunto e ele a olhou.
–– então? –– ele entortou os lábios –– quer sentar? –– perguntou indicando uma parte do gramado sob uma arvore.
–– pode ser –– ela deu de ombros e o acompanhou até lá –– o que você tinha ontem? Vai me falar? –– pediu com os olhos atentos, sentada ao lado dele.
–– tava pensando em nós dois, vida –– Rick começou a falar fitando o vazio.
–– nós dois como? –– ela perguntou surpresa.
–– em nós dois como um casal... –– ele virou o rosto e lhe encarou.

–– não somos um casal, somos amigos –– Bah riu sem graça e desviou o olhar.
–– amigos não fazem o que fazemos –– Rick riu irônico e Bah revirou os olhos.
–– você sabe que entre nós rola apenas atração... –– a garota falou fazendo uma careta.
–– vida... –– Rick se sentou se frente a ela e segurou seu rosto –– e se eu disser que não quero ser apenas isso? –– ele perguntou a encarando e Bah engoliu a seco.
–– não gosto quando você começa esses assuntos –– ela falou nervosa.
–– por quê? –– Rick perguntou confuso.
–– porque eu já sofri demais por você no passado, Ricardo –– ela falou alterando-se –– você não lembra? Ah, claro que não! –– ela mesma respondeu com um tom de ironia –– só lembra quem sofre, quem fez sofrer não tem esse tipo de recordação.
–– eu já te expliquei os motivos daquele tempo, vida –– Rick a interrompeu e soltou seu rosto –– aquilo é passado.
–– justamente, Rick –– Bah sorriu fraco –– passado. Deixe-o no lugar dele, por favor –– falou com a voz baixa.
–– não dá... –– ele balançou a cabeça negativamente –– não posso mais negar que eu to sentindo alguma coisa por ti –– ele engoliu a seco e suspirou, desviado o olhar –– olha Bah...
–– não Rick –– ela fechou os olhos e apertou os lábios –– não quero falar desse assunto.

–– mas eu preciso –– ele a interrompeu –– isso ta me incomodando demais –– falou chateado e estalou os lábios.
–– aposto que você nem tem certeza disso –– Bah revirou os olhos sorrindo, tentando parecer irônica diante aquilo.
–– eu tenho ciúmes de você –– ele voltou a falar.
–– sempre teve –– Bah deu de ombros.
–– mas o fato de você ter namorado nunca me incomodou –– ele virou o rosto para encará-la, mas Bah fitava o chão –– eu quero você pra mim, Bah. Só pra mim. Não quero ter que te dividir com o Artur. Não quero ter que ficar com você escondido nos lugares. Ou ter que esperar terminar a balada pra ter a sorte de te raptar quando você briga com o Tuti. Não quero ter que esperar os plantões das nossas mães pra poder dormir contigo e nem ter que ficar escondendo isso de todo mundo...
–– e você acha que se eu terminar com o Tuti, nós vamos poder ficar numa boa? –– ela perguntou irônica e Rick apertou os lábios –– claro que não, Rick. Não viaja.
–– não entendo por que... –– ele começou a falar.
–– nossas mães não vão aceitar –– ela revirou os olhos –– isso é obvio.

–– e você se importa com isso? –– Rick falou franzindo a testa –– sua mãe nunca gostou tanto do Artur e mesmo assim você ficava com ele. 
–– o Artur foi a primeira pessoa que eu me envolvi depois de tanto tempo sofrendo por você –– ela respondeu seca e o fitou –– e quer saber de uma coisa? –– ela disse abrindo um sorriso e ele ergueu a sobrancelha –– eu acho que você só ficou comigo naquele acampamento porque eu já tava me envolvendo com o Artur.
–– nada a ver –– Rick deu uma risada e balançou a cabeça negativamente.
–– você nunca quis nada comigo, ai um tempo depois, que eu já tinha te superado, estava ficando com o Tuti, você simplesmente resolve me beijar naquele acampamento –– Bah falou cheia de ironia e viu Rick ficar sério.
–– aconteceu, vida. Eu tive vontade... –– ele deu de ombros –– aliás, eu sempre tive vontade, mas já te disse que eu não queria nada sério. Não queria te iludir e naquele dia... –– ele suspirou.
–– você tinha planejado aquilo? –– Bah perguntou cautelosa, para que o amigo não ficasse chateado.
–– não –– ele sorriu fraco –– quer dizer... –– ele se ajeitou sobre a grama e abaixou a cabeça –– quer a verdade? –– Rick suspirou mais forte e desviou o olhar do de Bah –– eu era virgem também...
–– mas... Hã... –– Bah o interrompeu chocada.

–– não tem nada de “mas” –– ele balançou a cabeça negativamente –– eu era virgem e também não queria que você perdesse sua virgindade com o Artur. Nunca gostei dele. Do mesmo jeito que meu primeiro beijo foi com você, também queria que a primeira vez fosse. Não por mim... –– ele mordeu o lábio inferior e olhou para Bah que estava perplexa –– era pra ser um momento especial, com uma pessoa especial pra você... Então eu achei que aquela era a oportunidade de eu fazer com alguém que eu gostasse... Desculpa –– ele falou sentindo-se idiota e pôs as duas mãos sobre o rosto.
–– eu to tentando digerir isso e não consigo... –– Bah suspirou –– nunca imaginei que... Hã... Você gostava de mim, Rick? –– ela o fitou de repente e ele pareceu surpreso com a pergunta.
–– sempre gostei –– ele disse atordoado –– mas não o suficiente pra abrir mão daquela minha vida. Só que agora ta difícil, vida –– ele levou a mão até o rosto dela e acariciou –– eu não to blefando. É sério. Eu to apaixonado por você. Por favor, me dá uma chance.

A garota fechou os olhos e engoliu a seco ao sentir o toque de sua pele e ouvir aquelas palavras.
–– hein? –– ele insistiu.
–– não faz isso comigo –– Bah pediu chorosa –– Você não pode simplesmente decidir me amar agora, depois de tanto tempo.
–– você não sente nada por mim? –– ele perguntou surpreso, erguendo as sobrancelhas –– quer dizer, fica comigo por...
–– atração –– ela respondeu abrindo os olhos devagar –– É só isso que eu sinto –– falou tentando ser o mais convincente possível.
–– ta falando sério, Bah? –– Rick perguntou rindo incrédulo –– Foram vários beijos, noites e você vem dizer que é só atração. 
–– to Rick –– ela se levantou e o olhou de cima –– de você eu só quero mesmo a amizade. Eu amo o Tuti e... E... –– ela jogou a cabeça pra trás e suspirou.
–– mas, vida –– Rick se pôs de pé também e ficou em sua frente –– e tudo o que aquele idiota fez contigo? Você vai perdoá-lo? –– perguntou indignado.

–– vou, Rick –– ela assentiu de forma fria –– ele errou, mas eu também errei todos esses meses. Nosso lance não tinha sentimentos. Não era pra você se apaixonar. 
–– São traições diferentes, você mesmo dizia isso, o Tuti pega essas garotas por diversão, eu sou só isso para você também? –– Ele argumentou.
–– Claro que não Rick, eu adoro ficar com você, mas isso não quer dizer que seja amor da minha parte também –– Ela tentou se explicar, mas estava confusa.
–– desculpa se não consegui controlar isso –– ele pediu a segurando pela mão.
–– você não tem que se desculpar –– ela franziu a testa –– só que pra mim é melhor deixar do jeito que ta.
–– você vai mesmo voltar com ele, Bah? –– Rick perguntou indignado –– olha o que ele faz com você... Esse cara não presta e...
–– você não é melhor, Ricardo –– Bah o interrompeu, falando rígida –– Não tem o direito de julgá-lo. 

–– não me compara ao Artur, porque você se quer o conhece direito –– Rick soltou a mão dela e disse seco –– posso não ser um exemplo, mas não chego aos pés do seu namorado perfeito –– Ele falou irônico. 
–– então me diga o que eu não sei –– ela abriu os braços e levantou as sobrancelhas.
–– melhor você quebrar a cara sozinha –– ele falou frio e virou saindo dali.
–– Rick –– ela o chamou, mas o garoto saiu andando –– Ricardo! Droga! –– ela choramingou.

O moreno saiu dali com um nó na garganta prendendo as palavras e fora até onde Emerson estava. Sentou-se próximo ao casal e abaixou os óculos escuros.
–– Ricardo –– Tereza o chamou e ele virou o rosto –– ta tudo bem?
–– claro –– ele disse fingindo um sorriso.
–– e cadê a Bah? –– Emerson perguntou.
–– queria dar mais uma volta –– ele respondeu suspirando –– o sol me deixou com dor de cabeça. Se importa se eu pegar um táxi?
–– ah... Hã, claro que não –– Emerson disse sem saber o que falar –– quer que eu vá te deixar?
–– não se preocupa comigo, tio –– ele falou já se levantando –– vou aproveitar pra arrumar minha mala.
–– nem me lembra que minha princesinha já vai –– o pai disse apertando os lábios.

–– logo ela vem de novo –– Rick falou a fim de reconfortá-lo e pegou as chaves da casa que Emerson estava lhe dando –– obrigado, tio.
–– vai lá –– ele sorriu e viu o garoto se afastar.
–– aconteceu alguma coisa –– Tereza disse preocupada.
–– devem ter discutido –– Emerson assentiu.

[...]

Rick caminhou entristecido até a avenida perto do parque a fim de chamar um táxi. Observou Bah sentada em um banco, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos sobre o rosto. Ao seu lado estava Rômulo, acariciando seus cabelos. Uma sensação de raiva percorreu seu corpo todo, mas resolveu tentar controlar aquilo. Acenou para um carro que logo parou. Durante o trajeto e até chegar em casa, quando fora direto pro banho, o garoto não conseguia acreditar no que havia acontecido. Sentia-se um idiota por gostar da amiga, por ter se declarado e ter achado que teria alguma chances. O que mais lhe angustiava era saber que Bah iria continuar se dando mal nas mãos de Tuti, porém decidiu não se meter. 

[...]

Bah vinha calada o tempo todo dentro do carro. Sua cabeça estava a mil com a revelação cujo Rick havia feito. Ele não poderia ter gostado dela aquele tempo todo e apenas ter medo de se relacionar. Ela não conseguia acreditar naquilo. Sofreu por todo aquele tempo por alguém que também gostava dela, mas tinha medo. Era um pensamento egoísta demais para que ela aceitasse. E agora não iria abrir mão de um namoro estável com Artur para se aventurar com um garoto que se quer era confiável quando se tratava de garotas. Quando o carro de seu pai estacionou em frente a casa, Emerson virou-se pra trás e fitou a filha.
–– Bah –– ele chamou, mas ela não olhou –– minha princesa? Você ta bem? –– perguntou preocupado.
–– oi pai –– ela disse ao despertar –– to bem sim. To ótima –– disse suspirando e desceu do carro –– eu, hã, vou arrumar minha mala –– falou conferindo no relógio as horas.
–– nem me lembra disso –– o pai suspirou e parou ao lado de Tereza –– não quero pensar que mina filhotinha vai embora de novo e eu só vou vê-la daqui umas semanas ou meses –– disse triste.

–– também sinto sua falta em casa, pai –– Bah disse abaixando a cabeça e Tereza apertou os lábios dando um passo a frente.
–– vou tomar um banho e deixar vocês conversarem melhor –– a mulher disse para evitar chateações.
–– certo –– Emerson assentiu prevendo aquilo também –– vamos entrar, Bah –– disse esticando a mão para a filha.
–– eu sei que falei besteira –– Bah disse ao entrar em casa –– mas é a verdade. Não que eu sinta falta de você com a mamãe, apenas sinto falta de um pai presente –– ela falou com tristeza.
–– eu sei amor. Também sinto falta de você todos os dias –– ele disse virando a filha de frente.

Logo algumas lágrimas começaram a cair de ambos os rostos e os dois se abraçaram. Uns minutos depois Rick entrou na sala sem saber de nada e se deparou com aquela cena. O garoto se escorou no portal que dividia a sala do corredor e apenas os observou. Quando Bah e Emerson se largaram, ele enxugou as lágrimas da filha.
–– opa, Rick –– o pai disse o vê-lo ali.
–– desculpa tio, não quis atrapalhar. Vou beber água –– Rick falou saindo dali.

–– espera –– Emerson o chamou e o garoto parou de costas –– o que aconteceu entre vocês? –– perguntou olhando para a filha e viu o menino virar-se de frente.
–– nada –– Rick falou sorrindo fraco.
–– é, pai. Nada –– Bah concordou fitando o chão –– vou arrumar minhas coisas.

Ela virou-se e saiu dali apressada. Emerson a observou e quando voltou a olhar para Rick, ele não estava mais ali. O pai dela foi até a cozinha onde encontrou o garoto bebendo água, escorado a pia.
–– fale –– Emerson pediu parando em sua frente de braços cruzados.
–– apenas discutimos, tio –– Rick revirou os olhos –– bobeira nossa. Logo voltamos às boas.
–– só isso mesmo? –– ele ergueu a sobrancelha e Rick assentiu –– certo –– ele concordou mesmo que descontente –– espero que a próxima vez que venha, estejam de bem mesmo.
–– claro –– Rick sorriu fraco e deu um abraço em Emerson.

[...]