Fanfic: Ao caso do acaso | Tema: Cotidiano, High School Drama, Real Life

Era uma espécie de luau sem praia. Todo mundo estava sentado em esteiras na grama, na parte mais isolada dos jardins. Dois freezers estavam à direita com as bebidas, e uma pequena mesinha tinha os copos e umas besteirinhas pra beliscar. Todos riam e conversavam bastante, alguns meninas levaram seus violões, um estava sentado em cima de um cajon e tudos mais. Ela estava impressionada, não imaginava que se sentiria tão em casa assim naquele lugar. Marisa pode perceber a surpresa no rosto da colega, e sorriu disfarçadamente de ver que Sofia estava maravilhada.

 - Eles se reunem assim pra tocar nos fins de semana?

 - Esqueceu que aqui é todo mundo metido a artista, querida? – Paola já estava se encaminhava na direção dos freezers, deixando as duas pra tras – Vou pegar uma Sagres pra você, Sô!

 - Obrigada, Má. Sério, parece que eu to em casa. Que delícia de programa pra sexta a noite, prometo que vou tentar ser mais simpática com as pessoas hoje, ok? – Sofia abraçou Marisa pelo pescoço, dando um beijo estalado em sua bochecha, só pra fazer a boneca passar vergonha.

A maior parte dos alunos novatos na verdade eram alunas, de homens novos na turma a quantia era pequena, apenas quatro. Isabelle levara Tabata e mais duas meninas para Tenerife, uma ruiva sensacional chamada Helena e uma morena baixinha, chamada Luisa. Sofia já havia reparado que, em sala de aula, elas sempre estavam juntas, ao que parece, as outras duas também da grupo de torcida.

 - Brinda aqui, vem! Se não já sabe, dez anos sem... Complicado! – Paola lhe entregou a long neck e elas brindaram, tomando um longo gole da cerveja gelada – Vem, vou apresentar-te pra todos, aproveitar que os enjoados se foram em mais uma das excurssões LeFrevian. – E saiu arrastando Sofia pela mão até onde todos estavam sentados, fazendo a menina corar por completo.

Rafael estava com um violão no colo e o resto dos alunos sentava-se em volta dele e dos amigos, aparentemente eram a fonte musical da noite.

 - Olhem só se não é minha donzela resgatada! Diga a verdade, se eu não tivesse tirado você de lá, estaria dormindo até agora, não é? – Ele ria cada vez mais do rosto corado de Sofia. Era uma brincadeira, ela sabia. Ele tinha prometido que iria zoar com ela.

 - Não sei o que faria sem vossa alteza, meu príncipe bondoso – E ela se inclinou em uma falsa reverencia. Todos morreram de rir.

 - Esta é Sofia Bermond, galera. Brasileira e dorminhoca, como todos já vimos na sala de aula! – Paola entrata na palhçada com Rafael, todos riam muito, inclusive Sofia. Pelos menos tinham bom humor, o que deixava a aproximação muito mais leve. – Alguém aí pega mais cerveja, por favor?!

 Rapidamente abriram um espaço pra ela se sentar entre os outros. Eram pessoas legais, muito mais fácil de se enturmar com elas do que com os amigos de Isabelle na primeira vez em que saíram, e isso não queria dizer que ela não tivesse se divertido com eles, só que era mais confortável estar sentada no chão, bebendo cerveja e rindo bastante, trocando histórias com todo mundo.

Marisa com certeza tinha um talento nato: a voz da amiga era sensacional. Não só a dela, como a de Rafael também. Aos poucos foi entendendo que realmente todos faziam algum tipo de aula artística durante a semana, seja canto, dança, algum instrumento, pintura, design gráfico. A maior parte de sua turma estava dividida entre os instrumentos e o canto, mas nisso ela tinha plena noção que não iria se sentir “parte” do grupo, não levava jeito.

 - Preparamos uma palhaçadinha pra vocês hoje, galera. Meninas, prestem bastante atenção, vocês vão simplismente se derreter com a nossa sensibilidade.

 - Tava demorando, Rafael! Nada supera o dia que você tocou Taylor Swift nesse violão só pra provar que tinha o coração de uma garota de 13 anos pra Beatriz! – A tal Beatriz corou instantaneamente ao ouvir a amiga, Laura, falar isso em voz alta pra todo mundo. É, parecia que eles tiveram um romance de crianças.

 - Querida Bia, me perdoe mais uma vez pela minha paixonite por sua pessoa quando mais pirralho. Porém dona Laura, estou mais sexy nos dias de hoje. – Com isso, em conjunto as milhares de risadas, Sofia quase não acreditou quando ele soltou os primeiros versos.

 - I`ve been drinking, I`ve been drinking, I get filthy when that liquor get into me. I`ve been thinking, I`ve been thinking... – O pior é que ele estava concentrado nos acordes e em encenar aquilo tudo, enquanto todas as garotas começaram a bater palmas e gritar, e óbvio que Sofia era uma delas. Sensacional! - Why can`t I keep my fingers off it, baby? I want you, na na... – Podia jurar que ele estava olhando pra ela pelo canto do olho de vez enquando.

As garotas fizeram um coro recheado de gritinhos para acompanhar o colega. Paola surgira atrás dele numa interpretação muito confiante do que seria um rapper na parte do Jay-Z, fazendo gestos e tudo mais. Quando terminaram a performance, todos estavam aplaudindo e eles estavam de pé, no meio do círculo, fazendo reverências em tom de agradecimento.

 - Pode falar, Laura. Muito mais sexy e majestoso do que Taylor Swift. Toquei o coração de todas vocês.

 - Quem tocou alguma coisa foi a Paola. Deu um belo tapa na minha cara, não sabia que você tinha talento pra rapper! – Saíam lágrimas dos olhos de Sofia de tanto rir, as piadas eram simplismente umas melhores do que as outras. Não se lembrava quando teria sido a última vez que se sentira tão feliz assim entre amigos.

 - Sou mil e uma utilidades, vais ver durante o ano. Na verdade, eu sou mil e vinte talentos, Sofia! Mais vem cá, as outras novatas já fizeram cada uma sua iniciação, já tocaram, já cantaram, já colocamos aquele cara ali pra fazer a dança da galinha, só tá faltando você.

 - Venha já aqui pro meio, senhorita. – Marisa a puxou pelo braço e a colocou sentada no meio do círculo, enquanto os colegas batiam palmas e assobiavam, dando alguns gritinhos.

 - Não, não, não galera. Olha, não dá, vocês não sabem tocar nada brasileiro, certo? E eu também não sei tocar, então, que pena né?!

 - Nossa, que pena pra você então, querida. Vai ter que ser em inglês mesmo. Anda, escolhe algo se não eles vão começar a tocar qualquer coisa e você vai ter que acompanhar! – Paola e Marisa já estavam sentadas entre os gritinhos e os colegas. Ela estava roxa de vergonha da cabeça aos pés, não conseguia pensar em nada útil, nem agradável e nem fácil de sair da sua boca.

 - Am... Ok. Calma. Algum de vocês é chegado em algo mais alternativo, tipo, não sei, The Kooks?

 - Essa vai ter que ser só no violão, colega. Só eu sei tocar, os caras não curtem muito. – disse Rafael – Inclusive, surpreso com a escolha, boa iniciação. Te acompanho no refrão, beleza? João, tenta pegar no aí no cajón!

Se sentou no chão, já não bastava estar no meio de todo mundo, seria extremamente vergonhoso verem que ela estava com as mãos tremendo. Respirou fundo, matou a long neck que tinha nas mãos e fechou os olhos. Já estava um pouquinho alterada, eram quase duas horas da manhã e ela estava bebendo desde as dez da noite. O pessoal batia palmas e gritava coisas do tipo “vai Sofia! Brasil é o poder!”. Ela não conseguia deixar de rir. Estava até um pouquinho tonta, mais só um pouquinho.

Rafael começou a introdução, e do jeito que Marco lhe ensinara, ela começou a contar, procurando a hora de entrar na música.

 - I`m not saying it was your fault although you could’ve done more. Oh, you`re so naive yet so... – Ainda estava de olhos fechados, não queria ver a reação das pessoas. Marco sempre brigava muito com ela por isso. “Olha pra mim quando estiver cantando, Sofia”, ele costumava lhe dizer.

Não pareciam estar rejeitando tanto, acompanhavam com palmas e assobios durante a música. A voz de Rafael em conjunto em alguns momentos deu um toque especial em tudo e, no fim das contas não tinha sido tão ruim assim, afinal, não estavam ali procurando profissionalismo nem querendo aparecer, como era de costume nas rodas de música que sua turma no Brasil costumava fazer. Ao fim, todos aplaudiram bastante e os elogiaram. Formavam uma ótima dupla juntos, e nisso ela tinha concordado.

 - Vamos tocar mais juntos nos próximos, Rafa. Sério, ficou ótimo! Adorei, valeu a ajuda, de novo.

 Estavam sentados, agora uma playlist tocava no amplificador que estava perto do freezer. Umas cinco ou seis pessoas se juntaram um pouco mais afastadas de todos, estavam fumando. O resto da galera estava disperso pela área do jardim conversando, rindo, brincando. Em geral, estavam todos bêbados.

 - Estou salvando sua vida muitas vezes na primeira semana de aula, eu devia estar sendo muito bem recompensado por isso.

  - Você tem noção de que está me cantando com um olho aberto e o outro fechado de tão bêbado que está, não é, Rafael?

  - Já está. – Ele fechou os dois olhos, rindo – Agora reconsidere o que eu disse antes, sim? Recompensa, salvar vidas... Ham?

 Ela ria bastante, a imagem de Rafael era cômica, com os olhos fechados e um sorriso completamente abobalhado. Sofia o puxou pelos ombros e o fez deitar em seu colo, tinha certeza que não duraria dez minutos acordado.

  - Pois eu vou relevar essa sua terrível cantada, e deixar logo muito claro que eu não possuo interesses infâmes para com a sua pessoa, Rafael. E não, nem pense nisso! – Ele fazia umas caretas muito mal feitas, se fingindo de ofendido com o que ela acabara de dizer.

  - Vais me prender aqui, para todo sempre, depois desta clara humilhação, Sofia?! Não podes ser tão má!

  - Você agora é meu par musical, Rafael. Nós somos tipo... Sandy e Junior. Isso mesmo, somos Sandy e Junior, e eu vou cantar uma música deles agora, porque hoje, quem vai dormir na grama é você!

  - Sandy e o que, Sofia? Mais que diabos... – Nem o deixara terminar de falar, e já lhe tampou a boca com as duas mãos e, rabujento, até fechou os olhos de novo.

  Rafael ainda tentou resmungar alguma coisa por debaixo de suas mãos, mais ela simplismente não conseguia entender nada. Sabia que ele iria cair no sono em breve, então começou a cantar bem devagar, de forma que ele pudesse prestar atenção. Sandy e Junior? A essa hora da madrugada, e bêbada? Ela ria tentando se recordar de alguma música em específico, ele não reconheceria nenhuma mesmo. Respirou fundo.

  - Vou começar, hein?! Um, dois, e... “Eu quero ser um lindo sonho pro teu coração, quero fazer da sua vida poesia e canção...”

Como esperado, ele caiu no sono antes mesmo que ela terminasse. Levantou-se devagar para não acordá-lo, e disse a seus colegas para que o levassem para o dormitório mais tarde. O céu estava especialmente estrelado naquela noite, o que a fazia lembrar das duas únicas coisas que seu coração vinha bloqueando nos últimos tempos: Marco e sua mãe. Era difícil... Qualquer rastro de lembrança podia fazê-la desmoronar, então preferia não lembrar.

Tentou passar despercebida entre os colegas a caminho do dormitório, já eram três horas da manhã e além de bêbada, o cansaço começava a tomar conta de sua coluna e de suas pernas, ou seja, era hora de dormir. Marisa estava cantando com um pequeno grupo, e Paola estava... Agarrando o cara do cajón? O tal João? Sim, ela estava agarrando o cara do cajón e muito apaixonada, ao que lhe parecia de longe, então estavam todas duas bem acompanhadas, não notariam que ela tinha ido embora.

 - Eu vou ficar bem, mamãe. E agora já não adianta mais de nada esconder, né? Você já deve ter visto todo o álcool daí de cima. – Rindo pra si mesma, ela entrou no prédio e, cambelando um pouquinho as pernas, chegou ao dormitório e se jogou em cima da cama do jeito que estava. Morta de sono.

(Nota: As músicas utilizadas nesse capítulo são, em ordem: Drunk in Love - Beyonce feat. Jay-Z (cover do Ed Sheeran), Naive - The Kooks, Do fundo do meu coração - Sandy e Junior (Acústico MTV). Caso queiram procurar no youtube pra escutar junto com a leitura, é legal! haha)