Fanfic: Uma Lady Perigosa - AyA (FINALIZADA) | Tema: AyA

CAPITULO XI

O Fortuna levou três dias para chegar à costa francesa. Lady Anahí não tinha sido uma boa marinheira. Passara a maior parte do tempo na cabina, sentindo-se enjoada. Assim, foi com grande alívio que desembarcou naquela madrugada, em uma praia na qual não se via nenhuma patrulha.
O barco continuaria para Cherbourg, ao sul, onde trocaria os casacos, rolos de lã e botas de couro por vinho, conhaque e frutas secas. Esse era um dos grandes escândalos da guerra: as adegas dos membros do governo inglês estavam repletas de bebidas contrabandeadas e o exército de Napoleão lutava dentro de uniformes feitos na Inglaterra.
A jovem lady, depois de um momento de medo, amarrou o saco com suas coisas às costas e começou a andar. Seu pai tinha lhe ensinado a não fazer planos com antecedência, quando não se conheciam todos os dados. Era melhor improvisar, dizia ele, e era isso mesmo que a filha pretendia fazer. Sua primeira tarefa era descobrir um modo de chegar a Paris. Não tinha nenhum mapa, mas conhecia bastante geografia. Em uma viagem que fizera com o pai à França, durante a Paz de Amiens, aprendera o nome das vilas e pequenas cidades que ficavam no caminho de Paris. Aprendera, também, um pouco de topografia da região. Esse conhecimento voltou-lhe à mente, ajudando-a a escolher o caminho.
Estimava chegar a Paris no fim da semana. O único problema era que, por estar vestida de homem, poderia ser confundida com um desertor.
Parecia, mesmo, um jovem e relutante rapaz, em idade de ir para o exército. Em St. Lot, na Normandia, fora presa.
Seu pai sempre tinha lhe recomendado falar a verdade, quando possível.
Abrindo a jaqueta, Anahí mostrara suas formas exuberantes, dizendo, entre lágrimas e soluços:
— Eu sou mulher!
Os cinco policiais haviam ficado sem ação. Ela precisara de dez lenços dê linho para contar a triste história de como partira de casa, contra a vontade de seus pais, para ver o noivo. Finalmente, foi solta.
A essa altura, vestia-se de mulher, graças à cortesia da esposa do prefeito. Tinha documentos, graças à cortesia do prefeito, muito melhores que os falsificados que adquirira em Londres. Os documentos diziam que era natural dos Países Baixos e que tinha nascido em Amsterdã.
Havia recebido um pito da mulher do prefeito e um sermão do prefeito. Pagara uma multa de cinquenta francos.
Graças a Deus, o resto do dinheiro não estava comigo, pensou ela, enquanto caminhava. Nem minhas pistolas. Se estivessem, teriam pensado que era uma espia inglesa.
Por sorte, Anahí escondera suas coisas no buraco de um tronco de árvore, antes de entrar em St. Lot para comprar comida. Assim, o que atraíra a atenção das pessoas tinha sido sua idade, mas ninguém desconfiara que ela viera do outro lado do Canal.
É verdade que seu cabelo loiro, os olhos azuis, os gestos e o sotaque revelavam o fato de ser estrangeira. Mas nem o prefeito nem sua esposa conheciam o sotaque britânico e haviam concluído que era holandesa. Anahí não discutira.
Começou a sentir que teria sucesso em seu empreendimento e continuou a caminhar em direção a Paris.
A sorte estava do seu lado e ela chegou à capital francesa sem maiores incidentes. Logo encontrou um lugar para se hospedar, perto da Fonte do Elefante, uma grotesca estrutura de madeira que marcava o lugar onde tinha sido a Bastilha.
Depois da Revolução Francesa e das guerras que se seguiram, uma mulher sozinha não causava surpresa, pois mais de um milhão de franceses tinham morrido. Outros estavam ainda servindo o exército e uma outra parte, incluindo o conde d`Artois e o general Bernadotte, tinham emigrado.
Toda a economia passara para as mãos das mulheres: as esposas, filhas, irmãs e namoradas, que esperavam a volta de seus homens, e das incontáveis viúvas que não esperavam por ninguém.
As mulheres cuidavam da manufatura de tecidos até a produção de champanhe. Não havia como ficar em casa, pois tinham de trabalhar e ganhar o mesmo dinheiro que os homens ganharam.
Assim, o dono da hospedaria achou que Anahí era só mais uma mu¬lher em busca de emprego. E ela fez de tudo para manter essa impressão. Candidatou-se a vários empregos porque, assim, tinha desculpa para sair e poder descobrir onde lorde Druce estava preso.