Fanfic: Era apenas meu primo! | Tema: Vondy

Por Dulce

Acordei meio desnorteada, sem saber onde eu tava. Uma luz forte do teto me impedia de abrir os olhos imediatamente.

- Olá Dulce, sou o Doutor Ricardo, e você está no hospital. Você teve um aborto espontâneo e tivemos que retirar parte do feto.

- hum - foi o que eu consegui responder. Lembranças vieram na minha cabeça e fechei os olhos rapidamente.

- quer que eu chame seu marido? A senhora já pode receber visitas.

- não. Quero a minha mãe - e dei um sorrisinho sem graça

- ok criança - ele sorriu amigavelmente e riu - irei chamar a mamãe.

Assim que escutei a porta se fechar desabei no choro. Porque tudo tinha saído completamente errado? Como eu deixei escapar pelas minhas próprias mãos? Eu queria que tudo saísse perfeito, eu queria que ao invés de susto, a sensação fosse de alegria. Um filho agora não era o que esperávamos, mas se Deus nos escolheu, cuidaríamos com o maior amor que pudessemos dar. Mas eu consegui matar o meu próprio filho. 1 dia. 1 dia tudo mudou. Não consigo acreditar que o mesmo Deus que me mandou um filho é o mesmo que o tirou de mim. Nunca fui uma pessoa fielmente religiosa, sempre duvidei de uma ou outra coisa escrita na bíblia. Que o Christopher não possa ouvir meus pensamentos, se não ele me mata.

- filhinha - minha mãe entrou correndo no quarto e me abraçou - graças a Deus você está bem - ela me apertou e deu um beijo na minha testa

- oi mãe, fico feliz que a senhora esteja aqui - sorri

- também fiquei feliz que você quis me ver primeiro. Mas teve uma pessoa ali que não gostou nadinha. Eu sei que em tempos normais, você o chamaria primeiro. O que tá acontecendo filha?

- ah mãe - senti meus olhos lacrimejando e deixei toda carga negativa que havia em mim sair - é tão difícil essa situação. Eu não queria que nada disso tivesse acontecido, eu esperei para contar pro christopher e essa espera mudou tudo. Ele deve estar me odiando. Eu matei o nosso filho por pura infantilidade de querer fazer uma surpresa. 1 dia mãe. 1 dia - chorei como uma criança enquanto minha mãe apertava minha mão e levava minha cabeça de encontro ao seu ombro

- não fica assim filha, nada é por um acaso. Não é culpa sua nem de ninguém. Aconteceu porque era pra acontecer. Christopher não está com raiva, pelo contrário, ele tá desesperado querendo saber notícias suas. Ele é um bom rapaz filha, não é da índole dele se revoltar por coisas que ninguém tem a culpa. Não fica assim - ela balançava devagar de um lado pro outro - sabia que quando eu recebi a notícia do poncho eu fiquei tão feliz, mas tão feliz, que passei no shopping e comprei um sapatinho branco, lindo. Fui correndo pra casa, fiz um bolo, acendi vela e esperei seu pai chegar do trabalho. Ele demorou tanto que eu dormi e acabou toda a surpresa - dei uma risada leve - não se culpe por esperar filha, poderia ter sido na hora da surpresa ou 1 dia depois. Podia ser qualquer hora, mas coincidiu de ser justo antes de contar. 

- mas dói mãe, dói lá no fundo. Me rasga por dentro. Não consigo acreditar que é a vontade de Deus, ele não preserva tanto a vida?

- justamente minha pequena, ele preserva a vida. Quem sabe essa criança não viria ao mundo com alguma doença? Uma doença que talvez não possa ser curada. Ele não ia querer que ela vivesse todo o tempo de vida dela sofrendo, e muito menos você. Ele poupou uma tragédia maior filha, ou então viu que não era a hora de vocês gerarem um filho, seja por falta de preparação ou de condições financeiras. Não sei. Mas algo muito melhor ele tem pra você, isso eu não tenho duvidas - ela sorriu e me abraçou forte - agora que você está mais calma, posso chamar o ucker? Ele tá pirando lá fora - ela riu

- não mãe, agora não. Fica mais um pouco - fechei os olhos e refleti sobre tudo o que minha mãe havia falado.