Fanfic: Ao caso do acaso | Tema: Cotidiano, High School Drama, Real Life

 - Pensativa demais pra quem encara um cartaz que só tem três frases, Sofia.

Guilherme recostou na parede do lado do pedaço de papel que ela estava olhando por, no mínimo, vinte minuos. Procurou se manter afastada de pessoas num geral durante a semana inteira. Enfiou a cara nos livros e na beira da piscina de segunda à sexta, sem intervalo. Provavelmente as únicas pessoas que conversaram com ela durante todos esses dias tinham sido Marisa e Paola, e Hugo durante os intervalos. Ainda assim, lá estava o garoto observando a expressão completamente flutuante de Sofia ainda olhando o papel.

 - É, pois é. Eu não posso fazer academia, até porque odeio, mas preciso fazer algum exercício e pensei que... – Parou de falar repentinamente. Não fazia ideia do que estava falando. Relaxou os ombros um pouco – Ah Guilherme, você dança?

 - Todo mundo faz alguma pirueta artística nesse lugar, vamos lá. Rodolfo comentou comigo que você gosta de forró, confesso que não sei direito como é, mas é dança. Pega a aula 2 do cartaz, você não vai se arrepender, prometo.

 - Por que não, certo? – A segunda frase dizia “Dança de Salão, studio 1 – 14h/16h” – Algo me diz que vou pisar muito no seu pé nas terças e quintas, e a culpa é toda sua, Guilherme.

Era uma distração interessante, além do mais, ela amava bolero. Foram caminhando juntos naquele fim de tarde em direção as mesas da área de lazer, rindo bastante. Por ser mais velho, Guilherme conseguia manter uma conversa normal sem parecer estar dando em cima dela discaradamente. Marisa e Paola diziam que ele tinha uma coisa por Isabelle. Sempre foram amigos, mas parece que ela nunca quis assumir um compromisso “só” com ele, portanto a amizade prevalecia, mais com a chegada de Rodolfo, Isabelle se fixara nele com tanta intensidade que deixou Guilherme fervendo por meses, mais aparentemente tudo tinha se acertado e ele teria voltado a seduzir metade do colégio.

Ele era muito bonito, não podia negar. A barba por fazer era um charme universal masculino que, por sinal, lhe caía muito bem. Também era esperto, não era o tipo de pessoa que gostava de conversas nas entrelinhas, se tinha uma opinião formada a respeito de algo, não pensava duas vezes em ser claro e direto, e ela gostava disso. Muita ladainha impede o fluxo saudável de qualquer troca de ideias, por menor que seja.

As tardes de verão em Évora só terminavam depois das 20h, e Sofia permaneceu sentada com ele até que não se via mais luz do sol em canto algum. Nesse meio tempo acabou se esquecendo do cansaço e de todas as injuações que martelavam sua cabeça.

 - Para de se isolar do mundo, Sofia. A gente percebeu que você escolheu ficar sozinha a semana inteira, isso não é bom. Aproveita, esse fim de...

 - Nossa Figueiredo, a menina mal acaba a primeira semana de aula e você já monopoliza ela pra mais um dos teus charmosos papos?! – Isabelle surgira do completo nada atrás do garoto, dando-lhe um beijo nos cabelos e se dirigindo à Sofia – Ei, miss solidão, chamei o pessoal pra passar o sábado e o domingo em Tenerife, estou sendo educada e te chamando também, não recuse.

 - Ah Isabelle, me desculpe, mais eu não tenho cacife financeiro no momento pra passar o fim de semana em Tenerife...

 - Nenhum de nós tem, Sofia, fique tranquila. O pai da Isabelle é dono de uma rede de resorts, volta e meia ela leva a gente pra um fim de semana em algum lugar diferente, é tranquilo. – Guilherme segurou a mão dela em cima da mesa neste momento, fazendo com que os olhos de Isabelle se estreitassem, e que Sofia retirasse a mão de cima da mesa imediatamente.

 - Vou ter que recusar, infelizmente. Já marquei de conversar com meus amigos do Brasil no domingo, e parece que o pess...

 - Tá, tá, tudo bem, não interessa. Não recuse da próxima. Com licença, queridinhos. – Saiu de perto deles sem olhar pra trás, com os longos cabelos loiros completamente soltos e leves. Era quase uma pintura de maldade rebolando em direção as escadas.

 - Olha Guilherme, eu sei do seu histórico com ela, e foi você mesmo que me disse que ela pode ver uma “ameaça” em mim. Me usar pra provocar não é lá muito legal da sua parte, nem muito inteligente

 - Legal não é, mais inteligente foi, com certeza. Não negue, vai! – Ele se levantou, dando um beijo na testa dela e afagando seus cabelos – Me desculpe, ok? Vê se arranja alguma diversão por esses dias. Te vejo segunda.

Diversão, claro. Mais piscina, mais livros. Tudo que ela mais esperava de uma sexta a noite era sua cama e um livro que não tivesse nem um traço sequer de biologia ou física. Com sorte, Marisa e Paola também passariam os próximos dois dias fora do colégio, deixando o quarto em completa paz para que ela escutasse suas músicas sem fone de ouvido, acordasse meio-dia e pudesse ficar só de calcinha e toper o dia inteiro.

***

 - Por que cargas d’água tu tens que ser assim, Sofia?! Mais parece um urso que só faz hibernar que uma mulher normal, por Deus!

 - Anda, Sofia. Não podes recusar isto também. Vai ser só uma reuniãozinha da turma, não tem só você de novata, temos que conhecer-los todos e isto não é muito fácil caso todos os novatos resolvam excluir-se do mundo feito você, criatura!

 - Cacete, como vocês duas são chatas...

Uma almofada acertou a orelha de Sofia em cheio, fazendo com que ela levantasse a cabeça a procura de qual das duas tinha sido a abusada da vez. Ambas estavam paradas na sua frente, de braços cruzados e a cara amarrada. Será possível?! Duas babás de graça, assim, sem mais nem menos? Revirou os olhos, enfiando novamente a cabeça no travesseiro.

 - Ta, eu vou ficar um pouquinho pra fazer uma media e vou embora, minha cabeça ainda ta digerindo a balada da semana passada. Tem tuntz tuntz no meu ouvido até agora, Paola. Seja mais gentil. – Resmungou.

- Não entendi metade do que estavas balbuciando dentro dos panos, mas levante esse teu traseiro dai! – Paola dera um belo tapa nas costas da menina e saíra correndo pro banheiro, morrendo de rir.

Tinha muito o que agradecer pelas meninas serem suas colegas de quarto. Havia se identificado com elas de primeira, e carinho e intimidade deviam ser construídos sempre dessa maneira, de forma espontânea e abusada. Marisa já estava bagunçando os cabides e as gavetas de seu guardarroupas em busca de algo para Sofia vestir. Como se não bastasse parecer uma topmodel, a menina era apaixonada por moda e morria de agonia com o desleixo da colega no que se tratava do visual.

 - Tome isto aqui, anda. Short jeans, esse cropped de renda, uma rasteira e suas coisas de hippie, pulseiras e cordões, vais ficar linda. Adoro esse teu estilo, já te disse isso, só precisa ter mais vontade de se explorar, Sofia Bermond! Ande logo!

 - Isso não tá muito informal não? Por que comparado com semana passada, acho que teria que ser algo mais arrumadinho...

Marisa ria calmamente enquanto passava rímel em seus lindíssimos cílios. A garota usava um vestido branco, estampado de flores azuis, enquanto Paola usava uma saia jeans e uma blusinha coral.

 - Não estamos indo pra balada, Sofia. A galera lá da sala é mais... Alternativa, digamos assim. Você vai curtir.