Fanfic: Uma Lady Perigosa - AyA (FINALIZADA) | Tema: AyA

—Miss Lavínia Smythe! — anunciou o mordomo.
Ele virou-se, lutando para dominar o nervosismo. Lavínia entrou sorrindo e estendeu-lhe a mão.
—Como vai, John?
Cumprimentou-a, ao mesmo tempo que a examinava. Será que Anahí quebrara a promessa?
—Você está bem? Parece um pouco pálido.
—Asseguro-lhe que estou bem. O que a traz aqui? — perguntou, calmo, percebendo que ela nada sabia.
—Vim convidá-lo para assistir a uma peça de teatro. Alugamos o Hartshorne Theatre e vamos ver As rivais, de Sheridan. Será na próxima terça-feira.
—Infelizmente não vou poder. Tenho que fazer uma pequena viagem. Não sei se já estarei de volta.
—Que pena! Faça um esforço para voltar logo.
—Sim, tentarei.
Nesse momento, ele deixou o passaporte cair aos pés de Lavínia. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, a moça já o tinha pegado.
—John! Este é um passaporte francês!
Ele permaneceu em silêncio.
—O que está fazendo com um passaporte francês?
—Lavínia, por favor! — disse ele, tentando soltar-se das mãos que o seguravam.
Bateram à porta.
—Isso significa que meu cavalo já está aí...
—Não — sussurrou Lavínia.
—Perdoe-me, minha querida, mas preciso partir. Devo deixá-la agora.
Ela deixou as mãos caírem inertes:
—Está partindo para a França! — Sua voz era um fio.
—Lavínia, acalme-se. Será uma viagem curta — disse ele, acariciando-lhe o rosto.
—Onde?
—Sandwich, na costa sul da Inglaterra.
—E depois?
Ele balançou a cabeça com tristeza: — Não se preocupe, minha querida. Logo estarei de volta.
Anahí acabara de levar Lavínia, em prantos, até a carruagem. Voltava para seu quarto quando lorde Herrera apareceu.
—Bom dia, Alfonso — disse ela sorrindo, tentando passar por ele.
Ele a segurou pelo braço:
—Anahí, gostaria de trocar duas palavras com você.
Oh, Deus, o que foi que eu fiz agora?, pensou ela.
—Em um minuto, Alfonso...
Uma vez na biblioteca, Anahí sentou-se em uma das poltronas vinho e cruzou as mãos sobre o colo. Sentiu-se de volta no colégio, pronta para um pito das diretoras.
—O que você aprontou para fazer Lavínia chorar?
—Eu não aprontei nada!
—E por que ela estava chorando?
Anahí abaixou os olhos azuis, suspirando, e fazendo-se de inocente:
—Foi até a casa de John, convidá-lo para ir ao teatro, e descobriu que ele está de partida para a França.
—O quê? — perguntou ele, descontrolado.
Surpreendida pela reação, Anahí levantou-se, mas o jovem lorde apoiou as mãos nos seus ombros, forçando-a a sentar-se, outra vez.
—De partida para a França? — repetiu, incrédulo.
—Numa missão do governo, a pedido do próprio Príncipe Regente.
—E você sabia?
—É claro que sabia!
—E não fez nada para impedir que fosse?
Anahí fechou os olhos e consultou sua consciência. Resolveu dizer o mesmo que tinha dito a Lavínia.
—John estava decidido a ir. Eu não podia impedi-lo. Tudo que podia fazer era dar todo o meu apoio.
—Por que não fui informado?
—Porque não era da sua .conta — respondeu ela, mal-humorada, levantando-se e indo para a porta.
O conde, com três passos largos, bloqueou-lhe o caminho.
—Ainda não terminamos.
—Você, talvez não, mas eu certamente terminei.
—Anahí, poderia ter a bondade de sentar-se e ouvir o que eu tenho a dizer? — pediu ele, com voz controlada.
Ela voltou ao lugar que ocupava. Ele respirou fundo antes de falar:
—Se John realmente for à França, poderá ser morto.
—Sei disso.
—E sua posição, como noiva dele, não será de causar inveja. Precisa desmanchar o noivado, já.
E, agora? O que vou dizer?, pensou ela, aflita.
—Não... não posso. Conversamos antes de ele partir e agora não posso mudar as coisas.
—Claro que pode. Os meus cavalos são mais velozes. É só saber a direção em que partiu e lhe mandaremos uma carta.
—Não.
Lorde Herrera estava muito bravo.
—Conheço John muito bem. Tenho certeza de que ele lhe pediu para desmanchar o noivado.
Anahí tinha ar de culpa.
—Pediu, não foi? E você recusou!
Ela continuou em silêncio.
Pequena idiota! Devia ter desmanchado por causa dele! Ainda é o melhor para todos.
Ela fez cara de freira arrependida na qual miss Foxall e miss Quince jamais teriam acreditado. Sabiam que quem fazia aquela cara era porque tinha algo a esconder, mas o conde não a conhecia tanto assim.
—Está enganado, Alfonso — disse, com a voz emocionada. — Não sabe o que está me pedindo!
E, com ar de heroína trágica, ela se levantou graciosamente e deslizou para fora da biblioteca.
Lorde Herrera abria e fechava as mãos. Do seu ponto de vista, só podia haver uma razão para esse comportamento. "Ela ama John com tal paixão que, se ele morrer, não se casará com mais ninguém!", pensou.
Racionalmente, deveria aplaudir essa decisão. Mas, por que sentia o coração sangrar?

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