Fanfic: Bastidores

Dormi meio mal. Um sono agitado e muitos pensamentos voando na minha cabeça. Tinha acabado de voltar pra casa e precisava decidir muita coisa. Se deixaria a faculdade para o semestre que vem, se iniciaria logo e me jogaria numa rotina louca. Se continuava com o esporte, se focava na novela.... se cuidava do meu coração. Não, meu coração estava a salvo desses pensamentos. E, também por isso, acordei com uma decisão na cabeça: não me aproximaria do Gabriel, não do jeito que as coisas estavam indo... Eu precisava de um tempo pra me organizar e era hora de ser, ainda mais, racional.

Cheguei no Projac no mesmo horário de sempre e corri pra sala de maquiagem. Agradeci em pensamento por encontrar o ambiente vazio, a Dona Lu – a maquiadora mais querida do Projac – me transformou na Anita e fui para o camarim me trocar. Chegando lá encontrei a Alana, a Chrysti e a Bruna, tomando café da manhã..

- Bom dia, meninas.. caíram da cama?

- Bom diiiiia, dona Anita... pois é, hoje é figurino completo e maquiagem E cabelo, não da pra bobear no horário ; respondeu Chrysti sempre animada.

- Bom diiia Biii - Allana e Bruna falaram juntas.

Enquanto eu procurava as roupas do dia da Anita e as meninas terminavam o café, a Hanna chegou.

- Bom dia mulherada, todas prontas pra guerra? ; disse num tom bem humorado.

- Guerra, gente? Que guerra? ; perguntou Alana, meio sem entender o tom...

- Maneira de falar, risos, guerra igual a trabalhar duro pra conseguir o que quer... ; respondeu Hanna, olhando fixamente pra mim.

- Tenha um bom dia de luta, Hanna... e muita força  porque o dia ta só começando....; respondi e sai do camarim.

Apesar de ter decidido deixar essa história do Gabe ser um fofo pra lá, eu estava decidida a não ficar agüentando provocações. Se ela sabia ser sarcástica, eu também saberia ser...

Com uma cara amarrada e passos firmes, fui andando sentido à praça do Grajaú, onde seria feito o ensaio geral. Embora eu não tivesse nessa cena, era melhor ficar com todo mundo do que agüentar aquela loira me irritando.

- Bom dia, minha boneca. Tá linda de Anita. Vou ser cabeleireiro na novela, vê se pode... vou cuidar de você, da Ju, da Meg risos, da mulherada gata do Grajaú; disse o Monassa todo empolgado e vestido com umas roupas suspeitas.

- Bom dia, Cris... que legal. Personagem diferente sempre exalta novos talentos.; eu respondi meio chateada pela situação que estava vivendo dentro do camarim e dei um super abraço nele.

- Ei, que foi Bia? Não estou gostando dessa carinha.

- Ahh, nada de mais... uma hora eu te conto com detalhes, estou precisando desabafar mesmo. Quem sabe, assim, na hora de ir embora, quando você me der aquela carona esperta; falei enganchando meu braço no dele e caminhando até o centro da praça...

O dia passou rápido e sem grandes acontecimentos. Avistei o Gabe algumas vezes, trocamos olhares e uns sorrisos tímidos, mas nada além disso. Na hora do almoço, fui até o estúdio da novela das nove, ver o Leicam e a Alice que estavam gravando, e não fiquei com a galera de malhação pra almoçar. E foi a melhor coisa que eu fiz, pois na volta do almoço ouvi a Fernandinha falando pra Chyrsti que a Hanna tinha ficado o almoço todo pendurada no pescoço do Gabe. E eu sabia que não seria bom para o meu psicológico assistir essas cenas.

Cheguei na porta do camarim masculino, pra variar, procurando o Cris.

- Eiii meninos da minha vida, alguém viu o Cris, por ai?? Perguntei olhando por cima deles risos.

- Ta saindo do banho, Bianquinha, espera um tiquinho que ele já vem... disse que tava com pressa, vai ajeitar o topete rapidinho; respondeu o Eduardo, todo animado me fazendo rir.

Eu dei um sorriso e me escorei na porta ao lado para esperá-lo. Atrás dos camarins, havia um pedaço de ‘verde’ com árvores altas, que ficava lindo ao final do dia. Ainda mais com o tempo meio friozinho...

- Ei, posso saber por onde voam esses pensamentos? ; não precisei nem virar pra saber de quem era aquela voz quase quente ao meu lado.

- Pode, claro.. na faculdade, no carro que vou buscar amanhã, no bolo de textos que preciso decorar, na unha  pra fazer; respondi de um jeito que não dedurasse o caminho dos meus pensamentos.

- Que coisa feia, Bianca.. mal me conhece e já mente pra mim?, perguntou Gabe com um leve tom de zombaria na voz.

Virei pra ele com ar de incredulidade:

- Se mal nos conhecemos, como acha que estou mentindo? ; fiquei fixa olhando dentro dos olhos dele e, por um momento, achei que tinha o deixado envergonhado. (´´tomara que sim´´, pensei comigo mesma..)

Antes dele responder, o Cris já aparecia todo cheiroso na porta do camarim. Nos despedimos e fomos até a portaria do C3...

- Ta bom, eu não te conheço de hoje, já pode contar o porquê da tromba. Apesar de ter certeza que sei o nome e o sobrenome desse desanimo ai... – Cris.

- Pois éé, não quero e não vou mentir pra você. Tá tão na cara assim?? Risos.

- Olha Bianca, talvez pra quem não te conheça, não. Mas como sou seu amigo quase de infância risos, vou te falar: não ta na cara, ta num outdoor. Mas me conta, já rolou alguma coisa?

- Não e nem vai. Não da, né? Pensa se não da certo, temos um ano pela frente... e outra;

- Ahhh, para... você vai perder de dar uns beijos porque pode ser que não de certo e pode ser que fique chato. Para vai, Bianca!

- Ei, espera.. você não deixou eu terminar... a Hanna também ta afim dele. MUITO afim. Vive falando aos quatro cantos que quer e que vai pegar. Ela é linda. Não duvido que consiga...

- Peraí, como assim TAMBÉM? Risos.

- AH, não enche, vai Cris... foi jeito de falar só, respondi meio sem graça. -  Mas que isso dificulta minha ‘amizade’ com ele, dificulta...

- Humm, daí eu concordo que pode ficar um clima meio estranho mesmo..  mas, me fala, você acha que ele quer ela ou você? Porque assim, vou ser sincero,  no começo achei que era você.... mas depois do almoço de hoje, fiquei na duvida. É que você não tava la e não viu, mas até no colo dele, ela sentou. Como homem, te falo, golpe muiiiiito baixo. Risos risos risos.

- Affe, credo. Se depender disso pra ficar com ele, morro solteira.... falei rindo e entrei no carro para, logo em seguida, capotar e acordar na porta da minha casa... risos.

Acordei com o Monassa me empurrando quase para fora do carro, me despedi dele meio sem graça... e entrei em casa. Pelo visto, estava sozinha... fiz um lanche natural e subi para o meu quarto. Precisava olhar no site da universidade e ver as matérias do semestre pra, então, decidir se encarava ou se trancava e deixava para 2014. Logo que entrei no meu quarto o wifi pegou e meu whatsapp vibrou:

‘’Te achei tão estranha hoje, arriscaria dizer que estava triste. Até levei o violão mas faltou oportunidade.... bom, era isso... um beijo.’’ – Gabe há 46 minutos

ÔÔÔ meu Deus, porque ele não desistia, né, por que?

‘’Boa noite Gabe. Não era tristeza, era só correria. O violão fica pra outro dia, pode ser? Beijo e até amanhã.’’

Depois de enviar a mensagem, desliguei o celular. Não queria ficar de papo com ele e precisava decidir as coisas da faculdade, tentar dormir cedo, pensar no carro que iria buscar amanha... Enfim, ocupar minha cabeça com coisas possíveis de darem certo.

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