Fanfic: Despedida de Solteira. Ver. Alfonso | Tema: Ponny - Hot
Nem me lembro direito de como cheguei à minha casa. Só sei que, quando menos percebi, estava sentado em uma das
cadeiras da minha varanda, com um copo de whisky em uma mão e o bilhete da Anahí em outra.
Paula Fernandes cantava no som da cozinha – que estava no último volume, permitindo que eu pudesse ouvir super bem.
O sistema acústico daquele prédio era muito
bom; os vizinhos de cima e de baixo não escutariam nada além de um pequeno zumbido, desde que as portas de suas
varandas permanecessem fechadas.
As músicas românticas são mesmo engraçadas; quando não se sabe o que é paixão, elas nada significam além de um
conjunto harmonioso de letra e melodia.
Quando se está apaixonado, as letras se
transformam, desenham situações, afloram
lembranças, falam coisas que o coração deseja ouvir. Entretanto, quando se está
magoado, as músicas românticas atingem o
ápice do sentido. Elas passam a significar
tanto que se torna quase impossível ouvi-las, mas o coração berra por elas como se fosse
uma necessidade, como se, no fundo, ele
quisesse sentir aquela dor só para mostrar a si mesmo que pode sentir alguma coisa.
Minhas lágrimas haviam secado em
algum momento desconhecido. Eu era
apenas parte de algum artigo decorativo,
compunha aquela casa como se fosse um objeto inanimado.
O misto entre a desilusão
e a falta de esperança permitiu que uma tristeza sólida se enraizasse dentro de mim.
A dor era tão constante que achei que podia
sentir falta dela caso fosse embora.
Reli o bilhete inúmeras vezes. Tentava
entender, buscava um sentido para aquilo. A
frieza da Anahí chegava a me congelar, e
não era porque eu estava apenas de cueca,
sentindo a brisa fria da noite assanhar meus
cabelos. Era um frio interno, que me transformava em pedra.
"Se for menos, fique com o troco. Se
for mais, gostaria de que me ligasse para
que eu possa fazer outro cheque."
Por um momento me vi pegando o
meu celular, que estava em cima de uma
pequena mesinha de apoio feita de palha escurecida, e ligando para ela.
O que eu
diria? Ah, claro, algo do tipo: "sinto muito,
Anahí, mas seu cheque é insuficiente,
creio que você precisa fazer outro." Qual seria a sua reação?
Ri de mim mesmo.
Posso ser cruel às vezes. Não sabia dizer o que era pior:
pedir mais dinheiro pelo amor que fizemos ou
o fato de ela ter chegado a pensar que podia valer menos de quatro mil.
"Fique com o troco".
Sim, realmente havia ficado com o
troco. Aquela decepção tinha que valer alguma coisa, talvez eu até a vendesse.
Colocaria numa prateleira junto com o meu amor.
E então venderia minha amizade,
meu carinho, minha educação, respeito...
Venderia tudo até que nada sobrasse.
Quem quer comprar o meu caráter?
Custa só dez reais. Minhas habilidades com a massoterapia custa cinquenta, a pirofagia
custa vinte. Meu braço direito estou
vendendo por mil, meus olhos custam um pouquinho mais, ok? Minha dignidade deve
valer míseros cinquenta centavos.
Então eu
coloco meu sêmen num saquinho e vendo
dois por cinco. Se comprarem meu sorriso, posso até dar minhas boas lembranças no pacote.
Já sei até o que faria com o dinheiro; compraria outra BMW. Se bem que, juntando tudo, talvez não desse para
comprar sequer um fusquinha.
Hunft.
Cansado de pensar em tanta baboseira, desliguei o som, guardei o bilhete junto com o cheque e decidi tentar dormir.
Na verdade eu meio que me dopei; peguei
dois calmantes que, misturados com o álcool, surtiram efeito de um quase desmaio.
Acordei às três da tarde. A cabeça
girava, meu corpo doía em pontos que eu mal sabia que pudessem doer. Parecia que
tinha levado uma surra violenta. Passei horas ainda na cama, revirando para lá e para cá, abraçado ao travesseiro que ainda guardava
o cheiro dela. Não havia mais lágrimas, só o torpor, o choque. Às vezes minha
consciência tentava pegar uma vassoura a fim de recolher os cacos, mas ela acabava
se complicando e derrubando tudo no chão outra vez.
Queria parar de existir. Foi por isso
que, assim que busquei coragem para me levantar da cama, procurei mais calmantes e os tomei junto com uma garrafa long neck de cerveja que havia sobrado na geladeira.
Não demorou muito para fazer efeito. Voltei para cama e desmaiei novamente, acordando apenas quando já era noite.
Havia muitas ligações no meu celular.
Não me lembrava de ter desmarcado as
clientes do dia, portanto realmente acabei dando bolo em cada uma delas.
Sim plesm ente ignorei, até mesmo as chamadas da Júlia. Não queria falar com ninguém, mas sabia que ela estava muito
preocupada. Resolvi mandar apenas uma
SMS, avisando-lhe que estava vivo.
O restante da noite de sexta-feira foi resumida em apenas uma palavra: espera.
Só me restava aguardar pelo dia seguinte.
Meu corpo permaneceu em stand by, como se nenhuma emoção me fosse possível
sentir. A única coisa produtiva que fiz foi organizar uma boa máquina fotográfica para
tirar os malditos retratos sensuais da
Anahí. Ia usar a câmera com a qual havia
a fotografado quando esteve no meu apartamento, mas desisti. Teria que descarregar os arquivos no computador e eu
não estava preparado para aquilo. Vê-la não
iria me fazer bem.
Passei a noite em claro; joguei
videogame, escutei música, sequei o resto da garrafa de whisky. Vi o dia amanhecer e anunciar o casamento dela, da mulher a
quem entreguei a melhor parte de mim. Saber que Anahí iria se casar, e que não
era eu quem estaria a esperando no
altar, causava-me desespero.
O tempo estava contra mim, e sentia
que até eu não estava me ajudando.
Era como se concordasse com o tempo, como se jogássemos no mesmo time. Foi com
este pensamento que resolvi não deixar a autocrítica me vencer. Ou, pelo menos, me abalar. Precisava estar apresentável.
Com uma pequena olhada no espelho,
cheguei à conclusão de que havia me reduzido a um projeto grotesco de homem mal cuidado. Sendo assim, comecei a
investir na minha aparência e bem-estar.
Preparei um almoço saudável e caprichado –
sinceramente não me lembrava de ter comido alguma coisa depois do x-tudo com a Ju, embora não acredite que tenha passado mais de vinte e quatro horas sem comer –,
não ousei colocar uma gota sequer de álcool na minha boca e tomei um banho quente muito relaxante. Depilei minhas partes
íntimas – nem me pergunte por que ou para quê –, fiz a barba e cortei as unhas das mãos e dos pés. Simplesmente cuidei de
mim, sabendo que era o único que podia fazê-lo.
Com muita calma e paciência,
reorganizei a máquina que iria levar. Escolhi
minhas roupas a dedo: uma calça escura, sapatos pretos e camisa preta. Sim, eu estava de luto, mas não deixava de ser um luto com estilo. Um chapéu também preto
de abas curtas fazia do visual algo mais espontâneo.
Saí de casa às quatro e vinte da tarde,
sentindo-me um pouco melhor fisicamente, porém os nervos estavam à flor da pele.
Buscava deixar minha respiração regular, bem como as batidas do meu coração, mas um nó agudo fazia meu estômago arder.
Dirigi com cuidado até o endereço do hotel cinco estrelas – luxuosíssimo – que Anahí
havia deixado no bilhete logo após ter acabado com a minha raça.
Meu nome já estava devidamente anotado como visitante no sistema do hotel.
A recepcionista, muito educadamente, informou-me a numeração do quarto em que eu era aguardado e solicitou a um funcionário que me acompanhasse até lá. Subimos alguns andares no elevador. A esta altura, o
meu corpo inteiro tremia mais do que uma motosserra. Soltava longos suspiros a fim de amenizar a ansiedade, mas sabia que de nada iria adiantar.
Por fim, chegamos ao quarto número
nove. No mesmo momento, uma bela senhora saía de lá. Ela aparentava ter uns cinquenta e tantos anos, estava com um
penteado elegante e a maquiagem já feita.
Reconheci-a quase de imediato; a mulher
tinha grandes olhos azuis, além do queixo e o formato da boca similares ao da Anahí. Só podia ser a mãe dela.
– Senhora, este cavalheiro está sendo
aguardado pela Srta. Anahí Puente– o
funcionário que havia me acompanhado se adiantou.
– Oh... – Ela olhou para mim com curiosidade e um pouco de confusão, como se buscasse algum reconhecimento.
A expressão que fez chegou a me divertir; era muito parecida com o semblante preocupado que Anahí fazia quando estava refletindo.
– Sou o Alfonso – falei, sorrindo torto. – Anahí combinou comigo para tirarmos umas fotos...
– Ah, sim! Vou avisá-la de que chegou, aguarde só um momento aqui, pois as madrinhas estão se vestindo lá dentro.
– Sem problemas. – Dei de ombros.
O funcionário se despediu com uma reverência curta, enquanto a mãe da Anahí retornava para o quarto. Apenas
fiquei aguardando no amplo corredor, observando a tapeçaria impecável e alguns quadros enigmáticos que compunham a
decoração do ambiente. Era realmente um
belíssimo lugar.
Um minuto depois, a mãe da Anahí voltou com um belo sorriso
estampado no rosto. Parecia estar muito contente. Pudera, sua filha ia se casar.
– Ela já está vindo, vamos aguardar no quarto ao lado!
Fui guiado até o quarto de número dez. Era um espaço amplo e muito bem decorado, bem como todo o restante do
hotel. Não contive um assobio.
– É um belo quarto – murmurei.
– Sim, gosto muito daqui. Perdoeme,
nem me apresentei. Sou Marichelo, mãe da
Anahí. – Ergueu uma mão como forma de cumprimento.
– Encantado. – E estava mesmo.
No impulso, puxei sua mão erguida e beijei. Ela pareceu ter gostado daquele gesto cavalheiresco, pois sorriu de um jeito
bastante tímido.
– Você é muito gentil.
Naquele exato momento, ouvi a voz
mais linda do planeta Terra, capaz de tirar o meu foco em questão de segundos.
Congelei só de saber que ela estava ali.
– Mamãe... Pode ir agora. Pretendo
tirar essas fotos a sós com o Alfonso, para que
saiam mais espontâneas.
Não a olhei de imediato. Na verdade acho que inspirei todo o ar que foi possível e prendi a respiração, tentando encontrar
coragem para enfrentá-la.
– Sim, sem problemas... – Vi Dona Marichelo responder, o mesmo sorriso encantador estampado em sua face.
– Não deixe as meninas entrarem – Anahí completou.
Finalmente a encarei, compreendendo que jamais estaria preparado o bastante para vê-la. O que vi foi uma Anahí
extremamente séria, com o rosto rígido.
Nunca a tinha visto daquela forma, era uma expressão nova para mim.
– Certo, filha, fique tranquila.
A mãe dela saiu pela porta da frente, e então percebi que existia uma passagem entre os dois quartos. Anahí certamente
havia a utilizado para entrar ali tão imperceptivelmente.
Continuei a encarando com seriedade forçada, percebendo que ela estava evitando olhar para mim. Anahí mirou o chão, seu
rosto corando um pouco. Meu Deus... Como eu amava aquela mulher. Estava tão linda! Trajava um roupão branco de aparência macia, porém o que mais me chamou
atenção foi o imenso véu que saía de uma pequena tiara – adornando um penteado elaborado – e inundava o chão como uma onda branca e vasta.
Seu rosto estava divinamente maquiado. Os olhos grandes estavam mais destacados do que de costume, envolto em
tons perolados muito bonitos. Um batom corde- rosa pálido desenhava seus lábios de um modo perfeito. Foi impossível não querer beijá-los. Aliás, era impraticável não desejar aquela mulher para sempre. Por um segundo, o meu maior desejo foi ser o cara que a esperaria no altar.
Meu maxilar se enrijeceu. A lembrança do cheque me perturbou, e então a única coisa que consegui sentir foi raiva. Raiva dela. Raiva de mim. Raiva de tudo.
Como se quisesse me perturbar mais
do que já fazia, Anahí finalmente decidiu me olhar. E então seus dois lagos claros já me prendiam e me chamavam como ímãs, deixando toda a raiva se esvair como se fosse estupidez da minha parte senti-la. A atração era tanta que chegava a ser dolorida.
Percebi que aquilo tudo ia ser mais
difícil do que eu podia imaginar ou calcular.
Autor(a): Nana
Este autor(a) escreve mais 10 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
Ainda estava estarrecido diante daquela mulher, como se fosse um menininho perdido. O misto de emoções que eu sentia havia se transformado numa onda de choque, de modo que me vi plantado diante dela, sem ousar mover um músculo sequer. – Oi, Alfonso – ela murmurou, mas algo em sua voz soou estranho demais. Muito, muito estranho. Aquilo de c ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo
Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 77
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
brunaponny Postado em 20/05/2014 - 13:27:52
acabou? voce sumiu :(
-
pradonaty Postado em 09/05/2014 - 04:15:35
Aiiiiiiiiiiii que lindooo, amei, adorei, me emocioneiii, confesso q me emocionei mais cm versão, sofri junto cm o poncho..ansiosa para a parte 3
-
franmarmentini Postado em 08/05/2014 - 13:27:34
tive que ler de novo :) de tão feliz que eu to kkkkkkkkkk
-
dessita Postado em 08/05/2014 - 13:08:59
aaai... que lindo o final... Posta logo a proxina Nana... Aguardando anciosamente
-
franmarmentini Postado em 08/05/2014 - 07:24:18
foi muito emocionante :)
-
franmarmentini Postado em 08/05/2014 - 07:02:49
*-*
-
edlacamila Postado em 07/05/2014 - 23:46:29
Ate q fimmmmmmm ponchito feliz
-
acarol Postado em 07/05/2014 - 02:49:22
Aaain Naninha que triste! To sem palavras, chorei, li outra vez, mas fiquei sem palavras! Continua!
-
micheleponny Postado em 06/05/2014 - 18:03:43
chorei amiga :( poxa to muito trise coitado..ponchinho amor vem pra mim que nao te faço sofrer asim nao :(,mas ainda tenho esperança que nao casa,nao casa e pronto to com o coração na mão espero de vdd q ela nao case bj posta logo
-
edlacamila Postado em 06/05/2014 - 00:26:04
Ain gnt ele sofre dms por ela poxa :/ .. Poncho esquece ela e fica cmg U.u kkkkk