Fanfic: Made In The USA (DulcexDemi) - Finalizada | Tema: Dulce Maria, Demi Lovato

DulcePOV

Eu costumava usar blusas com manga e jaquetas para esconder as marcas de agulhas em meus braços. E eram muitas. Meu vício durou uns seis meses, antes que me jogaram em uma clínica de reabilitação contra minha vontade. Foi só quando eu estava lá que percebi a merda que eu tinha transformado a minha vida.

Eu estava decepcionada comigo mesma, eu cedi a um vício que eu sempre prometi nunca chegar perto. Não depois da morte do meu primo, que deixou toda a família desolada. Não depois que eu vi minha tia chorando incontrolavelmente sobre o caixão dele, enquanto meu tio estava sentado na cadeira sendo socorrido por seus irmãos, que tentavam acalmá-lo. Eu tinha apenas 10 anos, mas tudo aquilo me afetou muito, e eu prometi para minha mãe quando chegamos em casa que nunca a faria passar por aquilo.

Eu falhei com ela e comigo mesmo. E, honestamente, eu nem sabia como eu tinha começado. Acho que usei maconha em uma festa, logo comecei a usar toda semana e passou para todo dia quando eu estava sozinha em casa à noite. Depois passou para ecstasy, que me deixava acordada e disposta para toda a rotina corrida de gravações e shows. Então eu usei cocaína em outra festa. E foi então que eu comecei com a heroína. Eu me viciei na sensação de não ter que me preocupar com nada. Não ter que me preocupar com o que minha família diria se descobrissem minha sexualidade. Não ter que me preocupar com minha falta de sono. Não ter que me preocupar com minha vida corrida.

E era ótimo. Até que eu quase morri. Eu havia misturado heroína e cocaína um dia. E depois disso não me lembro de mais nada. Eu acordei no hospital e foi isso. Christian havia me encontrado quase morta no chão depois de ter me ligado a noite inteira e eu não ter respondido. Eu implorei para que ele não contasse para meus pais. Ou para ninguém. Durante dois meses, apenas ele sabia, mas então nosso produtor ficou sabendo depois de procurar meus documentos na minha mala de viagem. Ele contou para nosso agente, que falou que eu deveria contar para todos. Era melhor eu contar do que eles descobrirem da pior forma, como aconteceu com Christian. Eu estava tão irritada por Pedro ter mexido na minha mala que me recusei a contar qualquer coisa. Eles resolveram o problema. Seguraram todos um dia depois do ensaio, e contaram. A primeira coisa que fiz foi correr para casa e usar todo o meu estoque de heroína, então sair e comprar mais, porque eu nunca tive tanta raiva na vida.

Eu ainda achava que não tinha um vício, que eu podia parar a hora que eu quisesse, que eu tinha o controle. Mas quando todos souberam, ficavam me olhando o tempo inteiro, se perguntando se eu estava chapada ou não. Eu nunca usei drogas antes do trabalho, eu sempre usei depois, pois não queria correr o risco de alguém perceber ou de acabar fazendo alguma besteira. Mas quando os olhares começaram, começaram também os usos matutinos. Foi então que Pedro decidiu ligar para meus pais e contar. Dizer que eles estavam chateados era um eufemismo. E no dia seguinte minha casa foi invadida por dois homens, que me apagaram. Eu fui acordar no centro de reabilitação.

O sentimento de morte que você sente na desintoxicação é horrível. Eu implorei que me matassem várias vezes, implorei que eu morresse várias vezes e tentei me matar várias vezes. Infelizmente, eles estavam todos preparados para isso. Por isso, não havia nenhum objeto cortante, nenhuma corda, nenhuma quina, nada. Era apenas uma sala pequena, toda branca e sem nada dentro. E eu fiquei nela até que meu organismo se desintoxicasse. E foi o pior sentimento que já senti.

Fiquei seis meses na clínica. Falando com psicólogos, frequentando grupos de apoio, tomando remédios, obedecendo todas as ordens e sem receber nenhuma visita. E só pude sair quando o médico responsável teve certeza que eu estava pronta para voltar ao mundo real e enfrentar minha tentação sozinha. Ele me disse que eu teria um lugar lá a qualquer momento que eu precisasse e que os psicólogos sempre estariam disponíveis caso eu precisasse conversar.

Quando eu saí, percebi que havia desperdiçado um ano da minha vida para tentar me matar. Quando eu entrei na clínica, uma tournée da banda fora adiada, então quando eu saí, minha vida dura recomeçou de imediato. E foi muito difícil no começo. Eu quase não aguentava toda a pressão e muito menos a esforço, mas consegui entrar no ritmo não muito tempo depois. Ninguém ficou sabendo o motivo para a tournée ser adiada. Não demos explicações, simplesmente adiamos. Então haviam diversos rumores, mas nenhum chegava perto da verdade.

Para não cair na tentação de buscar a sensação da droga de novo, eu comecei a procurar coisas para me distrair e afastar meu pensamento dela. É por isso que hoje eu não consigo ficar muito tempo sem fazer nada. Já faz três anos que eu estou limpa, mas a tentação ainda aparece às vezes.

Geralmente, quando a vontade bate, eu ligo para algum amigo ou para minha mãe e fico falando sobre coisas banais, como, por exemplo, o clima. Outras vezes eu pego meu carro e dirijo durante horas, até eu esquecer completamente a droga. Mas eu nunca faço nada que me deixe mais perto de conseguir a sensação que meu corpo procura. Não vou à festas, não ligo a TV (praticamente tudo o que ela passa tem alguma droga no meio ou os programas são tão chatos que me fazem pensar na droga, o que não torna as coisas mais fáceis), não fico perdida em pensamentos (eles sempre remetem à ela em algum ponto). Por isso ligo para alguém, para me distrair. Ou dirijo durante horas, porque isso me faz pensar em todas as regras de transito e me deixa concentrada em não bater ou me deixar longe de qualquer lugar potencialmente perigoso.

Já não sinto essa vontade a algum tempo agora. Faz alguns meses que não preciso sair dirigindo sem rumo no meio da noite ou acordar alguém apenas para me distrair. No começo era muito difícil. Eu costumava ficar a noite inteira acordada com alguém no telefone para não me deixar pensar nela. Meus amigos costumavam se revezar. Cada um me ligava um dia ou ia para a minha casa. Assim todos poderiam dormir pelo menos 6 dias por semana e eu não ficaria sozinha.

Foi só depois de quase dois anos que eu tive coragem de comparecer à outra festa ou em uma boate, por medo de voltar aqueles dias onde eu ia nelas apenas para me drogar. E eu tive que levar Christian e Poncho comigo, pois não tinha confiança que eu fosse conseguir sair de lá sem cometer um deslize. Por fim, tudo correu bem. Durante a noite inteira, eu não pensei em procurar nenhuma droga. E no dia seguinte todos decidiram comemoram minha pequena vitória.

Eu deixei de esconder as marcas apenas alguns meses atrás, desde que eu percebi que já fazia um tempo que eu não pensava em usar nada. Ninguém percebeu até agora, elas são pequenas afinal e eu costumava injetar onde já havia outras marcas, então eu não tinha que explicá-las ou ouvir as pessoas fazendo teorias sobre isso.

Eu poderia fazer uma tatuagem para esconder, escrever algo legal ou fazer um desenho incrível, mas eu ainda não havia decidido se seria uma boa ideia ou não. E eu queria ficar longe de qualquer tipo de agulha por enquanto.

E, naquela noite, minha mente simplesmente não podia pensar em qualquer tipo de droga e onde encontrá-la, porque a única coisa que ela podia pensar era em Demi Lovato, e seu sorriso, e seu riso, e seu rosto, e sua voz.