Fanfic: A história de um recomeço
Para quem conhece Clara é extremamente fácil reconhecer sua ansiedade. Ela fala atropelando as palavras, gesticulando compulsivamente e, algumas vezes, andando em círculos. Naquele dia em particular, além de ansiosa, ela estava triste, confusa e emotiva. Via de consequência acrescentem-se à lista anterior mãos trêmulas, longas pausas, e, vez ou outra, algumas lágrimas incontidas.
- Não estou dizendo que é só sua culpa – começou ante a ausência de resposta da fotógrafa – Na verdade, não sei nem se você tem alguma responsabilidade nisso ou se ia acabar acontecendo de qualquer maneira... O Cadu me perguntou ontem, mas não soube responder... – Marina arregalou os olhos – Meu casamento já estava um pouco balançado, disso eu tenho certeza... Mas, o que eu quero explicar é... eu estou muito abalada com essa separação! Eu amo o Cadu, isso não tem como questionar, e por mais que eu ache que não tem mesmo volta, não é fácil superar o fim de um casamento de dez anos de uma hora pra outra... Por outro lado eu não sei se eu consigo lidar com essa coisa que a gente tem uma pela outra... Minha cabeça tá dando um nó, Marina! Eu não sei se realmente existe um sentimento romântico ou se é um encantamento, uma admiração que eu sinto por você... E eu não quero te magoar! Eu sei que essa minha confusão já te machucou muito... Também tá machucando o Cadu... Você sabe que eu nunca senti atração por mulher na vida... Mas com você é tão confuso! Eu não consigo definir na minha cabeça o está acontecendo entre a gente...
- Clara, vamos devagar, tá bom? – interrompeu Marina com uma sobriedade que não correspondia ao seu estado de espírito: estava prestes a explodir de alegria – Eu sei que tem um milhão de coisas acontecendo ao mesmo tempo na sua vida. É muita coisa pra administrar e isso não vai se resolver, assim, de uma hora pra outra. Tá tudo muito recente... Por isso mesmo você não precisa se cobrar tanto agora, carregar todo esse peso nas costas. Relaxa um pouco, Clarinha... Por mais que essa separação seja difícil, ela simboliza um recomeço... Você tem que pensar que é o início de uma nova jornada, e dar um passinho de cada vez, sem pressa... Eu vou estar aqui pra te ajudar no que estiver ao meu alcance.
Elas se abraçaram. Pela primeira vez desde os acontecimentos da noite anterior, Clara sentiu uma espécie de alívio. Não sabia de onde Marina tirava aquelas palavras bonitas, menos ainda como explicar seu dom de acalmá-la independente do que estivesse acontecendo. Lembrou que foi a fotógrafa a única pessoa capaz de lhe trazer alguma paz depois do diagnóstico de Cadu. E ela estava ali, presente outra vez; disponível para devolver-lhe a sanidade depois do baque da separação.
***
Quando Clara foi embora naquela noite, Marina perdeu o chão. “Eu não acredito que isso está acontecendo, não acredito!” Pensou repetidas vezes, já deitada na cama.
Embora seu coração não conseguisse renunciar aos sentimentos que nutrira por Clara, racionalmente já havia se convencido do amor da dona de casa pelo marido, bem como da consequente impossibilidade de levar aquele relacionamento platônico adiante. O casamento da assistente estava na corda bamba fazia tempo, mas ela nunca demonstrara real interesse em deixar o marido.
Mas a vida prega peças e, sem qualquer aviso, o grande obstáculo que estava no caminho das duas se esfacelou. “E agora?” Se perguntava, na tentativa de racionalizar o melhor a fazer. A adoção de abordagem agressiva foi prontamente descartada. Clara estava visivelmente abalada, seu emocional em frangalhos. Agora era o momento de enfrentar a separação, o que não seria tarefa fácil. O casal ainda possuía uma conexão emocional forte e Ivan era louco pelo pai. Criança sempre sofre com divórcio.
Para agravar a situação, era em meio àquele panorama caótico que a amiga estava passando por um árduo processo de autodescobrimento. Ela sabia o quanto podia ser assustador se ver, de repente, emocionalmente envolvida por alguém do mesmo sexo. A situação de Clara era particularmente delicada: uma mulher adulta, que chegou a constituir família com um homem e nunca tinha imaginado a possibilidade de se relacionar com uma mulher.
“Paciência, Marina.” Suspirou. Só cabia essa resposta.
Não estava frustrada, muito pelo contrário. Se poucas horas antes o romance parecia impossível, depois da conversa com Clara a fotógrafa foi invadida por um otimismo que gritava: agora é só questão de tempo!
Quando finalmente conseguiu dormir, um sorriso enfeitava seu rosto, refletindo a alegria que só transparece no semblante dos apaixonados.
Autor(a): fanficclarina
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NOTA: Na noite anterior, Marina levou Clara para casa depois de trabalharem até tarde no estúdio. Quando se despediam, Clara deu um selinho na fotógrafa (que ficou pasma) e desceu do carro. Clara passou toda a tarde do dia seguinte evitando Marina. Marina optou por não questionar de pronto o comportamento evasivo de Clara. A princí ...
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