Fanfic: Bastidores

Gabe –

Depois de um sono agitado, achei melhor ir trabalhar logo. Precisava de concentração pra não chegar com o semblante carregado ao Projac. As pessoas não tinham culpa da minha insegurança... e se ela disse que foi uma aula e uma foto, deve ter sido só isso mesmo. Afinal, ela nem sabia da conversa fatídica naquele almoço... não teria porque mentir pra mim. E a Bianca era esperta, se ela sentisse alguma investida dele, saberia se defender.

Antes de me arrumar como Ben, passei na sala de caracterização e já a avistei por lá, sentada numa poltrona esperando sua vez de arrumar o cabelo.

- Bom dia, Bia... – dei um beijo na bochecha dela e falei ‘oi’ pra Chrysti que estava finalizando o cabelo da Meg.

- Bom dia, Gabe... ta mais calmo? – ela estava com a fisionomia séria.

- Na verdade, não... mas não vou surtar. – fui sincero e ofereci um sorriso amarelo.

- Acho bom... agora não dá, mas mais tarde quero terminar a nossa conversa. – ela cochichou.

- Tudo bem, mais tarde eu te procuro... mas olha, a  minha raiva não era de você. No fundo, é ele que me irrita. –

- Não tem motivo mesmo pra ter raiva de mim, e nem dele. Mas mais tarde a gente finaliza o assunto. – ela concluiu, me deu um beijo na bochecha e foi se arrumar.

Fui para o camarim masculino deixar as minhas coisas, me arrumei e fui gravar. Pela manhã, fiz algumas sequencias com o Tuca, a Isabela e a Bianca – que fluíram tranquilamente, mesmo com o clima tenso entre a gente.

 Na hora do almoço, resolvi ficar na sala de espera... fuçando na internet. A Bianca ainda estava gravando e eu não estava muito a fim de almoçar com os caras. Um “ah” atravessado do Selau e eu ia dar uma surtada. Mas não adiantou muito porque na última meia hora do intervalo do almoço, ele, o Vitor e o Marlon apareceram na sala.

- Oi Gabe – Marlon sempre fofo e curioso, sentou ao meu lado e ficou  de olho no meu tablet.

- Fala garotão! Já almoçou? – fiz um carinho na cabeça dele.

- Já sim, almocei com eles, risos. E você, ta fazendo o que aqui sozinho? –  ele me perguntou.

- Tava estudando umas coisas aqui.. lendo e relendo textos. – comentei.

- Ihh, ta estudando muito... ta pegando a doença da Bianca. – disse o Vitor.. meio desatento, mexendo no celular.

- Ahh, gente.. falando em Bianca... eu ia esperar o Monassa e o Eduardo chegarem pra contar, porque eles sabem da minha loucura nela, mas ontem... eu beijei a Bianca. – falou o Felipe, todo sorridente.

Por alguns segundos o silêncio reinou na sala. Até que o Vitor largou o celular e me olhou assustado, o Marlon ficou esperando a continuação e eu não me agüentei:

- QUE? Como assim ontem você beijou a Bianca? – meu tom de voz denunciava a inquietação.

- É, não foi um beijo, BEIJO, foi um selinho meio roubado, mas ela curtiu. Eu sei que curtiu. – ele explicou.

- Não viaja, cara.. como assim roubado? – Vitor tentou apaziguar, vendo a minha cara de incrédulo.

- Eu chamei ela pra ir pra aula ontem e ela topou rapidinho. Daí na hora de ir embora, veio me dar tchau e rolou, ué... eu falo roubado porque não foi planejado, mas ela curtiu. Tenho certeza. – ele concluiu com ar arrogante.

Eu tinha três opções: voar nele,  me acalmar ou ir falar com a Bianca. Escolhi a última e sai da sala batendo porta.

Não precisei de muitos passos para enxergar ela e as meninas conversando e rindo no cenário do Embaixada, me aproximei:

- Bianca! A gente precisa conversar.. – interrompi a conversa sem rodeios e parei bem na frente dela.

- Gabe, agora não dá.. eu estou batendo texto com as meninas. – ela me respondeu com o olhar frio.

- É importante e tem que ser agora. – arqueei a sobrancelha pra enfatizar o ‘agora’. Ela bufou e resolveu me acompanhar. Caminhamos até a entrada do bosque fictício e paramos para conversar.

Bianca –

- Você não pode interromper meu trabalho assim, Gabriel! – falei irritada, mas no fundo estava receosa com a ira repentina dele.

- Não, não posso. Mas me diz: você pode beijar o Selau e não me falar nada? –  ele me perguntou alterado e eu assustei.

- Ele já te contou? E não foi um beijo! – comecei a me explicar e minha voz falhou.

- Contou, claro que contou. Pra mim e pra quem quisesse ouvir. E com o assim ‘não foi um beijo?’ ... você acabou de se denunciar, Bianca. – ele me acusou.

- Eu? Claro que não. Eu te falei mais cedo que precisávamos terminar a nossa conversa, você que não teve paciência. Gabe, esse ciúme todo não é bom pra gente. –  tentei acalmar a situação.

- Pior que eu também achava isso, sabe... achava que meu ciúme era demais, que a insegurança era grande. Mas agora não, agora eu acho que sempre foi minha intuição me avisando.

 - Como assim? Avisando de que? – eu não estava entendo aonde ele queria chegar.

- Por que você não me contou? – ele suspirou e passou as mãos no cabelo. Era visível que ele estava chateado.

- Mas contar o que? Que na hora de ir embora ele me roubou um selinho? Que importância tem isso? – tentei alcançar o rosto dele, mas ele se esquivou.

- Não teria importância nenhuma se ele não espalhasse por ai que tem vontade de te pegar de jeito e o pior, garantindo que você é a fim dele...

- Oi? Como assim? – o Gabe tava surtando, não era possível...

- Pergunta pro Monassa, pro Vitor... até o Marlon ouviu esse papo hoje. Ele quer você e se não sabe, desconfia que a gente ta junto e ta querendo me tirar do sério. Tá quase conseguindo.. – ele desabafou tudo de uma vez.

- Gabe, se essa história é verdadeira, é só o tempo passar pra ele entender que eu não sou, nem nunca fui a fim dele. E a essa altura, você também deveria saber disso. Estou começando a ficar chateada de verdade... –

- Ah, chateada? Você ta chateada? Pois eu fiquei puto com o ar arrogante dele... olha é porque eu sou muito da paz mesmo e tenho amor pelo meu trabalho, porque eu te juro que a vontade era de perder a cabeça. Não só pelo selinho, mas pela forma nojenta que ele fala de mulher.. e isso inclui você. –

- Mas... que culpa eu tenho nisso? Eu só aceitei um convite pra fazer uma aula... – tentei me defender de novo, embora estivesse magoada o bastante pra isso.

- A sua parcela de culpa é não ter me contado do beijo, do selinho, sei lá... Ontem eu ainda perguntei se tinha sido só a foto e a aula e você disse que sim. – ele sentou no banco de madeira e ficou olhando para o ‘nada’.

- Eu ia te contar, mas queria fazer isso pessoalmente... você tava nervoso no telefone, achei que seria melhor depois. -  agachei na frente dele, o obrigando a olhar nos meus olhos.

- Olha Bia.... a resposta do namoro e assumir pra todo mundo ficou pra depois, o beijo no Felipe ficou pra depois. Eu acho melhor essa conversa ficar pra ‘’algum depois’’ também. – ele levantou e deu alguns passos.

- Você ta terminando comigo? –

- Não. Não posso terminar nada com você... porque, teoricamente, a gente nunca começou...