Fanfic: Made In The USA (DulcexDemi) - Finalizada | Tema: Dulce Maria, Demi Lovato

DulcePOV

Eu estava falando sério quando disse que não pretendia ligar para ela, mas acho que ela percebeu que eu não tinha o objetivo de fazer o que ela pediu. A primeira coisa que eu vi na manhã seguinte foi uma mensagem de texto de Demi.

“Bom dia. Um novo dia traz novas oportunidades, certo? Bom vôo.”

Respondi com algo do tipo. “Bom dia. Espero que traga mesmo. Obrigada, se eu não morrer de ataque cardíaco, te aviso quando chegar. Acho que esqueci de falar ontem, mas Dani foi incrível.”

A resposta veio uns dez minutos depois, quando eu estava esperando meu café ficar pronto e tirava um pedaço de queijo da geladeira.

“Pense em coisas felizes lá em cima, evite pensar que está a milhares de metros do chão e que a queda seria desastrosa... Sério, não pense nisso.” Tive que rir disso, só para não chorar, eu já tinha muito trabalho em não pensar nisso, ela não precisava me lembrar. Outra mensagem chegou logo depois. “Dani, han?”

Pouco antes de entrar no avião, enquanto eu andava de um lado para outro tentando pensar em Christian usando uma calcinha fio-dental e dançando Oppa Gangnam Style, outra mensagem chegou e eu quase dei um suspiro de alívio para a distração.

“Sério, não pense na altura. Se for necessário, você tem permissão para me imaginar dançando pole dance pelada, mas não espalhe por aí, a permissão é só pra você ;)”

Cristo em um monociclo. Isso foi uma excelente imagem mental. Tão excelente que eu não conseguia pensar em mais nada durante todo o vôo e, pela primeira vez, quando eu desci não estava tremendo e quase me jogando no chão para abraçar a graça de estar nele em segurança. Honestamente, a imagem mental era muito melhor que imaginar meu avião caindo em uma ilha remota, onde eu teria que viver comendo animais crus e tendo meu único amigo como uma bola durante anos.

Quando cheguei, depois de passar na lanchonete e entrar no carro, mandei uma mensagem de resposta. “E isso realmente ajudou muito. Aliás, o que é esse negócio de altura que você falou aí? Mal consigo me lembrar do meu nome.”

Sua resposta foi outra carinha piscando e eu sorri, ignorando o olhar curioso do meu agente. Claro que ele não iria ignorar isso, ele parece ser incapaz de fazer isso. “Quem é?”

Dei de ombros, aproveitando para puxar minha jaqueta até os pulsos e esconder a nova marca novamente. Eu tinha ficado encarando ela por quase uma hora hoje de manhã. “Nada importante.”

“Eu já te disse que se você estiver vendo alguém você tem que me contar. E se a imprensa descobrir antes que eu? Como eu vou conseguir te defender daí?”

“Eu não preciso que outras pessoas me defendam, obrigado. Além disso, minha vida pessoal não é da conta de ninguém. E eu não estou vendo ninguém.”

Ele suspirou. “Só queria que você não dificultasse meu trabalho.”

“Eu já disse que não estou vendo ninguém, ok. Era minha irmã.” Menti. É uma pena que ele é meu agente desde meus dez anos, seria mais fácil demiti-lo se tivesse acabado de contratá-lo, mas agora ele era um amigo da família, que ótimo. “Se concentre apenas na minha agenda. Qual é meu primeiro compromisso?”

Eu não ouvi uma palavra do que ele falou e ele sabia disso, por isso me ligava duas horas antes de qualquer compromisso. Ele se preocupava muito com meus namoros. Nunca declarei publicamente que sou gay, mas também nunca neguei, por isso os rumores existem. Eu não me importo com eles e eu já teria falado a muito tempo, se não fosse meu agente panaca, dizendo que eu jamais conseguiria um trabalho se fizesse isso. Claro, porque estamos nos anos 50 de novo. Sei que ouviria muito por causa disso, mas não me importo, honestamente. Não sei qual a dificuldade dele em simplesmente me deixar admitir o que todo mundo já suspeita.

Foi assim com Anahi e Maite. Todo mundo dizia que eu tinha alguma coisa com Maite, mas durou pouco tempo, porque todo mundo acha que ela é santinha, então descartaram essa chance em pouco tempo. Depois foi Anahi. Dizendo que nós nos odiávamos, que mal podíamos olhar na cara uma da outra, então começaram a dizer que era amor reprimido, depois foi que estávamos namorando. Não que eu tivesse reclamando. Namorar uma das duas, mesmo que hipoteticamente, era uma ideia muito boa, mas eu nem podia brincar sobre isso ou meu agente daria um ataque.

Seja como for, já ignorei muitas coisas que ele disse, como, por exemplo: Pare de agir como boa samaritana e atrasar sua agenda para dar autógrafos no meio da rua; Você não vai comprar sorvete para eles; É melhor você não puxar ninguém para o palco com você, sabe o trabalho que dá pra tirar depois?; Não, você não vai levar esse mendigo para almoçar.

Quem se importa com o que ele diz, afinal? No final, todas as minhas ideias deram mais certo do que as dele. Por isso planejei muitas vezes declarar minha sexualidade, mas ele era um pé no saco e eu mal podia respirar durante uma entrevista, porque ele ficava me olhando de um canto e censurando todas minhas respostas como se eu tivesse três anos.

Bom, de qualquer forma, cumpri com meus compromissos do dia, o tempo inteiro trocando mensagens banais com Demi. De noite decidi ir jantar fora, apesar de mal conseguir sair na rua do hotel sem me perder, mas era só achar um táxi e tudo ficaria bem. Achei um restaurante qualquer e comi sem prestar atenção ao meu redor, apenas no meu celular. Cheguei a quase engasgar quando comecei a rir de uma mensagem dela. Depois decidi andar na rua um pouco, conhecer o local, rezando para passar despercebida. A maioria das lojas estava fechada, mas havia um pequeno centro comercial de música aberto. Havia loja de instrumentos, loja de CDs, loja de coisas de bandas e cantores, e toda coisa do tipo. Decidi me aventurar lá dentro.

Comecei pela loja de discos, onde encontrei meus dois CDs ao lado dos DVDs do RBD. Fiquei feliz. Apesar de já ter passado e cada um estar em um canto, é graças ao grupo e à eles que sou reconhecida hoje, portanto, é uma parte que eu não quero esquecer, e nem quero que esqueçam. Me sinto honrada em ser associada ao grupo ainda, mesmo depois de tanto tempo. Achei CDs de Anahi, Christian e Maite e comprei todos. Acabei comprando os DVDs do RBD também, mesmo já tendo todos, e ainda achei o DVD do RBD La Familia. Não sei por que, mas comprei todos os CDs da Demi também, apesar de já tê-los (o que posso dizer, sou fã). Depois de pagar por tudo – e deixar o vendedor muito feliz com todas as compras, fui para a loja de instrumentos.

Eu já tinha um piano em cada uma das minhas casas, cinco violões, três guitarras e mais alguns instrumentos aleatórios que eu comprava em viagens, mas não pude me conter quando achei uma guitarra eagle stratocaster perfeita. Christopher tentou me ensinar a tocar bateria alguns anos atrás e eu aprendi algumas coisas, mas tive que desistir das aulas quando começamos a última tournée, e, apesar de ainda querer aprender, estou sem tempo de novo.

Meu agente provavelmente me mataria por ter que carregar mais um instrumento na viagem, mas que se foda ele.

Acabei entrando na loja de camisetas depois, onde encontrei duas novas camisetas dos Beatles que eu não tinha. Honestamente, eu não sei quem faz essas coisas, mas eu não estou reclamando. Enquanto eu estava comprando, estava distraída, então, não havia do reclamar, além de estar aumentando minha coleção absurda.

Lembro-me de ter assistido um episódio de Glee, quando eu não estava muito ocupada tentando cumprir minha agenda lotada, onde eles cantam Born This Way. Eu simplesmente adorei o número e o que ele diz. É uma pena que Santana não tenha dançado, porque sua camiseta com certeza era minha favorita. Para quem não entendeu, vou dar uma breve explicação. Durante Born This Way, da Lady Gaga, cada um dos integrantes do Glee Club usa uma camiseta com um “defeito” seu. Na verdade, está escrito algo que outras pessoas falam para eles. Por exemplo: quatro olhos, nariz, acima do peso, idiota, e coisas assim. Santana Lopez estava prestes a finalmente sair do armário com sua camiseta de Lebanese (uma piadinha com lésbica, se não ficou claro o suficiente). Foi uma pena que ela não dançou.

Bom, o fato de estar contando isso é que eu achei uma camiseta de cada integrante na loja – na seção só deles, impressionante, não? E não sei que espírito me possuiu naquele momento, mas eu comprei duas camisetas. Uma do Lebanese e outra escrito “Like Girls”. E apesar de estar recebendo um olhar estranho do cara no balcão, eu não me importei.

Com a mão carregada de sacolas e uma guitarra nas costas, voltei para o hotel, onde ignorei meu agente gritando atrás de mim e entrei no meu quarto, colocando minhas compras noturnas em um canto. Era quase meia noite, iria cuidar de arrumar as coisas depois. Tomei banho e me joguei na cama. Estava quase adormecendo quando meu telefone tocou.

“Eu realmente tenho que subir ao terceiro andar de um prédio agora para chegar a um restaurante duvidoso. Pelo elevador.”

Demorei um bom minuto para entender o que ela queria dizer com aquilo, mas, quando fiz, comecei a rir muito. “Você tem medo de elevador? Sério?”

“São perigosos, ok! E se eles despencarem? E se eu ficar trancada lá dentro?”

“Você é claustrofóbica?”

“Só em elevadores.”

“Bom, acho que já que você tão bondosamente me ajudou, terei que te ajudar também. Pense em algo feliz.”

“Do tipo?”

“Você poderia me imaginar dançando nua em um pole dance, mas não creio que seja o que você quer mesmo imaginar. Então pense em Paul McCartney usando calcinha e um chapéu de banana na cabeça.” Isso era algo engraçado de se imaginar.

“Não posso pensar em Paul McCartney sem me sentir culpada.”

“Por que? Ai meu Deus, você não gosta dos Beatles?”

“O que? Não! Por que eu me sentiria culpada por isso?”

“Porque os Beatles são incríveis?” Zombei. Minha coleção comprova isso.

Ela riu e eu juro que um sorriso gigante apareceu no meu rosto por causa disso. “Eu sei que são, não se preocupe.”

“Então, qual o motivo da culpa?”

“Bem, eu posso, meio que, sabe, talvez, acidentalmente, eu possa ter quase atropelado ele.”

“VOCÊ ATROPELOU PAUL MCCARTNEY?!”

“Não. Eu quase atropelei Paul McCartney.”

“Você tem que estar brincando.” Ela tem que estar brincando.

“Infelizmente não. Em minha defesa, eu nunca fui uma boa motorista. Não é minha culpa que ele estava no estacionamento enquanto eu tentava estacionar!”

E então eu tive um ataque de riso muito grande. Honestamente, eu ri até a dor na minha barriga ficar insuportável. Então eu respirei fundo e ri mais um pouco, aí sim eu parei de rir e tentei recuperar o fôlego. Nada como respirar fundo depois de rir demais. Demi Lovato quase atropelou Paul McCartney. Isso sim era hilário. Não para o pobre coitado que podia ter sido gravemente ferido, nem para ela que devia ter se sentido péssima na hora, mas para quem ouvia a história depois, isso sim era hilário.

“Você não está ajudando.” Ela falou depois que eu consegui parar de rir. Ela tentou parecer sério, mas eu podia ouvir o sorriso em sua voz.

“Desculpa, é só... Você quase atropelou Paul McCartney. Você comprou sua carteira?”

“Não, tá bom. Eu sou razoavelmente boa o suficiente para passar no teste.”

“Razoavelmente boa? Meu Deus, ainda bem que eu saí de Los Angeles, eu estava correndo risco de vida aí e nem sabia.”

“Há-há-há. Muito engraçada. Piada mais foda que já ouvi. Aqui estou eu, sofrendo com meu dilema, e você fica tirando sarro da minha incapacidade de dirigir corretamente.”

“Você está certo. Sinto muito. É que o horário não ajuda.”

“Onde você está?”

“Espanha. E agora é meia noite e meia.”

“Ai, droga, eu me esqueci do fuso horário! Me desculpa, eu não...”

“Está tudo bem, eu acabei de chegar ao hotel, então não estava dormindo. Estava apenas olhando o teto deprimentemente preto do meu quarto. Então, serei seu cavaleiro em uma armadura brilhante e te salvarei desta situação terrível onde a senhora se encontra agora.”

“Senhora?”

“Você tem 60 anos, não é?” Brinquei. “Ok, me desculpe, senhorita. Melhor?”

“Muito, senhora.”

“Está me chamando de velha?!”

“Você tem 60 anos, não é?”

“Ache suas próprias piadas.” Revirei os olhos, apesar de estar sorrindo. “Muito bem, entre no elevador e eu vou contar a história do dia que Christian se cagou no meio de uma viagem.”

“História verídica ou inventada agora?”

“Bom, deixe-me dizer que eu adoraria se ela fosse inventada.”

Ela riu e ficou em silêncio por alguns segundos, então ouvi o barulho do elevador e um suspiro alto. “Ok, estou aqui. Comece antes que eu entre em pânico.”

“Estávamos voando da Eslováquia para Portugal. Christian tinha arrastado Maite e eu para um restaurante de comida típica antes de ir pro aeroporto, onde íamos pegar o jatinho. Christian comeu muito mais do que devia e coisas que não devia. Então, estávamos lá no meio do vôo, quando Christian, que estava sentado no fundo, de repente levantou e saiu correndo, bem, não realmente correndo, devido a circunstancia. Estava mais para ‘pisando em ovos’, tipo de andar. Ninguém se importou no início, Christian é meio estranho. Mas aí Anahi quis ir ao banheiro retocar a maquiagem no espelho grande de lá antes de pousarmos. Deus sabe quantos quilos de rímel ela usava todo dia. De qualquer forma, ela gritou para Christian sair e ele disse que não ia sair. Ela ficou irritada e voltou pra poltrona e se maquiou usando um espelho de mão mesmo. Na verdade, ela me fez segurar aquele espelho enquanto se maquiava, mas não vem ao caso. Depois foi Maite que queria ir ao banheiro e Christian se negou a sair de novo. Então, para o bem da humanidade, me mandaram ir ver o que estava acontecendo. Christian é meu melhor amigo desde que tínhamos dez anos, acho eu. Depois de insistir na porta por meia hora, ele estava tão irritado que gritou a plenos pulmões: EU NÃO POSSO SAIR PORQUE ESTOU CAGADO! Pensei que ele estava apenas brincando, mas quando o avião pousou e ele ainda não saiu eu vi que talvez ele estava falando a verdade. Demorou uma hora para convencermos Christian a abrir a porta. Ele estava usando só a camiseta, sentado no vaso com a cara mais culpada do mundo. Depois de rirmos por quase duas horas, Maite pegou uma cueca e uma calça nova para ele na mala e ele finalmente saiu. Ele foi zuado por um mês inteiro.”

Quando eu terminei, ela ria alto e eu comecei a rir também, por causa de seu riso único e da lembrança de Christian cagado no banheiro do jatinho. O elevador já devia ter parado a muito tempo, afinal, eram só três andares, e, se ela já estava no restaurante, estavam todos ouvindo ela gargalhar aleatoriamente no celular. O que deixou tudo duas vezes mais engraçado.

“Eu não acredito que isso realmente aconteceu!”

“Pior que aconteceu. E Christian mal podia olhar pra nossa cara nos próximos dias sem ficar parecendo um tomate.”

Ela riu novamente. “Obrigada por me contar essa terrível história constrangedora de seu amigo. Ele vai ficar muito feliz quando descobrir isso.”

“Quem disse que ele vai saber? Aliás, agora que eu me lembrei dessa história, tenho que ligar para ele e lembrá-lo também.” Christian provavelmente iria me matar se eu fizesse isso.

“Bom, eu vou deixar você dormir, tenho certeza que deve estar cansada. Foi ótimo falar com você. Boa noite.”

Suspirei. “Boa noite.” Segurei minha vontade de arranjar outro assunto. Ela devia ter dado a desculpa para poder desligar. Eu vivo fazendo isso com minha irmã, não é como se eu conhecesse as táticas. Você só tem que prestar atenção em um terço da conversa para arranjar uma desculpa plausível.

“Quando eu estiver saindo, vou tentar me lembrar dessa história.”

“Fique a vontade para fazer todo usufruto dela.”

“Eu ficarei. A gente se fala amanhã. Boa noite.”

Ela desligou antes que eu pudesse responder. Suspirei novamente e joguei meu celular do outro lado da cama, com muita preguiça de até me mexer.