Fanfic: Bastidores

Entrei no quarto e fiquei impressionado com a palidez da Bianca deitada naquela cama de hospital. Acho que o lugar estava influenciando fortemente o mal estar dela, porque ela não tinha chego daquela cor aqui...

- Pois não, o senhor pediu pra me chamar? Ela ta bem? O que houve? – perguntei assim que o doutor esticou a mão para me cumprimentar.

- Calma, rapaz.. chamei sim, mas não precisa assustar. Eu trouxe uma coisa... não bem uma coisa, mas enfim... trouxe algo pra mostrar pra vocês. – o médio respondeu.

- Ai doutor, para de me torturar, o Gabriel já chegou.. agora me diz o que eu tenho de verdade, vai... – Bianca implorou com os olhos cansados.

- Você tem um feto de aproximadamente 5 semanas, olha... – ele esticou uma impressão contra a luz, que mais parecia um raio-x e eu pude ver um ponto. Sim, um pontinho circulado bem no meio de um embaçado que, aparentemente, era o útero dela. Por alguns segundos, eu senti as paredes se mexerem.

- Doutor, o senhor tem certeza disso? – perguntei por instinto....

- Sim, Gabriel.. você será papai em, aproximadamente, 34 semanas...

- Pai.. eu vou ser pai? – eu repeti mais pra mim do que pra ele. Estava difícil de acreditar. Respirei algumas vezes até perceber que precisava falar algo. - Doutor... o senhor pode deixar a gente conversar, por favor? –

- Com certeza. Bom.. vou deixar uma receita com as vitaminas e os cuidados que ela precisa tomar agora no começo da gestação, juntamente com o resultado dos exames aqui na mesa. Conversem o tempo que precisarem e ela já esta de alta. Eles estão muito bem... Ah, e parabéns! Se precisarem, estou a disposição. – o médico falou tudo isso com uma naturalidade que eu só pude abrir um sorriso e apertar a mão dele. 

- Obrigado, doutor... Qualquer dúvida, eu entro em contato. Acho que teremos várias... para não dizer todas. – respondi confuso e fechei a porta assim que ele saiu.

Quando eu olhei para Bianca, pude notar o choque. Mais pálida, mais assustada e com lágrimas inundando o semblante dela.

Bianca –

Alguém tinha roubado meu chão, minha fala e meu ar. Eu perdi a capacidade de raciocinar olhando para aquela ultrassonografia que o médico segurou com tanto orgulho. Não tinha como, não era possível...

- Bianca? – o Gabe ocupou meu campo de visão, quase colando o rosto ao meu. Eu não conseguia responder, só sentia um frio absurdo, o coração disparado... e uma vontade imensa de gritar, mas nem o ar saia de dentro de mim...

- Bianca.. reage... fala alguma coisa, pelo amor de Deus, mas sai desse choque. – ele segurou mais firme as minhas bochechas que já estavam molhadas. Eu estava chorando e nem sabia...

- Gabe, não pode. Tem que ter alguma coisa errada... a gente sempre usou camisinha, quando não, eu tomei remédio. Não pode ta certo isso... – eu estava tentando buscar uma explicação.

- Pois é, também não estou entendo... mas se com tantos cuidados, ainda assim você engravidou... é porque era pra ser, né? – ele tentou ser carinhoso, mas o olhar de medo entregava o estado de espírito.

- Será que esse médico viu direito? Tem um ponto no meu útero.. mas daí a ser uma criança. Um bebê??!?! Como? Aonde foi que a gente errou? – eu não agüentei mais segurar o choro e desabei. Ele sabiamente não disse nada e me abraçou.

Ficamos abraçados por um bom tempo. Eu chorei, ele chorou. Desabafamos. Em várias declarações, falávamos um ao outro que a nossas vidas começaram a fazer sentido assim que nos conhecemos e isso fazia pouquíssimo tempo. Tínhamos planos de viagens, de projetos de trabalho, de terminar Malhação. Não cabia uma criança agora, mas ao mesmo tempo era meio que abençoado saber que tinha um pedaço dele dentro de mim, e que seria nosso.

- Ei, olha pra mim... – ele, como era de costume, encostou a testa na minha esmagando as minhas bochechas. – Vai dar tudo certo. Na verdade, já está dando... só temos mais um pra cuidar agora. Estamos craques em cuidar um do outro e vamos cuidar de mais um. Estou com você, sempre! –

Ouvir isso só me fez chorar mais e mais. Eu tinha o melhor namorado do mundo e, sem dúvida, o melhor pai do mundo também estava na minha frente.

- Eu te amo.. e preciso de você, mais do que nunca.. mais do que imaginei precisar. Mas ainda quero entender como... vamos em outro lugar, fazer outro exame... – sugeri apressada e confusa.

- Bia, amor.. não se engana. Tá tudo aqui, olha. - Ele me mostrou os exames de sangue e mais uma vez a impressão da ultra. – O nosso pontinho.. ou nossa pontinha, risos.

- Não tem graça... eu tou uma pilha. Tem uma vida aqui dentro , você ta entendendo? – falei nervosa.

- Claro que estou... tentando assimilar ainda, mas entender eu já entendi. E você quer saber como... bom, alguma camisinha pode ter dado problema ou alguma coisa cortou o efeito do seu remédio. Não sei... quando você for fazer o pré-natal, a gente descobre o que pode ter acontecido... – ele falou, calmamente...

- Gabriel, como você pode ser assim, tão calmo? Tão zen? Você disfarça muito bem e está com vontade de sair correndo e gritando, ou eu não sei... –

- Eu não sou tão calmo assim, mas sou compreensivo com o universo, Bianca... se ele quis nos presentear com uma criança, eu vou aceitar, amar, cuidar, proteger... bem como vou fazer com a mãe dessa criança. – até nos momentos mais complicados, ele tinha o poder de me deixar sem ar... de felicidade.

Ficamos por um tempo contemplando aquele nosso pontinho numa folha de papel.. até que tomamos coragem de ir para casa. Eu tinha uma mãe preocupada e um pai curioso me esperando.