Fanfics Brasil - I Ao caso do acaso

Fanfic: Ao caso do acaso | Tema: Cotidiano, High School Drama, Real Life


Capítulo: I

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O céu estava negro naquela manhã. As nuvens carregadas impediam que os raios de sol dessem um pouco de vida a garota. Suas três malas já estavam no carro, seu tio pacientemente a esperava no portão de casa, sabia que ela precisaria de um tempo para se despedir. Olhou mais uma vez para a porta trancada do quarto de sua mãe. Engoliu em seco.


Escolhera a roupa que sua mãe seria velada, e só. Não comparecera ao velório, muito menos ao enterro. Já havia pegado tudo o que queria levar consigo que pertencera a sua mãe. Seus avós ficariam sozinhos, e ela finalmente sairia dessa cidade infernal, desse país infernal, mesmo que sozinha.


 - Eu já vou, então... Ligo do aeroporto quando chegar.


 - Se cuide, e muito juízo. Eu te amo muito, ta bem?


 - Aham, pode deixar. Também amo vocês.


Deixou que seus avós a abraçassem e logo depois colocou a bolsa no ombro e os óculos de sol no rosto e se dirigiu ao carro. Já tinha se despedido de todas as pessoas importantes, menos uma.


 - Posso fazer mais uma coisa antes de ir?


 - Uhum.


 - Agora são 11:20, me leve ao colégio. Eles saem 11:30, quero falar com alguém lá.


 - Ok.


Sua mãe tivera sete irmãos, dois homens e cinco mulheres. Por que escolher seu tio Alberto para levá-la à capital do estado? Por que ele falava menos. Ela não queria conversar, principalmente depois desta última despedida. Observou que os alunos mais novos do colégio já saiam eufóricos pela sexta-feira. Ele logo sairia também, então ela teria que ser uma ótima atriz, e não tirar os óculos. Já sentia seus olhos umidecendo por baixo das lentes escuras.


Lá estava ele e seus amigos no portão da escola. Poucos sorrisos entre os garotos, o tempo razoavelmente frio não ajudava muito no humor, eles sabiam o que estava acontecendo, não falavam. Saiu do carro e fechou a porta com um tanto de força, não precisaria ir até lá, todos já a tinham visto. Ele também.


 - Vai lá, cara. Eu e o Breno ‘tamo esperando no ponto.


 - Valeu, Vitor.


Cada vez mais seu coração se esfarelava, a cada segundo, a cada passo que ele dava em sua direção. Os olhos profundamente azuis de Marco encaravam o chão, preferindo não fitar o rosto da ex-namorada. As mãos fechadas em punhos pesando nos bolsos da bermuda do colégio impediam que ela visse o quanto ele tremia. Seu corpo estava tão quente, seu sangue fervia.


 - Oi.


 - Hm, oi...


 - Então... eu ‘to indo.


 - É, uhum. Eu sei.


Mordeu seu lábio inferior tentando segurar dentro de si o nó formado em sua garganta. Ele não a olhava, mas ela podia ver suas bochechas extremamente vermelhas e seus olhos cheios de lágrimas. Por que ele tinha que ser tão... Sensível? Liberou o ar pela boca tentando manter a calma, sabia que todos os observavam. Tirou os óculos revelando seus olhos castanhos inundados de remorso.


 - Me abraça? Por favor.


 - Sofia...


Puxou-a pela cintura, encaixando-a entre seus braços como sempre o fazia, apoiando o rosto em seu ombro, afundando-se nos longos cabelos castanhos da menina. O perfume que ela tanto amava o inebriava a cada longa e forçada respiração. Sentiria falta de cada centímetro de sua pequena, e a todo instante isso o consumia.


 - Eu te amo, e não vou esquecer de você. Juro que não, nunca vou.


 - Eu também te amo, Marco. Espero que você encontre alguém que te faça feliz, já te disse isso.


 - E eu espero que você caia na real e volte. Seu lugar é comigo e não fora do país, Sofia.


 - Por favor, nós temos quinze anos! Eu já...


 - Shi...


Dois dedos foram colocados em seus lábios em prol de calá-la. Segurou o rosto dela entre as mãos com cuidado, como segurar uma boneca, e selou seus lábios nos dela. Num beijo simples, calmo, inocente, e cheio de saudade. As lágrimas de ambos desciam descontroladas umidecendo suas bochechas. Um simples beijo lhes doía mais do que mil palavras.


 - Me diz que volta.


 - Não posso.


 - Você não quer.


 - Não mesmo...


 - Eu te amo.


 - Eu também.


Observou os olhos petulantes repletos de lágrimas que agora a encaravam.


 - Sabe, sempre te admirei pelos seus olhos. Não por eles serem azuis como o céu que eu não vejo agora, e sim por terem me proporcionado os momentos mais verdadeiros com você. Não tem noção de como o brilho dos teus olhos e as batidas frenéticas do seu coração me encantaram. Bem, boa sorte... E até mais.


Soltou-se dos braços dele, entrando rapidamente no carro e recolocando os óculos no rosto. Seu tio já havia saído dali, deixando um Marco perplexo na calçada e uma Sofia trêmula enxugando o rosto no banco do carona. A paisagem da estrada familiar corria borrada pelas janelas do carro. Engoliu em seco, de novo. Seu corpo sentia falta de cada centímetro daquele menino. Balançou a cabeça freneticamente de um lado para o outro esperando que tais pensamentos fossem levados junto com as árvores.


***


Não conseguira dormir mais do que pequenos cochilos durante as nove horas de vôo. Com a venda de dois dos imóveis que pertenciam à sua mãe, a conta bancária da garota engordara um bucado, lhe proporcionando um assento de primeira classe. Abriu a janela observando o horário português, 9:45 a.m, o sol já devia estar nascendo.


Fixou seus olhos nas nuvens que encobriam o sol enquanto sentia que o pouso já havia começado. Respirou fundo, umas quatro vezes, não queria em imaginar os olhos carregados de pena e compaixão, aqueles olhos que todos a apresentavam desde o dia em que sua mãe se fora. Falsos e ridículos, é.


O ar quente abafado do saguão do aeroporto a incomodou, da última vez que estivera ali, fazia um frio danado, mas agora Porto passava por um verão quentíssimo, e férias, isso só queria dizer famílias felizes indo pro Algarve pegar um bronze. É, ela provavelmente teria que conviver com isso por uns dias, pelo menos poderia se deitar o dia inteiro no sol.


Pegou as três malas, colocando duas num carrinho e arrastando a terceira. Sua tia já a esperava com Alice grudada em suas pernas, provavelmente seu tio Otávio estava viajando, era sempre assim. Podia ver a felicidade da tia ao ver a menina chegando, seria uma companhia para as duas, seria bom para ela mesma.


 - Hey, acho que finalmente vou virar portuguesa, ham!


 - Ai ai, Sofia... Me dê cá um abraço, sim? Alice, diga olá pra sua prima Sofia.


 - Olá prima Sofia, como estás?


 - Ah minha pequena, sabia que você é linda?


 - Sofia que é linda como as florzinhas vermelhas de minha casa.


Uma lágrima solitária rolou por sua bochecha enquanto observava o rosto da pequena. Abraçou-a com força, dando-lhe um enorme beijo na bochecha e pegando em sua mão para saírem do aeroporto.


 - Então, quando tio Otávio volta de Lisboa?


 - Ele acabou de viajar! Domingo já está a chegar aqui em Porto, então começam nossas férias. Sabe, vamos ficar por aqui desta vez, pra você conhecer tudo de novo, está bem?


 - Por mim tanto faz, só quero conhecer o caminho pro colégio, não quero incomodar...


 - Você não está incomodando. Agora é mais parte ainda da família, se conforme!


 - Sim, Sofia é minha irmãzinha agora, não é?


 - Sim, Alice. E você é minha pequena agora, combinado?


 - Sim, sim! Por que você é muito grande!


A menina de apenas seis anos se tornara seu apoio, aqueles poucos minutos em que Sofia passara no saguão com ela haviam sido suficientes para fazer Alice se encantar completamente por ela. Esperava ser um bom exemplo para a menina, nem que fosse pelas notas da escola ou qualquer coisa do gênero.


Não havia uma única nuvem no céu durante o trajeto de vinte minutos do aeroporto até Matosinhos, onde ela iria residir. Continuou com os olhos pregados na janela do carro, observando cada centímetro da cidade, e percebeu que agora mal lembrava da última vez que estivera em Portugal.


O apartamento em si era extremamente pequeno, mais os dois quartos eram grandes em compensação, e ela tinha um só pra si agora, o que a deixou um pouco constrangida, sua priminha teria que voltar a dormir no quarto dos pais, e ela sabia que era desagradável. O quarto tinha uma beliche branca, um guardarroupas de seis portas em branco e tabaco, uma escrivaninha com um relógio digital, um aparelho de internet e um espaço para seu notebook. E por fim uma estante com uma televisão e vários lugares para espalhar coisas.


 - Sabe tia, Alice pode continuar a dormir aqui.


 - Não, vai te atrapalhar. Alice dorme cedo, as dez ela já está a dormir.


 - Bem, quando ela quiser ou precisar, pode trazê-la.


 - Ta bem, mas então, vamos pro shopping almoçar?


 - Sim, sim. Vamos Alice, Mc Donald’s!


Lá tinha pelo menos uma coisa boa. A Pans. A melhor lanchonete, em sua opinião. O cardápio não tinha mudado muito, mais a qualidade permaneceu. Seus olhos percorriam toda a extensão das mesas em volta, tinha muitos adolescentes ali, seu estômago revirou.


Um grupo que passava por ali chamou a atenção dela, eles eram seis, e riam, e alguns fumavam, ela tinha esquecido o quão comum eram os cigarros. Eram dois meninos e quatro meninas, eles pareciam ser mais velhos, e duas das meninas lindas. Uma delas a incomodou em particular. O cabelo loiro extremamente liso descia-lhe até a cintura, a pele branca e os olhos azuis diziam que com certeza ela não era portuguesa.


Por que a loira a incomodara? Não era pelo fato de ser bonita, e sim pela intimidade que demonstrava com um dos meninos. Moreno, os cabelos castanho-claros, e a cor dos olhos ela ainda não podia identificar, mas o sorriso do garoto era encantador. Ele dividia um sorvete com a loira, todos eles riam despreocupadamente em direção ao cinema. Seu coração apertou-se do tamanho de um amendoim.


A cena só a fazia se lembrar de uma pessoa, de um nome: Marco. Balançou a cabeça frenética e negativamente procurando espantar a imagem do ex-namorado de sua mente. O grupo já havia passado pelo portal do cinema, já não os via mais. Talvez outro dia, na escola... Quem sabe. Mas uma coisa vira com certeza: enquanto terminava sua coca-cola, a loira a fitava dos pés à cabeça.



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Autor(a): Lily

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 9



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  • lucasdelgado22 Postado em 13/06/2014 - 13:53:45

    leitor novo, posta mais :(

  • isabelserra Postado em 17/05/2014 - 16:53:50

    oooou, cade você? quero mais poxinha :(

  • oliviasalzze Postado em 17/04/2014 - 03:13:53

    Ahhh que bom que você está conseguindo acompanhar, Isabel!! Acho que estou escrevendo exclusivamente pra você, olha que importante u.u hahaha Ja ja eu lanço o resto do capitulo, é que deu uma apertadinha na facul :( Mais hoje mesmo já sai mais! Beijos e continue por aqui!!

  • isabelserra Postado em 16/04/2014 - 22:23:59

    Posta maissssssssssssssss. Ah esse Rodolfo >< rs

  • isabelserra Postado em 15/04/2014 - 19:31:10

    continuaaaaa

  • oliviasalzze Postado em 11/04/2014 - 17:50:16

    Olá, bem vinda também!! Tem tanto tempo que não publico minhas coisas que to achando o máximo que vocês tenham aparecido por aqui hahah Olha, desde que você passe aqui de vez enquando pra dizer o que tem achado, já vou ficar muito feliz! Hoje ainda devo postar mais uns dois capitulos. :)

  • isabelserra Postado em 11/04/2014 - 16:43:28

    Uaaal! Leitora nova aqui. Não sou muito de ler, sou mais de escrever, mas adorei! E vou ler u.u Sou um pouco devagar. Mas, prometo que vou tentar acompanhar rs

  • oliviasalzze Postado em 11/04/2014 - 16:34:03

    Ah eu tenho uma leitora *-* Bem vinda! Eu já tinha tudo isso pronto, só precisei revisar pra postar, mas de ontem pra hoje já escrevi uns 3 capítulos. To aproveitando a folga na faculdade pra escrever. Fico feliz que esteja gostando, sério mesmo! hahah

  • man_pc Postado em 11/04/2014 - 16:00:28

    To adorando. Posta mais *-*


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