Fanfic: Bastidores

Chegamos ao Projac bem cedo na sexta-feira, conforme havia sido solicitado. Eu fui direto para a sala de maquiagem, não estava afim de agüentar a Hanna continuar contando sobre o tal beijo. Quando já estava caracterizada de Anita, fui para o camarim deixar minha mochila e nisso trombei o Gabe no corredor.

- Bom dia, Bianca! – ele disse sério.

- Bom dia, Gabe. Tudo bem? – respondi num tom ameno.

- Bem também.... por que não quis falar comigo ontem? – ele foi direto.

- Na verdade, acabou a bateria do meu iPhone e só fui colocar para carregar horas depois da sua ultima mensagem. Dormi na casa da Chrysti, enfim... não rolou de responder. – respondi.

- Ah ta, achei que já estava me ignorando, já...-

- Por que eu faria isso? Tenho motivo?  – sorri e o olhei firme nosso olhos.

- Bom, na verdade, não..  – ele ficou confuso.

Enquanto falávamos, eu continuei andando e coloquei a mão na maçaneta da porta do camarim feminino, mas antes de abri-la, as meninas que estavam no jantar de ontem mais a Bruna Griphaao saíram falando animadas lá de dentro. Todas o cumprimentaram, até que a Hanna soltou:

- Bom dia Gabe lindo! – disse entre sorriso passando por ele. -  Ahh Bia, tava falando para Bruna que ela deveria ter ido jantar com a gente, além da comida ma-ra, perdeu o papo de confidências... – disse ainda rindo.

- Pois é Bruna, perdeu mesmo. O papo de ontem foi... revelador. – eu respondi  olhando para a ruivinha que estava sem entender nada. – Mas terão outras oportunidades e estudar é primordial. –

Nisso a Alana as empurrou para saírem do meio do corredor e eu pude, enfim, entrar no camarim. Gabriel me seguiu.

- Já entendi porque você não me atendeu e olha... – ele começou.

- Eu já expliquei o porquê não te atendi. Fiquei gravando o dia todo e meu cel descarregou. Não imagine coisas onde não tem. – respondi tentando aparentar calma, embora estivesse com MUITA raiva.

- Bianca, eu tenho certeza que a Hanna contou coisas que não aconteceram...

- Aé? Se não aconteceram, como você sabe que ela contou? Na boa, Gabriel, quem você beija ou deixa de beijar não é problema meu. – falei, jogando minha mochila no armário.

- Você está sendo infantil...

- Eu? Infantil é você que ta tentando me dar satisfação, sendo que a gente não tem nada...

- Não estou dando satisfação, aliás odeio me explicar. Mas senti que você ficou chateada...

- Eu não fiquei chateada, eu fiquei sem bateria, o que é bem diferente. Mas enfim, o que você tinha de tão importante para me falar ontem à noite? – cruzei os braços e esperei a resposta.

- Eu queria te contar da gravação.... queria te contar o que a Hanna fez. – ele respondeu um pouco mais calmo.

- Ahn, e o que a Hanna fez? Violentou o galã indefeso? – falei rindo, ironicamente.

- Não, Bianca. Ela forçou um beijo que eu não queria dar.  Mas não tive saída, na frente da direção não podia repreendê-la, mas lembrei de você falando que ela ‘iria cair matando’, e caiu mesmo.

- Pois é, avisado você foi... e acho que ta virando tradição você dar beijo real nos seus pares dessa novela. – bufei.

- Era isso que eu não queria que você pensasse, porque não foi igual. Você eu quis beijar, ela não.

- Desculpa Gabe, mas nisso eu não consigo acreditar. Primeiro que a Hanna é linda, segundo que te avisei que ela ia aprontar e terceiro: quando um não quer, dois não ficam.- finalizei, saindo do camarim.

Cheguei na praça meio bufando, não sabia se de raiva ou de andar rápido para não dar tempo de ele me alcançar.

- Tá tudo bem? – perguntou Alana, assim que sentei ao lado dela no banco.

- Tá sim, dentro do possível.. – falei com um sorriso de canto de boca.

Ouvimos as instruções do dia e partimos para as gravações. Nada de muito incomum, ufa. Ao final do dia eu estava absurdamente cansada, não sei se de trabalhar ou de pensar.
             Eu não poderia ficar brava com o Gabriel por causa da Hanna. Afinal, a gente não tinha nada e ela mesma admitiu que o beijou, mas chateada eu poderia sim. Até porque, esse sentimento eu não conseguia controlar. O melhor a fazer era ir para casa, descansar e deixar o final de semana levar esses acontecimentos da minha mente...

Mas ainda na sexta, enquanto estava quase pegando no sono, meu cel toca:

- Alô? – falei sonolenta.

- Desculpa, te acordei? – era a voz do Gabe...

- Não, quer dizer.. mais ou menos. Eu estava quase dormindo.. risos.

- Ahh, que menina para dormir cedo. Ia perguntar se você não queria sair para comer alguma coisa... – perguntou ele.

- Ai Gabe, na boa, eu já estava mais dormindo que acordada. O cansaço não vai permitir.

- É só cansaço mesmo? Ou você esta chateada comigo? – ele perguntou e eu resolvi ser sincera.

- Olha, eu estou cansada mesmo, de verdade... e confesso que um pouco chateada também. Mas acho que não com você, com a situação em si.

- Mas Bianca, eu não acho que pisei na bola com você...

- É, eu também acho que não. Mas sei lá, tem coisas que a gente não manda, né? Eu sei que a Hanna cai em cima, eu sei que a gente não tem nada, eu tenho noção de tudo isso, enfim....

- Eu acho que a gente precisa conversar sobre isso.. – ele falou tão sério, que até acordei de vez.

- Conversar sobre o que? – perguntei.

- Sobre a gente...

- O que tem a gente?

- Olha, eu acho você linda e a gente se encaixa, você sabe disso, mas..

- Ai, esse ‘mas’ não é legal... – falei com a voz baixa, prevendo o que viria pela frente.

- Sabe Bia, eu fiquei muito comprometido com o teatro por um tempo longo, depois muito comprometido com a minha ex. E tou numa fase boa de fazer o que eu gosto, de não ter muito horário, além do trabalho, sabe? Uma liberdade gostosa...

- Sei.. e o que isso tem a ver comigo? – perguntei, querendo saber logo o que ele estava tentando me dizer..

- Tem a ver que eu acho melhor a gente parar o que a gente nem começou. Por mais que eu adore ficar com você, eu estou ficando com medo de te magoar. Depois de ver o quão chateada você ficou com a história da Hanna, eu fiquei preocupado... –

- Poxa, agradeço a consideração... – falei irônica.

- Não, não precisa ser assim... – ele me interrompeu.

- Gabe, eu não vou questionar com você. Desde o começo, eu te falei ‘não’. Pelo menos meu lado racional falou ‘não’. Eu sabia que...

- Ei, para! A gente não precisa deixar de ser amigo, nem de fazer as coisas juntos, mas...

- Eu acho que precisa. Assim como entendo o que você está me falando, eu espero que você me entenda. Daqui pra frente, somos estritamente colegas de trabalho, ok?

- Não. Eu não quero que seja assim...

- Mas eu quero. E não é você que respeita as minhas vontades? Então.... você ta com medo de me magoar e agora eu também fiquei com esse medo.  Não sei até que ponto essa amizade pode ser legal pra mim.

-  Você está sendo egoísta, Bia..

- Não, eu não estou sendo egoísta. Estou me preservando... e Gabe, se você não se importa, eu preciso voltar a dormir. Amanhã acordo cedo pra malhar...

- Beleza, eu já entendi... olha, se quiser conversar, porque tenho certeza que você vai pensar melhor sobre isso, eu tou aqui, ta? Não precisa ser oito ou oitenta..

- Boa noite, Gabriel... durma bem. – falei  e desliguei.