Fanfic: Bastidores

Eu sabia que o Gabriel estava de cabeça quente, mas não precisava de tudo isso. Era uma mistura de raiva e indignação. Por que o Felipe tinha que ter aprontado essa? Por que o Gabe precisava ser tão ciumento? E por que eu não era mais corajosa de assumir o que sentia, por quê?  Eu estava necessitando colocar meus pensamentos em ordem. Ou melhor, meus sentimentos em ordem. Mas antes disso, precisava acertar umas coisas com o Selau.

- Eu posso saber de onde surgiu essa história de beijo, Felipe? – cheguei nervosa no camarim masculino e dei sorte de só estar o Felipe e o Monassa por lá.

- AH! Pelo visto o galã já foi reclamar com a mocinha, ele saiu daqui batendo portas.. – me respondeu Felipe com um ar de superioridade, balançando numa cadeira de rodinhas.

- Quem reclamou ou não, não interessa... mas isso é mentira e você sabe disso. – joguei os textos que estavam na minha mão em cima da mesa e me aproximei dele.

 - Calma, Bia.. que que houve? – interveio o Chris.

- Houve que o Felipe saiu falando por ai que a gente se beijou, sendo que na verdade ele me roubou um selinho sem vergonha.. – minha voz estava claramente alterada.

- Poutz, cara... pra que pisar na bola assim?? – o Chris logo entendeu meu nervosismo.

- Eu não falei por ai, eu comentei aqui no camarim. Agora se o mocinho tem ciúme a culpa não é minha... e não precisa ficar tão esquentadinha, vai... – Felipe continuava achando graça na história.

- O mocinho tem nome. Eu não estou esquentadinha, estou brava com você... e essa história não tem graça. Acho bom você parar.... porque eu não gosto que fiquem falando do que acontece na minha vida, mas mais que isso, não suporto que inventem coisas sobre ela. – falei gesticulando e sai da sala.

.......

Pela primeira vez, eu tinha me perdido no horário e nem sabia em qual estúdio eram as minhas cenas. Que droga! Eu estava virando uma irresponsável. Esses meninos ainda iriam me deixar doida, mas o fato de esculachar o Selau já me aliviava um pouco. O que faltava agora era me acertar com o Gabe. Depois das gravações dele, com certeza eu o procuraria para conversarmos.

Gabe –

Eu estava exausto de tanto pensar. O bate-boca com a Bianca, a raiva contida por causa do Felipe e as cenas da tarde que não ficaram boas estavam me consumindo.

Fui me trocar para ir embora, até mais cedo que o normal, e comemorei o fato de o camarim estar vazio. O que eu menos queria era esbarrar em alguém e ter que dar satisfação por causa da minha cara de irritado. Estava com o pensamento longe, quando ouvi uma batida na porta.

 Oii, estava te procurando... ué, vai embora já? – Hanna me perguntou, entrando na sala.

- Vou sim. As cenas terminaram por hoje... acho que não rendeu o dia. – comentei meio desanimado e fui vestindo minha camiseta.

- É, hoje foi estranho mesmo. Alteraram sequencias, teve gente que sumiu no meio do dia. – ela disse sorrindo. – Nossa, Gabe... impressão minha ou você ta mais forte?

- Forte de gordo? Bem provável, ando comendo mal pra caramba. – achei graça na pergunta dela.

- Não, seu bobo, forte de gost... de musculoso, né. –

- Hmm, pouco provável... só o parkour não ia dar uma diferença notável assim. Bom, você disse que tava me procurando. Posso te ajudar em alguma coisa? – eu perguntei e tentei mudar o rumo da conversa.

- Na verdade, não. Estava te procurando porque não te vi o dia todo e o Vini comentou que tinha te dispensado mais cedo.

- É, acho que ele viu que eu não estava rendendo... sensibilidade artística a dele. – comentei.

- E por que você não estava rendendo? Você é sempre tão... profissionalmente brilhante, risos. – Hanna estava se aproximando mais que o normal e eu não estava sabendo lidar com essa situação.

- Ah, agradeço os elogios. Minha auto-estima estava precisando de atenção mesmo – falei rindo.

- Não acredito. Você com a auto-estima abalada? Talvez eu possa resolver o seu problema... – ela se insinuou e tentou tocar meu rosto.

Embora ela fosse encantadora e estivesse usando todas as armas pra me ajudar a ficar melhor, não era hora disso.

- Hanna, você é linda... e eu fico lisonjeado com teus elogios. Mas não dá... - Segurei-a pelos pulsos e me afastei um pouco.

- É a Bianca, não é? – ela me pressionou.

- O que tem a Bianca? – me fiz de desentendido.

- Vocês namoram, óbvio! Só não vê quem não quer...

- Olha... – suspirei –  definitivamente, não namoro a Bianca. -

- Não? Então, eu vou facilitar as coisas pra você e pra sua auto-estima.

No fundo, eu sabia que ela iria me beijar e não me afastei. Deixei o beijo rolar e embora fosse o primeiro de comum acordo, parecia que já nos conhecíamos intimamente há tempos. Juntou a vontade dela com a raiva que eu precisava colocar pra fora e foi forte.

- Gabe, você ta aí? Acho que a gente precisa conv... – 

Eu só ouvi a voz e logo a reconheci;  

- Bianca? – disse a Hanna com a voz assustada e com olhar de satisfação. Ela sabia que tinha algo muito sério rolando no ar.

- Fala Bianca.. – falei limpando a boca, como se pudesse apagar o beijo.

- Não, nada, desculpa.. eu não queria atrapalhar. – ela gaguejou e eu não queria, de forma alguma, ter visto o semblante e o olhar perdido dela.

- Você não ta atrapalhando. Na verdade, a gente tava conversando e... – comecei a falar.

- E a gente se beijou, mas foi só.. e foi a primeira vez também. A segunda na verdade. –a Hanna também tentou explicar, mas acho que piorou a situação.

- Tudo bem.. vocês não precisam me falar nada. Depois a gente conversa. – Bianca falou isso me olhando diretamente e eu juro que não imaginava vê-la com os olhos marejados por isso. Aquela frieza toda havia derretido na sala do camarim. Eu não sabia como agir.. e nesses segundos em que fiquei parado pensando, ela saiu e encostou a porta.

- Acho que te arranjei problemas, né? –

- Não, Hanna.. imagina. Esses problemas eu arranjei sozinho. Agora eu preciso ir, ta? – peguei a minha mochila e fui até o estacionamento.

Antes de chegar no meu carro, eu enxerguei o carro dela saindo pela portaria do C3. Nem adiantava ir atrás porque eu seria ignorado, talvez nem adiantasse ligar também. Era melhor deixar as cosas esfriarem... afinal eram muitos ressentimentos a serem digeridos num dia só.