Fanfic: Era apenas meu primo! | Tema: Vondy

A manhã pareceu se arrastar. Eu olhava de 5 em 5 minutos pro relógio, contando os segundos para dar 15h e estar na consulta. Meu filho não pode morrer. Não antes mesmo de eu saber da sua existência. Caramba. Como Dulce me escondeu aquilo? Tudo bem. A surpresa ia ser maravilhosa. Mas quando ela abortou, no banheiro, sozinha. Meu Deus, eu estava a metros de distância e não percebi nada. Eu devia estar cuidando dela e falhei. Mas porque ela não me chamou? Porque ela não me pediu ajuda? Iriamos pro hospital naquela hora mesmo.

Não podia acreditar que Dulce passou por tudo sozinha e depois não me contou nada. Tais pensamentos não saíram mais da minha cabeça e passei a manhã inteira tentando achar qualquer motivo para que a Dulce não tenha me contado nada ontem, mas não achei. E espero, de coração, que ela tenha alguma explicação.

O relógio marcou 14h30 e eu pulei da cadeira. Peguei todas as minhas coisas, tranquei a minha sala e fui em direção ao elevador.

- Sr. Christopher - Michelle vinha atrás de mim - o Sr. Ritter acabou de ligar pedindo uma reunião... - a interrompi

- Michelle, estou atrasado para resolver questões pessoais. Não marque ninguém para hoje e não permita que deixem recado para mim. Apenas peça para que eles retornem a ligação amanhã se quiserem falar comigo.

- mas o Sr. Ritter com... - a interrompi novamente

- não me interessa o que o Arnaldo quer. Eu estou de saída e não volto hoje. Simples - percebi que o elevador chegou e entrei nele antes que a Michelle pudesse falar alguma coisa a mais. 

Corri pelo estacionamento até meu carro e dirigi acima dos 120km querendo chegar o quanto antes na maldita clínica. Depois de conferir 3 vezes o endereço e ter certeza de que era ali, sai do carro e entrei na clínica.

- boa tarde senhor, tem consulta para agora? - a secretária me olhou e sorriu

- não, a minha namorada tem. Dulce Maria - tirei meus óculos e sorri tentando não parecer tão nervoso

- ela já está na sala de espera. A consulta será a próxima - ela levantou e abriu a porta atrás dela - segunda porta à esquerda - ela sorriu e me deu espaço para passar

Fui caminhando lentamente para a sala de espera. Se antes eu queria que chegasse a hora de vim, agora eu quero que o tempo passe bem devagar. O que eu diria a Dulce? Porque eu estou aqui? Bati na minha própria cabeça. Porque sou o pai, babaca. Repeti para mim mesmo. Parei diante da porta de vidro transparente e pude ver a cabeleira ruiva de costas para mim. Entrei na sala na mesma hora em que a Doutora chamou por Dulce.

- Dulce Maria? - a médica olhava para a ficha e Dulce se levantou - algum acompanhante? - ela perguntou 

- nã.. - interrompi

- sim - andei mais rápido até elas e sorri para a médica enquanto Dulce arregalava os olhos

- podem entrar então - ela sorriu - marido e mulher? - ela sentou e apontou para 2 cadeiras na sua frente

- não. Namorados ainda - sorri enquanto me dirigia para a cadeira

- Porque estamos aqui, senhorita? - ela olhou para a Dulce e a mesma continuava calada e assustada. Dava pra ver que não esperava me ver aqui

- amor? - perguntei e toquei em sua perna 

- ér... - ela começou a falar - eu fiz um... bom... um exame... aqui... - ela gaguejava e coçava a nuca repetidas vezes

- Ela fez um exame de gravidez e deu positivo - olhei pra Dulce - não foi isso? - ela apenas assentiu e então me virei para a médica novamente - e parece que ontem ela teve alguns probleminhas, dos quais eu não faço a menor ideia pois não estava presente e até agora ela não me explicou o que aconteceu. Então amor - dei um tapinha de leve em sua perna e depois descansei a mão na mesa - aproveite para contar para nós o que ocorreu ontem a noite - tentei manter o olhar fixo em seu rosto para ver qual era a sua reação diante as minhas palavras, mas quando ela levantou o olhar, pude ver uma tristeza que eu jamais havia visto em Dulce.

Nem quando encontrei ela no quarto do motel com Pedro. Nem quando eu contei para ela sobre ir para Curitiba mais cedo. Eu não sei qual foi o olhar que ela teve quando descobriu que meus pais me levaram para Curitiba quando eu estava em coma, mas com certeza não devia ser nem metade do que ela está dando agora.

- eu estava no quarto com christopher numa boa - ela olhou para médica e fixou seu olhar por lá - eu comecei a sentir um enjoo muito forte e quis ir no banheiro para vomitar. Mas quando eu cheguei... e vi.... tava horrível - ela colocou a mão no rosto e começou a chorar - eu não sabia o que fazer, eu estava vendo meu filho morrer e não podia fazer nada - sua fala saiu cortada devido aos soluços do choro e eu estava tão em choque que não conseguia nem me mover - minha amiga chegou e conseguiu me dar um banho e tentou me arrastar pro hospital, mas eu não queria, eu tive medo, eu não queria ter que escutar um silêncio ao invés do coração dele - ela chorou ainda mais e eu me aproximei devagar colocando seu rosto em meu peito

- quanto tempo você tinha de gravidez?

- 3 meses - ela afastou o rosto e limpou as lágrimas

- 3 meses? - falei olhando pra ela - 3 meses dul? - minha voz foi diminuindo

- eu só descobri semana passada, eu menstruei nos 2 primeiros meses de gestação, então não fazia nem ideia de que poderia estar grávida. Mas nesse mês atrasou e eu resolvi fazer o exame e deu positivo. Mas agora eu já não tenho ele mais - ela voltou a chorar - eu nem mesmo escutei o coraçãozinho dele bater

- calma amor - prendi uns fios de cabelos que estavam solto atrás de sua orelha e a abracei - ninguém podia imaginar algo assim - acariciei suas costas

- não sofra antes do tempo. Vem - a médica estendeu o braço para Dulce - vamos ver se houve de fato um aborto mesmo. Há casos em que o bebê se salva - ela sorriu tentando passar confiança para Dulce, mas não parecia adiantar.