Fanfic: Bastidores

- Vamos namorar? –

- Oi? – eu acho que não estava ouvindo aquilo...

- Não me olha com essa cara de assustada... É namorar, se a gente ta se curtindo, vamos namorar, bonitinho como manda o figurino, risos. – me perguntava com o olhar também.

Ele disse aquelas palavras de forma tão natural, como se fosse a coisa mais simples do mundo assumir um namoro assim, do nada, que eu não consegui fazer outra coisa a não ser rir.

- Não achei graça, isso não é piada. – ele falou em tom chateado.

- AI, desculpa... eu não estava rindo de você, mas é que isso é surreal agora, Gabe. – tentei me explicar mas percebi que ele tinha ficado chateado de verdade.

- Surreal, por quê?  A gente gosta de fazer as coisas juntos, a gente gosta de estar junto... por que não?

- Porque.... porque vai todo mundo comentar, vão vigiar a gente... – por um momento entrei em pânico, eu não tinha como explicar o meu medo de dizer sim.

- Ahnn, e ?? É só usar a discrição, Bianca... isso não é argumento.

- Tem a Hanna também... e eu tou sem tempo também... – tentei o convencer de que aquilo era loucura.

- Melhor falar que não quer de uma vez, porque argumentos pouco inteligentes não combinam com você. – ele começou a andar na minha frente.

Dei uns passos mais rápidos e o alcancei.

- Ok, vou ser clara e franca: eu quero ficar com você, mas não quero namorar agora. – segurei o rosto dele com as mãos, o obrigando a olhar pra mim. – me entende?

- Sim. Não concordo, mas entendo... – senti que ele ainda tava chateado.

- Eu tenho medo, sabe... a gente tem meses de gravação pela frente, imagina se não da certo? Pensa no clima estranho, melhor ficar cada coisa no seu lugar.- dei um sorrisinho amarelo para tentar amenizar a risada de antes.

- Sabe, Bianca.. se tem uma coisa que eu não admiro em você é essa sua capacidade de verbalizar tudo, de pensar em tudo, de organizar tudo. Aprende uma coisa: sentimento não da pra separar em pastas e guardar na gaveta.. – ele bufou.

- Eu sei, mas... – eu fiquei tensa com as palavras dele, fiquei sem ter o que falar... e acho que ele entendeu a minha apreensão.

- Olha, eu não vou te pressionar.... a hora que você achar que ta na hora de me dar uma resposta, a gente conversa... pode ser? – embora tenha falado isso, senti que ele ainda estava inseguro.

- Pode, claro que pode.. – dei um sorriso que veio de dentro. Acho que finalmente a gente tinha se entendido. Fiquei na ponta dos pés e o enchi de selinhos alegres, risos.

- Agora, vamos voltar.. porque já reparam nosso sumiço – ele me convidou, mas sem abrir muito o sorriso.

- Nossa, vamos mesmo... larguei minha bolsa com a louca da Alana, risos.

Caminhamos um pouco e chegamos perto dos meninos que estavam sentados na areia conversando. A Alana e o Thiré estavam aos beijos, ainda embaixo da mesma árvore. Engraçado como eram desprendidos, não escondiam nada de ninguém, nem tinham vergonha de nada. Um dia eu seria assim... ou não, risos. Parece que o Gabriel leu meus pensamentos porque a hora que desviei o olhar do casal e olhei pra ele, ele ria de mim... acabei ficando sem graça.

A tarde caiu e resolvemos ir tomar um lanche.  Eu fui de carona com o Gabriel e o Vitor foi com a Alana. Acho que em um dia, formamos dois casais. O pessoal entendeu nas entrelinhas o que estava acontecendo, mas comemorei por ninguém ter perguntado nada.

- Teu amigo é ligeiro, hein.. – comentei enquanto o Gabe dirigia.

- E sua amiga é decidida, né... – ele me deu uma piscadinha.

- Olha, se isso foi uma indireta, não colou, ta? – fingi que estava brava.

- Ei calma, tava só brincando.. risos. – ele falou me dando um rápido beijo na bochecha.

- Eu sei... eu também tou te enchendo só.  – dei um beijo na bochecha e encostei minha cabeça no ombro dele...

O pôr-do-sol tava lindo, meio alaranjado... e ventava um pouco, deixando tudo mais agradável. Fomos a um café tranqüilo, sentamos em uma mesa que estava na calçada e ficamos batendo papo. Geral estava com uma fome de leão. Enquanto o Vitor e a Alana conversam entre eles, os meninos ficavam discutindo pormenores do jogo de bola, inclusive o louco do Gabriel que mal tinha jogado e achava que podia dar palpite. Como era a única mulher a prestar atenção, resolvi fuçar no celular.

Mesmo sem muito contato físico, era impossível o grupo de amigos não notar o que estava rolando entre a gente e meio que sem combinar, deixamos de disfarçar... até que resolvemos ir embora.

- Bom, vambora? -  o Gabe me convidou.

- Vamos sim, risos. Pra não fugir á regra, você me da uma carona? – perguntei.

- Ahh, vou pensar... acho que rola te deixar no ponto de ônibus mais próximo. – ele respondeu com uma piscadinha e foi levantando...

- HAHAHA, vai te catar... vou andando então. –  falei e fui pegando minha bolsa, ainda rindo.

Nos despedimos de todo mundo e eu avisei a Alana que ia com o Gabe, para a alegria do Vitor, risos. No caminho, aproveitamos para conversar.

- Gabe, como que vai ser amanhã? – perguntei com a voz meio carregada.

- Uma segunda-feira puxada, provavelmente.. – ele respondeu desatento.

- Deixa de ser bobo que você entendeu a minha pergunta. -

- Bom, daí depende de você. Eu não gosto de exposição, mas também não tenho porque esconder nada de ninguém. Vamos levando, ué.

- Mas levando? As meninas vão perceber, o Vitor já sacou. A gente assume pra todo mundo ou não? – perguntei, mas torcendo pra ele dizer que não. Eu não estava preparada pra isso.

- Minha primeira dúvida é: assumir o que? – ele perguntou me encarando.

- E a parte do sem pressão? Ficou onde? Risos – falei.

- Aiai, enfim... se você não quer que a direção saiba, melhor não comentarmos nada com ninguém. Por outro lado, não vejo problema em não esconder que a gente ta.. ãhnn, como se diz? Ficando, né?. – ele disse isso com certo ressentimento e eu senti que ele estava chateado com o meu ‘não’. Mas mesmo assim, me deu um selinho rápido e eu fiquei pensativa.

...

Quando chegamos em casa eu ainda estava tensa... não sabia o que pensar direito, tava acontecendo tudo tão rápido e eu só não queria antecipar as coisas. Ele desligou o carro e ficou me olhando, mexendo no meu cabelo.

- Me conta o que passa dentro dessa cabeça aí... ? – ele perguntou depois de um tempo em que eu fiquei em silêncio.

- Me da um tempo pra pensar? Pra conversar com a minha mãe... depois te dou uma resposta de verdade e se for o caso, a gente conta? – quase supliquei.

- Por mim, pode ser... assumir ou não, não é o maior problema.. –  ele suspirou.

- Então, qual é? –

- Você assumir pra você o que você quer. Esse é o grande problema. Eu já falei, tou apaixonado por você, Bianca.

- Ahhhhhh meu Deus, quanto doce... vou morrer nesse açúcar todo. – falei rindo e o beijei.

Não sabia direito o que responder e precisava aliviar o clima da conversa. Sabia que o Gabe tava tenso porque eu não tinha falado ‘sim’ para o pedido de namoro, mas eu também não tinha certeza se queria namorá-lo agora. Ele se dizia apaixonado e talvez até estivesse mesmo, mas tudo podia ser empolgação também. Precisava ter certeza dos sentimentos dele, dos meus e aí sim encarar o que viria pela frente.