— Eu estava começando a me preocupar. Eu esperava que você voltasse mais cedo.
— Oh, eu acho que compensei o tempo considerando que a entrevista funcionou. — Eu aceno com o mini gravador para ela.
— Anahi, muito obrigada por fazer isto. Eu fico te devendo, eu sei. Como foi? Como ela era? — Oh não, lá vamos nós, com a Inquisição de Katherine Kavanagh.
Eu luto para responder suas perguntas. O que eu posso dizer?
— Eu estou contente que terminei, e que eu não tenha que vê-la novamente. Ela era bastante intimidante, sabe. — Eu encolho os ombros. — Ela é muito focado, intensa até, e jovem. Realmente jovem.
Kate olha com ingenuidade para mim. Eu franzo a testa para ela.
— Você, não se faça de inocente. Por que você não me deu uma biografia? Ela me fez sentir como uma idiota por me restringir as perguntas básicas. — Kate aperta uma mão em sua boca.
— Jesus, Anahi, eu sinto muito, eu não pensei.
Eu bufo.
— Na maior parte ela foi cortês, formal, ligeiramente sufocante, como se tivesse envelhecido antes do tempo. Ela não conversa como uma mulher de vinte e poucos anos. Que idade ela tem afinal?
— Vinte e sete. Jesus, Anahi, eu sinto muito. Eu devia ter informado você, mas eu estava em pânico. Deixe-me pegar o mini gravador, e eu vou começar a transcrever a entrevista.
— Você parece melhor. Você comeu sua sopa? — Eu pergunto, ansiosa para mudar o assunto.
— Sim, e estava deliciosa como sempre. Eu estou me sentindo muito melhor. — Ela sorri para mim em gratidão. Eu verifico meu relógio.
— Eu tenho que correr. Eu posso ainda fazer meu turno na Clayton.
— Anahi, você está exausta.
— Eu estarei bem. Eu vejo você mais tarde.
Eu trabalho na Clayton desde que eu comecei na universidade. É a maior loja de ferragens de Portland, e durante os quatro anos em que eu trabalho aqui, eu conheci um pouco sobre quase tudo que vendemos, embora ironicamente, eu sou um desastre em trabalhos manuais. Eu deixo tudo isso para meu pai.
Eu sou muito mais o tipo de garota que se enrosca com um livro em uma confortável cadeira junto à lareira. Eu estou contente que eu possa fazer meu turno, pois isto me dá algo para me concentrar que não seja Dulce Grey. Nós estamos ocupados, é o inicio da temporada de verão, e as pessoas estão redecorando suas casas. A Sra. Clayton está contente por me ver.
— Anahi! Eu pensei que você não fosse vir hoje.
— Meu compromisso não demorou tanto tempo como eu pensei. Eu terminei em algumas horas.
— Eu estou contente por ver você.
Ela me manda para o deposito para começar a reabastecer as prateleiras, e eu logo fico absorvida na tarefa.
Quando eu chego em casa mais tarde, Katherine está com os fones de ouvido, trabalhando em seu laptop.
Seu nariz está ainda rosa, mas ela está super envolvida no seu trabalho, concentrada e digitando furiosamente. Eu estou exausta, completamente drenada pela longa viagem, a entrevista cansativa, e por permanecer de pé na Clayton. Eu afundo no sofá, pensando sobre a redação que eu tenho que terminar e todos os estudos que eu não fiz hoje, porque eu estava com… ele.
— Você tem um bom material aqui, Anahi. Você fez um bom trabalho. Eu não posso acreditar que você não aproveitou a oferta dela para mostrar a você o lugar. Ela obviamente queria passar mais tempo com você.
Ela me lança um olhar fugaz e brincalhão.
Eu ruborizo, e minha frequência cardíaca inexplicavelmente acelera. Estou certa que não foi isso. Ela só queria me mostrar o local, para que eu pudesse ver que ela é a senhora de tudo aquilo. Eu percebo que eu estou mordendo meu lábio, e eu espero que Kate não note. Mas ela parece absorvida em sua transcrição.
— Eu entendo o que você quer dizer sobre formal. Você tomou algumas anotações? — Ela pergunta.
— Hum… não, eu não tomei.
— Tudo bem. Eu ainda posso fazer um artigo bom com isto. Pena que não temos algumas fotos originais. Bonita aquela filha da puta, não é?
Eu ruborizo.
— Eu acho que sim. — Eu tento duramente soar desinteressada, e eu acho que consegui.
— Oh vamos, Anahi, até você não pode ser imune a sua aparência. — Ela arqueia uma sobrancelha perfeita para mim.
Merda! Sinto que minhas bochechas ardem. Assim eu a distraio lisonjeando-a, sempre é um bom truque.
— Você provavelmente teria conseguido muito mais dela.
— Eu duvido, Anahi. Ora... ela praticamente te ofereceu um emprego. Mesmo depois daquela pergunta que impus para você fazer, você foi muito bem. — Ela olha para mim especulativamente. Eu faço uma retirada apressada para a cozinha.
— Então o que você realmente pensou sobre ela? — Maldição, ela é curiosa. Por que ela não pode simplesmente deixar isto passar? Pense sobre algo, rápido.
— Ela é muito mandona, controladora, arrogante, realmente assustadora, mas muito carismática. Eu posso entender o fascínio, — eu digo sinceramente, com a esperança que ela encerre este assunto uma vez por todas.
— Você, fascinada por uma mulher? Está é a primeira vez, — ela bufa.
Eu começo a juntar os ingredientes de um sanduíche, assim ela não pode ver meu rosto.
— Por que você quis saber se ela era gay? Alias, está foi uma pergunta muito embaraçosa. Eu fiquei mortificada, e ela ficou puto ao ser questionado também. — Eu franzo a testa com a memória.
— Sempre que ela está nas páginas da sociedade, ela nunca está acompanhada.
— Foi vergonhoso. A coisa inteira foi constrangedora. Eu estou contente que nunca mais tenha que por os olhos nela novamente.
— Oh, Anahi, não pode ter sido tão ruim. Eu penso que ela parece estar bastante interessada em você.
Interessada em mim? Agora Kate está sendo ridícula.
— Você gostaria de um sanduíche?
— Por favor.
Não conversamos mais sobre Dulce Grey aquela noite, para meu alívio. Uma vez que nós comemos, eu posso me sentar à mesa de jantar com Kate e, enquanto ela trabalha em seu artigo, eu trabalho em minha redação sobre Tess de D `Urbervilles. Maldição, esta mulher estava no lugar errado, no tempo errado, no século errado. Quando eu termino, é meia-noite, e Kate já tinha ido há muito tempo para a cama. Eu faço meu caminho para meu quarto, exausta, mas contente que eu fiz tanto para uma segunda-feira.
Eu me enrolo em minha cama de ferro branco, embrulhando uma colcha de minha mãe ao meu redor, fecho meus olhos e durmo imediatamente. Naquela noite eu sonho com lugares escuros, sombrios pisos brancos frios, e olhos cinza.
Pelo resto da semana, eu me dedico em meus estudos e no meu trabalho na Clayton. Kate está ocupada também, compilando sua última edição de sua revista estudantil, antes dela ter que cedê-la para o novo editor, ao mesmo tempo estudando para seus exames finais.
Na quarta-feira, ela está muito melhor, e eu não tenho mais que suportar a visão de seus pijamas com rosa e coelhinhos. Eu telefono para minha mãe na Geórgia para saber como ela está, mas também para que ela possa me desejar sorte em meus exames finais. Ela começa a me contar sobre sua mais nova aventura: está aprendendo a fazer vela. Minha mãe adora aprender coisas novas. Basicamente, ela se entedia e busca coisas novas para preencher seu tempo, mas é impossível ela manter a atenção durante muito tempo em alguma coisa. A semana que vem será uma nova aventura.
Ela me preocupa. Eu espero que ela não hipoteque a casa para financiar esta nova aventura. E eu espero que Bob, seu relativamente novo marido, muito mais velho, esteja de olho nela agora que eu não estou mais lá. Seu terceiro marido parecer ser um cara centrado.
— Como estão às coisas com você, Anahi?
Por um momento, eu hesito, e eu tenho toda a atenção de minha mãe.
— Eu estou bem.
— Anahi? Você encontrou alguém? — Uau… como ela faz isto? A excitação em sua voz é palpável.
— Não, mãe, não é nada. Você será a primeira a saber se eu o achar.
— Anahi, você realmente precisa sair mais, doçura. Você me preocupa.
— A mãe, eu estou bem. Como está Bob? — Como sempre, a distração é a melhor política.