Fanfic: Bastidores

Bianca:

Dei uma batidinha no camarim masculino e abri a porta:

- Noooooossa, desculpa... respondi envergonhada e sai correndo.

- Ei, calma, espera... não tem nada de mais, já estava quase vestido – risos- posso te ajudar?, perguntou o Gabe com o botão da calça aberto e sem camisa.

Demorei uns segundos pra processar o que estava acontecendo, até que resolvi responder:

- Não, obrigada. Nossa desculpa mesmo, eu deveria ter batido e esperado. Eu tou procurando o Cris , na verdade. Você sabe dele? – perguntei, querendo mudar logo de assunto e sair andando.

- O Monassa? Acho que ele foi embora.. pelo menos, não veio pro camarim masculino. Não se infiltrou no de vocês?

- HAHA, não... bom, acho que não risos. Então deixa, vou dar um jeito. Obrigada. , respondi já meio que andando.

Minha vontade era sumir dali. Apesar da visão ser belíssima, não era nada educado e muito constrangedor chegar do  jeito que cheguei no camarim masculino.

- Bianca, espera! Eu não mordo, pelo menos não no dia que sou apresentado a pessoa – risos. Posso te ajudar? Você vai embora como? , Gabe me questionou, me segurando pelo braço.

- Ahh, engraçadinho, espero que não morda mesmo. Então, na verdade, faz poucos dias que cheguei no Brasil e ainda estou sem carro. Estava querendo uma carona, por isso vim atrás do Cris, a gente mora meio perto... , respondi mais calma.

- Bom , já estou indo. Se quiser, eu posso te levar. Sem morder, juro.

- Não, não precisa... obrigada. Eu ligo pra minha mãe, peço pra ela vir. Sem problemas.

- Ah para, vai... eu posso muito bem te levar. E outra, quando você já tiver seu carro, eu cobro a carona. Odeio ir embora dirigindo porque o transito está sempre parado.

- Bom, vamos então... e me desculpa mesmo, por aparecer assim. Eu sabia que tava atrasada, só fofoca naquele camarim feminino e o Monassa sempre vai embora rapidinho, por isso estava com pressa, - me desculpei mais uma vez...

- ok, ta perdoada, mocinha... mas só se me contar quais eram as fofocas da mulherada de hoje e por onde você andou antes de voltar para o Brasil... , respondeu Gabe, cheio de sorrisos.

E assim, fomos caminhando até o estacionamento. Estava meio sem graça por ter pego ele sem camisa e mais ainda por ter tentado fugir. Sei la, fiquei sem jeito e como ele era o assunto do camarim feminino, fiquei mais pensativa ainda. Mas, não tinha outra saída, aceitei a carona...

Estava quase anoitecendo. Típico de junho  no Rio de Janeiro, nem frio, nem calor. Nesse clima meio estranho, caminhamos em silêncio até a portaria do C3 e por incrível que possa parecer, não foi constrangedor.

- Fica à vontade e não repara a bagunça. Carro de homem é meio que casa, sabe... tem de tudo aqui dentro, mas ta limpinho – disse Gabe, meio envergonhado ao chegarmos ao carro.

- Ahh imagina, você já ta me ajudando, até aparece que vou ficar reparando – risos. E outra, você fala de carro de homem, porque não vê bolsa de mulher. – respondi tentando quebrar o gelo.

A conversa fluiu com tranqüilidade e aos poucos minha vergonha foi passando. Gabriel falava muito e meio rápido o que facilitava para o meu lado, que só precisava responder.
Ele me contou das temporadas com as peças de teatro das quais participou e da viagem que fez à Europa no começo do ano. Eu contei, meio por cima, do meu intercâmbio. E como todas as pessoas, ele queria entender o porquê escolhi engenharia química e não algo relacionado às artes.

Havíamos combinado de ele me deixar perto de casa pra não ficar muito fora de mão. O problema é que o caminho que, normalmente, demoraria uns 30 minutos... com aquele trânsito, certamente, demoraria mais de uma hora.  Quando pensei que o tédio iria se instalar no carro, ele liga o rádio...

- Ahhhhhh, mentira que você curte John Mayer?  , perguntei  meio receosa, achando que ele tinha ligado no aleatório.

- Verdade. Tenho quase todos os álbuns, ouço de dia e de noite, e nos intervalos. Você curte? , respondeu ele com um sorriso largo...

- Poxa, eu adoro. Nesse tempo que fiquei nos estados unidos, consegui ir em 2 shows dele. Um foi meio acústico só voz e violão. Apaixonante...

- Ahh,  o cara manja no violão, né? Eu bem tento imitá-lo , mas não tenho muito sucesso. Até toco, mas cantar igual, impossível...

- Ah, mas tocar violão já é um grande passo. Sempre quis aprender, mas sou meio cega e muito desastrada pra isso... e ahh, vou espalhar pra galera que você toca violão.  Quem sabe não rola um sarau?

- Nãoo, por favor, por enquanto não. Risos. Deixa eu conhecer a galera, daí você pode contar, senão vou ficar com vergonha, respondeu ele meio tímido...

- Você? Com vergonha? Isso não parece fazer parte da sua personalidade. Mas ok, eu espero... risos.

- Nossa, ta me chamando de sem vergonha? Também foi um prazer te conhecer, viu? E se você guardar segredo por enquanto, eu te ensino a tocar violão. Combinado?

- Fechado! – respondi sorrindo e pensando que também foi um prazer ter o conhecido.

Depois de muito transito, mais de meio CD do John e muita conversa jogada fora, chegamos no cruzamento em que ele iria me deixar.

- Poxa, gostaria muito de te deixar em casa, acho perigoso deixar você aqui, mas eu realmente estou com pressa. Preciso levar meu irmão ao aeroporto e se atrasar, com esse trânsito, ele pode perder o vôo. –

- Imagina, já estou acostumada.. é o caminho que fazia pra ir a academia. Não se preocupa, ok? Obrigada mesmo.. você me ajudou muito. Risos. Até amanhã e oh, já vai pensando nas musicas pra me ensinar a tocar violão, hein? Vou cobrar...

- Pode cobrar, vou escolher um repertório que tenha a ver com você, assim que te conhecer um pouco mais, respondeu ele meio sedutor.. e eu fiz que não entendi a piscadinha.

- Bom, vou indo Gabe.. boa noite e paciência pra enfrentar esse transito., disse já saindo do carro.

- Ei, espera... – disse ele segurando meu braço.