Fanfic: Despedida de Solteira - AyA | Tema: Ponny- Hot
– Jéssica, você é doida! – berrei ao telefone.
Era sábado e eu estava trancafiada no Tribunal, morrendo por uma praia enquanto a Jess me matava de inveja por estar tomando sol de frente à piscina, na cobertura do seu prédio. Podia ser até na varanda ou no meio da rua, eu só precisava daquele sol brilhante queimando a minha pele e de uma dose de caipirinha.
Mas não... Só ficava olhando para as imensas janelas e sonhando acordada. Pelo menos naquele dia sairia mais cedo, pena que não o bastante para aproveitar as horas de sol.
– Fiquei morrendo de medo que a Anahí me odiasse depois dessa... Mas ela nem ligou, acredita? – disse Jéssica. Parecia incrivelmente séria, acho que enfim alguma coisa conseguiu fazê-la refletir sobre as merdas que fazia.
– Se fosse comigo não ia funcionar, Jéssica. Que vacilo! Ela e o Velasco passaram nove anos juntos, daí você aparece do nada e dorme com o cara!
A louca ficou calada pela primeira vez na vida. Nunca vi Jéssica perder a fala, principalmente estando ao telefone, por isso fiquei preocupada até demais. Não tem jeito, é um mecanismo que só funciona com as suas amigas; a preocupação surge mesmo quando estamos zangadas com elas.
– Jess? – chamei com a voz bem mais amena, só para conferir se ainda estava na linha. Ouvi um longo suspiro.
– Eu vou mudar, Fabiana – disse baixinho, a voz carregada de algo similar a tristeza. O problema é que a Jéssica nunca diz nada baixinho, mesmo quando é um segredo de estado ou quando tece comentários sobre um carinha que está sendo paquerado em conjunto. Ela não é discreta ou introspectiva. Também sei muito bem que jamais se arrepende ou se envergonha do que faz.
Claro que fiquei ainda mais preocupada. Até larguei na mesa algumas papeladas de processos que estava revirando.
– Como assim mudar?
– Mudar. Cansei, falo sério. Estou indo longe demais... Arrisquei uma grande amizade fazendo o que fiz. Não quero perder as minhas amigas, que são tudo o que tenho de melhor na minha vida.
– Ah... Acho bom, Jess. Reveja algumas atitudes e se modifique... Olha, eu te amo muito, amiga, mas se fosse comigo ia ficar puta com você e talvez não quisesse te ver pintada de ouro tão cedo. Sou chata, sabe disso – peguei os papéis novamente, louca para atirá-los pela janela. – Anahí não liga porque está vivendo uma fase de contos de fadas, mas pra mim que ainda sou uma gata borralheira... Ia ser muito tenso.
– Por falar nisso, ela já fez o exame?
– Não... Está enrolando porque não quer criar expectativas, mas hoje ela mal conseguiu se levantar da cama de tão enjoada. Claro que está grávida.
– Alfonso já sabe disso?
– Nem sei, ela me ligou hoje dizendo que estava só em casa e precisava de ajuda. Como não pude sair daqui, ela deve ter ligado para as meninas.
– Poxa, e nem me ligou...
– Ah, Jéssica, dá um tempinho pra coitada digerir essa história.
– É, deixa quieto.
Meu telefone começou a apitar, de modo que precisei tirá-lo do ouvido para visualizar a tela.
Cláudia estava me ligando. Meu Deus, todas as minhas amigas resolveram me ligar e eu trancafiada naquele Tribunal. Devíamos estar todas na praia, isso sim. Super topava uma reunião extra com elas.
Podia até sugerir um encontro à noite, mas... eu já tinha um encontro naquela noite.
– Jéssica, depois a gente se fala, Claudinha está me ligando.
– Ok, beijos...
– Beijos, se cuide!
Desliguei rapidamente e atendi à Claudinha. Larguei os malditos papéis pela milésima vez.
Juro que amo o que faço, porém há dias em que o que mais quero é sair correndo e gritando. Aquele era um desses.
– Fabi, você não sabe da maior! – Cláudia gritou, deixando-me surda de um ouvido. Logo em seguida, escutei a sua risada maníaca de novo. Até me arrepiei, admito. Fazia muito tempo que não ouvia a risada da minha amiga.
– Não me diga que ganhou na loteria! – Gargalhei também, contagiada pela sua animação.
– Bem melhor! Acabei de acordar e adivinha quem estava ao meu lado na cama?
– Se foi alguém que usa cuecas juro que vou ter um infarto!
– Ele usa cuecas... Se bem que, neste momento, não está usando nada! – a doida riu de novo, provocando-me uma quase crise de riso.
Demorei a me acalmar e perguntar:
– Foi o Renato?
– Que Renato, Fabi, se liga! Você tem direito a mais um chute! Vamos lá... Pense bem!
– Ai, meu Deus... – refleti um pouco, e depois uma lâmpada mágica acendeu na minha cabeça como nos gibis. – Ai, não, não, não acredito! Henrique?
– Acertou!
Quase amassei todos os papéis de uma só vez. Precisei me levantar e ir até a janela para tomar um ar. Meu coração acelerou tanto que parecia que fui eu quem tinha dormido com o cara.
– Mentira! – só depois de ter gritado foi que me lembrei de que não devia estar gritando.
Diminuí o volume da minha voz. – E aí, como foi? Conte-me tudo!
– Estamos namorando!
– AAAH! – acabei gritando de novo. Dei até alguns pulinhos, parecia uma louca. – Devo estar sonhando, Claudinha! Não acredito!
– É sério. Então, preciso contar tudo a vocês. Reunião extra hoje, que tal?
– Acho ótimo... – por um momento havia me esquecido de que tinha compromisso, mas logo tratei de lembrar. – Eita! Não vai dar hoje!
– Ah, por quê?
– Hum... – fiquei em dúvidas se contava ou não, entretanto sabia que não podia ficar me escondendo. – Edu.
– Explicado! Quero só ver no que essa história vai dar, Fabiana. Já te falei que você está fazendo papel de consolo... Quase uma boneca inflável.
– Credo, não exagera. Além do mais, ele que é o meu consolo. Quase um vibrador elétrico, só que muuuuuuito mais gostoso.
– Você é tão desapegada! Deus me livre!
– Sexo é sexo, queridinha! Sei que o Edu não quer nada além disso, não vou ficar me martirizando, certo?
– Pelo menos ele não te cobra nada. Isso é um avanço e tanto, não?
Permaneci muda por alguns instantes. A frase da Cláudia me atingiu em cheio, acredito que nunca tinha me sentindo tão mal com relação a minha atual situação. Ninguém sabia, mas eu estava mantendo um garoto de programa. Todas as minhas amigas pensavam que aqueles encontros eram casuais, mas... a verdade é que eu estava pagando pelo Edu, e não era barato.
Pensei em largá-lo muitas vezes, porém não consegui. Gostava da sua companhia, nosso sexo era maravilhoso e eu não estava com tempo para arranjar um namorado. Não queria um homem me enchendo o saco, ligando na hora do expediente e me perguntando quantos puns eu tinha soltado durante o dia. Gosto de liberdade e de independência. Gosto de ser livre.
Ok, também gosto do Edu. De um jeito especial.
Mas ele é um garoto de programa e jamais deixará de ser. Sei que é duro ficar alimentando uma paixão ridícula, isso não se faz. Só que é mais forte do que eu... Quando menos espero já estou ligando e marcando um horário. Ele sempre está disponível para mim, chegou até a desmarcar com outra cliente para ficar comigo. Tá, sei que estou tentando me contentar com migalhas.
Enfim... Minha vida amorosa é uma bosta.
– Pois é... – murmurei. Minha consciência apitava, reclamando que eu devia desmarcar com o Edu para ficar com as minhas amigas. Era o correto a ser feito.
– Acho que ele está acordando, preciso desligar. Beijo, amiga!
– De onde você está falando?
– Do banheiro! – Gargalhou, mas não a acompanhei. – Vou lá!
– Tá... Bom proveito – desliguei sem me dar o trabalho de fazer o certo.
De novo me comportei como uma estúpida. Precisava me livrar do Edu, e rápido. As coisas não podiam ficar daquele jeito. Só porque eu tinha dinheiro suficiente para pagá-lo não significava que devia manter a situação. É humilhante demais! Poxa vida, sou muito mais do que isso. Posso encontrar um cara bacana e viver uma espécie de relacionamento aberto, sei lá. Quero liberdade, mas pagar por ela é o mesmo que me enjaular.
Sendo bem sincera: não me sinto livre. O poder de parar com a palhaçada era totalmente meu, contudo estava me tornando uma escrava do desejo que sentia.
Cheguei a digitar o telefone dele – que eu sabia de cor –, e até esperei chamar algumas vezes antes de desligar e desistir. Ele me retornou quase na mesma hora. Sua voz de homem malicioso – e que sabe fazer tudo do bom e do melhor na cama – fez meu corpo vibrar. Aconteceu o inevitável: enrolei e, de novo, não consegui desmarcar. Ele ainda fez questão de soltar inúmeras insinuações, dizendo que estava com saudade, que não via a hora de me pegar de jeito... Disse até que me faria gozar até eu implorar para que parasse. Meu corpo ficou absolutamente entregue em apenas uma ligação, imagina ao vivo?
Devo acrescentar que cada segundo de sexo com o Edu valia cada centavo que eu pagava?
Nunca tive tantos orgasmos quanto nos últimos dois anos. As melhores transas da minha vida aconteciam com ele. Neste meio tempo tentei me relacionar com outros homens, mas nenhum conseguiu chegar perto da "qualidade" do Edu. Havia me transformado numa mulher exigente, e nenhum cara parecia atender às minhas exigências além dele.
Ainda estou tentando me justificar. Sei bem disso. Tenho plena consciência, sou inteligente o bastante para tal. Era o Edu quem me transformava numa verdadeira burralda. Até poderia rever a minha liberdade se ele decidisse ficar só comigo. Tá bom, admito: já revi mais de mil vezes e, se fosse para ficar com ele, queria dar adeus à minha liberdade sem culpa. É estranho descobrir que você só mudaria por alguém que jamais fará o mesmo por você.
O dia passou enquanto eu tentava me distrair como podia. Minha cabeça ficou aérea depois da ligação da Cláudia – suas palavras haviam me deixado reflexiva. Não que eu nunca tivesse refletido sobre isso, mas alguma coisa dentro de mim se cansou de fingir que tudo estava bem.
Anoiteceu e acabei me esquecendo da vida; saí do trabalho duas horas mais tarde do que devia sair. Perder a noção do tempo é uma meleca, ainda mais quando se tinha apenas duas horinhas para estar toda depilada, com a unha feita e o cabelo apresentável. Agora não tinha sequer dez minutos.
Liguei para o Edu, avisando-lhe que iria me atrasar. Pedi para que demorasse mais um pouco, entretanto ele já estava me esperando na frente da minha casa. Tinha estranhado o fato das luzes estarem desligadas e de ninguém ter aparecido depois que apertou a campainha algumas vezes.
Pensei em desmarcar. Ficou só no pensamento mesmo.
Assim que cheguei, abri a garagem com a chave eletrônica. Ele sabia que havia espaço para dois carros e que o seu era sempre bem-vindo, por isso acabou entrando e estacionando seu veículo ao lado do meu. Tentei parecer tranquila como em todos os nossos encontros. Ultimamente ficava cada vez mais difícil de me controlar; meu coração palpitava pra cacete e as minhas mãos tremiam de pavor. Claro que aquela porcaria tinha fim quando o Edu me beijava e me colocava na cama, mas a expectativa do reencontro – do momento exato em que seus olhos azuis cruzavam com os meus – era cruel. Uma pancada dentro de mim.
Saí do carro e fui caminhando igual a uma demente até a entrada. Tentava adiar ao máximo o momento da troca de olhares. Bem que ele podia fazer todo o serviço sem olhar para a minha cara.
Impossível, eu sei. Edu fazia questão de transar olhando bem para mim, como se quisesse me invadir de todas as formas. E conseguia.
Retirei as chaves da minha bolsa, consciente de que ele estava bem atrás de mim. Suas mãos apertaram a minha cintura com força, mesmo assim não me virei. Tentei girar a droga da chave na maçaneta, levando muito mais tempo do que o normal, pois o Edu decidiu que seria ótimo começar a distribuir beijos quentes no meu pescoço. Seu corpo grudou nas minhas costas. Era grande, másculo e me provocava o tempo todo.
Abri a porta e entrei bem depressa, escapando de suas investidas. Edu não me deixou escapar, ainda segurando o meu corpo – e a minha vida inteira, por sinal – fez com que eu girasse. Não queria vê-lo, por isso fechei os olhos e fiquei sem saber o que fazer. Acho que acabou nem percebendo a confusão das minhas atitudes; imprensou o meu corpo em uma parede e me beijou boca sem pestanejar.
É... Ele é bom nisso. Ótimo.
Por um momento achei que nada poderia fazer além de beijá-lo. Demorou muito até que percebi estar no comando: as ordens sempre foram minhas. Assim como a minha vida, a minha alma e o meu corpo, incluindo o coração. Eu tinha o poder de fazer parar na hora que quisesse. Se aquilo estava me incomodando – não tanto, claro, com o Edu me beijando nada incomodava, mas você entendeu o que quis dizer –, nada mais lógico do que fazer parar.
Desviei a minha boca e, sem querer, acabei o observando. As luzes estavam todas apagadas, por isso ele não passava de um vulto. Graças a Deus! Não precisaria encarar seus olhos enquanto pedia para que se retirasse da minha casa – e do meu mundo todo. Tomei fôlego e me afastei totalmente.
– Eduardo, me descul...
– Eduardo? Lá vem bronca – sua voz estava misturando desejo e divertimento. Meus nervos congelaram depois que a escutei. Precisava ser tão difícil assim, meu Deus?
– O quê? – murmurei idiotamente.
– Você só me chama de Eduardo quando precisa desmarcar comigo ou quando se atrasa muito... Ou quando não gosta de alguma coisa que fiz.
Ele estava certo. Era algo natural chamá-lo de Eduardo quando precisava falar sobre um assunto mais sério. Edu era uma pessoa divertida ao extremo, seu jeito às vezes me deixava em dúvidas se estava brincando ou não. Quando o chamava daquele modo ele se transformava, e então eu encontrava a certeza da qual estivesse precisando.
– Primeira opção... – sussurrei de um jeito quase inaudível. Tentei não me arrepender do que faria antes mesmo de fazer.
Edu se locomoveu no escuro e encontrou o interruptor. A ampla sala se fez presente. A minha casa era grande e tinha tudo o que sempre quis ter; parecia uma casinha de bonecas. Eu merecia cada móvel, cada artigo decorativo, pois batalhei muito para estar na confortável situação financeira em que me encontrava.
Fiquei olhando para os meus sofás maravilhosos. Depois observei a porta de vidro que dava para a piscina. Havia esquecido as cortinas abertas de novo. Sentia que Edu estava me encarando sem nada falar, porém não seria idiota o bastante para encará-lo de volta. Ignorei o aperto que quase fazia meu estômago virar pó e decidi acabar logo com aquilo. Tinha de ser rápido e preciso.
– Quero que vá embora – menti muito feio.
Senti-o se aproximar. Fechei os olhos na mesma hora.
– O que houve, Fabi? Algum problema?
Sim, Edu, tenho um problema chamado... olha só, que coincidência: Edu!
– Nenhum – sou uma péssima atriz. Meus lábios até tremeram quando a palavra passou pela minha boca. Sabia que precisava continuar o raciocínio para fazê-lo entender, mas ele sempre foi muito afobado; fez seu corpo imprensar o meu na parede de novo. Continuei de olhos fechados.
– Então relaxa, gatinha – disse baixinho, começando a beijar o meu pescoço. Suas mãos apertaram a minha cintura e foram descendo até o meu traseiro. Aquele corpo másculo se juntou ao meu tão rápido que acabei perdendo o meu juízo e, principalmente, a minha coragem.
– Preciso de um banho... – foi o que a imbecil aqui conseguiu dizer.
E todo aquele papo de manter o controle? Cadê o infeliz? Bem que tentei procurá-lo, mas era difícil com o Edu beijando o meu colo. Seu cheiro marcante com certeza tinha ocupado o lugar dele, expulsando-o para longe.
– Vou te dar um... – ele sussurrou de um jeito animalesco, avançando no meu vestido. Conseguiu tirá-lo por cima dos meus braços, deixando-me exposta. Nada pude fazer além de me concentrar em tirar a sua roupa também.
Escrava do desejo.
A minha autodefinição me fez parar. Dei vários passos para trás – trajando apenas calcinha, sutiã e sapato de saltos – e abri os olhos. Edu já estava sem camisa e tinha o zíper da calça jeans bem aberto. Não deu para evitar dar uma olhada naquele pedaço de mal caminho; a cueca branca aparecendo, mostrando sua excitação, o abdome definido e os pelos espetaculares que compunham seu peitoral, fazendo-o mais homem impossível. Os braços largos completavam a sua "saradice", e claro que morri de vontade de pegá-los. Sabia que eram firmes.
Como se ser gostoso fosse pouco, observei seu rosto perfeito, másculo, com contornos maduros. Os cabelos loiros estavam meio espetados para cima. Cada detalhe foi vislumbrando por essa coitadinha aqui, mas nada conseguiu ser mais impactante do que seus olhos azuis me observando com desejo e sacanagem. Safado até dizer basta.
Que droga, eu estava tão na dele!
Dei alguns passos para trás, tentando evitar pular em cima do dito-cujo. Fiquei o encarando debilmente, como um animal indefeso que desiste de fugir do seu pior predador.
Olhos azuis mudaram de expressão assim que perceberam minha anormalidade.
– O que aconteceu, Fabiana? Você está muito estranha.
Balancei a cabeça, negando. Estava prestes a me atirar naquela boca. Só o movimento que fez ao falar me deixava à beira de um orgasmo.
Sem saídas, corri feito uma louca e abri a porta da varanda. Um vento frio fez meu corpo congelar, mas continuei correndo. Olhei para trás e vi que o Edu também tinha saído. Ok, eu estava fugindo de um cara dentro da minha própria casa como se ele fosse um bandido.
Sentindo-me idiota demais, decidi jogar longe os meus sapatos e pular na piscina. Assim eu pareceria menos louca no ponto de vista dele. Pelo menos faria sentido: corri para tomar banho.
Pronto. Justificada. Ótima decisão.
Certo, pensei que era ótima até que senti a água congelante quase penetrar o meu corpo. Soltei um grito assim que emergi. Edu começou a rir de mim. Depois de dar uma olhada, reparei que ele se curvava para retirar os sapatos.
– Se eu fosse você não viria! – gritei quase desesperada.
– Não perco este banho com você por nada, Fabiana.
– Edu... Não, por favor.
Ele se ergueu e começou a arrancar a própria calça. Estava perdida.
– Quero que vá embora! – fechei os olhos e berrei. – Por favor, por favor, por favor!
Ouvi um barulho de mergulho.
Fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu, fodeu...
Fodeu de vez quando senti o Edu me puxando para si. Ele mesmo abriu as minhas pernas e se encaixou entre elas, apoiando o meu corpo no seu. Permaneci com os olhos fechados e com aquele desespero enraizado na alma.
– Por que está me evitando? – ele perguntou com os lábios quase nos meus. Foi então que percebi que estava nu. Uma coisa que eu conhecia muito bem estava cutucando a minha calcinha.
Pedi para morrer.
– Não posso mais... – choraminguei. – Não posso, Edu. Por favor.
Ele não desgrudou de mim, mas pelo menos parou de me apalpar. Um ótimo avanço.
– O que você não pode? Não estou te entendendo...
– Não posso mais manter isso.
O idiota finalmente me largou. Aleluia! Pena que não consegui senti-lo se afastando; puxei-o de volta e o abracei. Comecei a chorar. Muito bonito para minha cara, né não?
– Conta pra mim o que está acontecendo... – ele disse suavemente, alisando meus cabelos molhados. – Posso te ajudar. Faço o possível, prometo.
– Queria que pudesse me ajudar, mas não pode! Não podemos mais nos ver, Edu.
– Fabiana... Se estiver com algum problema financeiro, eu...
– Não! Não é isso!
Ai, que revoltante! E humilhante também. Por que eu não podia me comportar como uma pessoa normal? Era só dispensá-lo e pronto. Ele estava apenas trabalhando – nossa relação sempre foi meramente profissional –, não podia me obrigar a nada. Eu que o obrigava a ficar na minha companhia.
A ideia me fez chorar ainda mais alto. Desesperador. Desconcertante. Por que, durante todo esse tempo, não tinha percebido que estava errando tão feio?
Será que mantinha a esperança de que o Edu mudasse por mim? Ele jamais iria mudar.
Conheço-o muito bem, pois nós também conversamos bastante. Éramos amigos, mesmo que os negócios acontecessem à parte.
– Não vou saber o que tem de errado se não me contar... Fabiana... – ele passou a mão no meu rosto. – Olha pra mim.
Abri os olhos e morri por dentro. Não há nada mais encantador do que a visão daquele homem com água escorrendo dos cabelos assanhados.
Engoli o choro e busquei coragem.
– Não quero mais os seus serviços, Edu. Por favor, vá embora. Agora.
– Mas...
– Estou mandando! – gritei, soltando-me depressa.
Ele me olhou com uma expressão super confusa. Nunca a tinha visto.
– Só me diga o porquê – ele endureceu a voz e se afastou um pouco mais. – Por favor, Fabiana. Por todo esse tempo que passamos... Só me diga o que fiz de errado.
– Você foi perfeito, Eduardo. Você é... completamente perfeito.
Ele sorriu um sorriso de vaidade. Típico dele. O estranho foi ter parado de sorrir tão depressa. – Você está namorando, Fabiana? É por isso?
– Não... Não é isso – arrependi-me na velocidade da luz de ter dito isso. Deveria ter mentido, assim o cara sairia logo dali.
Edu passou a língua pelos lábios e depois os prendeu. Parecia reflexivo. Não disse mais nada, apenas ficou me encarando. Continuei querendo morrer.
– Vá embora...
– Ainda não me deu um motivo.
Eu precisava ser mais firme. Decisiva. Estava quase conseguindo. Tinha parado até de chorar.
– Tem um envelope na mesa da sala de jantar. Pegue-o e vá embora.
– Tá bom, mas preciso do motivo.
– Não preciso e nem quero te dar um. Estou pagando caro para que saia daqui sem motivo.
Acho que exagerei. Devo tê-lo magoado, pois a cara que fez foi quase sofrida. Nunca vi o Edu tão desconcertado.
– Quando ficou assim, tão irritada comigo? O que eu te fiz, Fabiana?
Meu Deus, o que estava faltando para ele ir de uma vez? Só era necessário mais um piscar de olhos para que a minha coragem fosse embora e eu pulasse no pescoço dele. Estava frio ali, que raiva!
– Deixou que eu me apaixonasse por você! – gritei a pleno pulmões. – Satisfeito? Está satisfeito agora, Eduardo? VÁ EMBORA!
Virei as costas e fui saindo da piscina. Não escutei movimento na água, por isso presumi que o Edu havia paralisado. Subi alguns degraus e senti um frio absurdo quando saí. Minha pele se arrepiou de tanto frio, mas continuei caminhando decididamente na direção da porta de vidro.
– O que você quer, Fabiana? – Edu perguntou bem alto.
– Já disse, que vá embora! – fiz a besteira de olhar para trás. Ele ainda estava na piscina.
– O que você quer de verdade?
Estaquei. Edu começava a sair da piscina, parecendo um príncipe árabe saindo de um banho em seu harém. Uma coisa que me fez perder o fôlego.
– Quero mais do que isso – respondi, apontando para o seu corpo escultural e nu. – Quero mais, Eduardo. Você não pode me dar isso.
Ele balançou a cabeça, concordando comigo.
– Certo.
– Foi bom estar com você, mas preciso de um homem, não de um garoto de programa. Quis apenas me divertir contigo e passamos momentos muito bons... Não me arrependo de ter te mantido, só que minhas expectativas mudaram e você não acompanhou essa mudança.
– Fabiana... Eu não sou o Alfonso ou o Fernando...
Aquelas palavras doeram em mim. Não devia ter dito aquilo. Foi seu maior erro, pois aquela droga que fazia meu coração bater por ele começou a se transformar em raiva. Ódio e amor são realmente sentimentos muito próximos um do outro.
– Não. Não é. Jamais será.
Ele resfolegou e fez uma careta de nojo que eu detestei. Ridículo.
– Você acha que eu não tenho sentimento algum, não é? Acha que pode me ofender o quanto quiser.
– Pelo amor de Deus, vista-se e vá embora.
– Certo. Tudo bem.
Edu pegou a cueca, a calça e começou a se vestir. Fiquei apenas o observando, despedindo-me internamente. Estava me sentindo arrasada, porém um certo alívio me ajudava a continuar de pé. Foi difícil, mas me livrei daquela escravidão. Estava livre.
Agora sim, totalmente livre.
Edu segurou os sapatos e se aproximou. Parou bem na minha frente. Precisava resistir uma última vez. Só mais uma...
– Pegue o seu dinheiro – falei, mas a minha voz vacilou. Merda!
– Enfie o dinheiro no seu... Não quero essa porra – rosnou com raiva e passou por mim, atravessando a sala a passos largos.
Sua grosseria me deixou assustada, mas bem que mereci. Havia sido uma estúpida mesmo.
Como ele disse, estava agindo como se a única que possuísse sentimentos fosse eu.
Ele parou para pegar a camisa no chão da sala. Abriu a porta e finalmente olhou na minha direção. Tentei não chorar. Juro que tentei, mas aquele homem lindo demorou demais a partir.
– O que você quer, Eduardo? – questionei.
– Pensei que não se importasse com o que quero. Não me deixou falar nada, nem concluí o meu raciocínio, e foi logo me dando patadas. De verdade, o que eu quero não te importa e nem te interessa.
– Não é verdade. Pode não me interessar, mas eu me importo.
– Sabe o que eu queria, Fabiana? De verdade? Queria mais do que isso... Queria ser mais do que sou. E só você me faz entender a cada encontro que sou um filho da puta desprezível... Mesmo assim, não consigo deixar de viver assim. Não sei para onde ir, não conheço rumo algum para seguir além do que segui a minha vida inteira. Sou um perdido, um fodido, entendeu bem?
Devo ter começado a chorar no meio daquele desabafo. Ou foi logo no início? Nem sei dizer, só sei que precisei me apoiar no sofá para conseguir ouvir tudo.
– Você não é isso... Não, não é.
– Não sei em que espécie de ilusão você vive, Fabi, mas o que você sente não é por mim. Não há nada aqui que valha a pena.
– O cara que me faz rir... Que me faz bem, que me deixa louca, que me protege de um jeito que nunca consegui explicar... Que sabe o que gosto, que conversa comigo como nenhum outro... Esse cara não vale a pena? Se não valesse eu nem faria questão de pagar por ele.
– Se valesse ele não estaria cobrando para amar a pessoa que ama.
Meu queixo simplesmente caiu. Precisei sentar no sofá, mesmo estando molhada. Edu ainda estava rente à porta. Olhava-me com pesar e tristeza. Ergui uma mão, chamando-o para mim. Estava incapaz de falar qualquer coisa. Nenhuma palavra se formava na minha cabeça.
Edu olhou para todos os lados antes de se aproximar. Acho que pensou se devia fazê-lo, porém acabou ouvindo a voz que gritava entre nós dois. Conseguia ouvi-la perfeitamente, ela implorava para que déssemos uma chance um para o outro.
Assim que se aproximou, puxei sua mão com força. Seu corpo se deixou levar pelo meu toque, por isso ele praticamente caiu sentado no sofá. Em menos de um segundo, meu corpo já estava sentado sobre o seu. Olhei bem para os seus olhos. O modo como me olhava era diferente. Enfim pude ver algo mais neles, como se a máscara que o Edu usava comigo finalmente tivesse ido ao chão.
– É verdade? – murmurei.
Ele aquiesceu.
– Mesmo?
– Eu te amo há muito tempo, Fabiana. Que droga... Merda, não queria te fazer sofrer, mas não pude me... Não sabia o que fazer... Não sei o que fazer...
– Seja o meu mais, Edu. Por favor... Eu te ajudo em todo o restante, apenas seja só meu.
– Eu quero isso, mas não mereço você. Estou sendo sincero. Não mereço nada, não sei gostar de alguém.
O coitado parecia mesmo perdido, mas eu não me importava. O sentimento existia. O mais difícil aconteceu. O resto era fichinha.
– Amanhã a gente resolve as coisas que você não sabe fazer. Agora eu só quero que faça o que sabe fazer muito bem.
Ele entortou a boca num meio sorriso engraçado. Depois ficou sério.
– Não quero te machucar. Não me deixa te magoar, Fabiana...
– Fique tranquilo... Seja só meu e relaxe. Certo?
Sinceramente, depois de toda aquela confusão mental, só conseguia ouvir sinos tocando e pássaros sobrevoando. Estava tão tranquila que nem me dei o trabalho de pensar em todos os problemas que enfrentaríamos. Dane-se. Metade das minhas amigas passou por eles, experiência haveria de sobra.
– Por mim, está mais do que certo – disse, e me beijou como se fosse a primeira vez. Fizemos amor a noite inteira como se fosse a primeira vez. E, pela primeira vez, senti que estava viva de verdade.
Autor(a): Nana
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O que estou fazendo aqui? Uma pergunta ótima para ser feita, visto que não tinha nada para falar com ela. Não algo que precisava ser dito em particular. Não em um bar que ela costumava frequentar para se embebedar até ficar mais oportunista do que já é. Eu não preciso desse tipo de coisa. Não mesmo. Minha vida e ...
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Comentários da Fanfic 374
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queren_fortunato Postado em 08/05/2016 - 09:02:26
Não me canso de ler essa fanfic, é a melhor de todas,e esse final que PERFEITO <3
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jessAyA Postado em 20/02/2016 - 18:57:57
Melhor fanfic que já li na minha vida. Obrigada Nana.
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anniepuente Postado em 26/10/2014 - 02:16:59
Acho que vou... Chorei! Puts, estive sumida e ainda to no capitulo "1 ano, 3 meses e 3 dias depois... -Por Jéssica", mais tinha que comentar pra não pensar que se livrou de mim kkk, mds, casamento perfeito... <3
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franmarmentini Postado em 22/10/2014 - 10:23:35
to chorrando aki pq acabou...e agora como vou ficar sem ler essa fic* que eu amooooooooooooooooooooooooo tanto....amei amei amei amei simplesmente tudo tudooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo SAUDADES!!!!!!!!
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franmarmentini Postado em 22/10/2014 - 10:09:16
O.o
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debaya Postado em 22/10/2014 - 06:39:46
Own q final mais lindoooooo!!!!! Me enrolei, atrasei, mas tinha q comentar o ultimo cap. Perfeeeeeeeito ser uma garotinha de lindos olhos verdes como o do papai babão lindo!!!! Meu sonho baby ponny na vida real...Vou sentir mta falta dessa web, sou xonada nela...nos vemos na sua Mila...bjus Ah! Nana...foi maravilhosa
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franmarmentini Postado em 20/10/2014 - 14:49:02
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk poncho tá pior que a any ta mais ansioso que ela kkkkkkkkkk isso fazem mais um baby :)
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franmarmentini Postado em 20/10/2014 - 14:40:16
:)
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debaya Postado em 17/10/2014 - 02:21:49
Tô boba aqui imaginando Any com barrigão esperando baby ponny e Poncho todo babão cuidando....ai que sonhooooo!!!!! Tomara q seja a menininha q ele tanto quer...rs Mila, tô lendo a sua fic e já tô na parte q ela espia ele no banho...safadany kkkkk já já vou poder comentar Posta mais
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franmarmentini Postado em 16/10/2014 - 10:22:15
ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii poncho é um fofo e any ta taradona kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk bem que podia ser gemeos assim tem um menino e menina kkkkkkkkkkkkkk