Oh, uma pergunta fácil para começar.
— Desde nosso primeiro ano. Ela é uma boa amiga.
— Humm, — ela responde, reservada. O que ela está pensando?
Nos elevadores, ela aperta o botão de chamada, e a campainha toca quase que imediatamente. As portas deslizam abertas, revelando um jovem casal em um amasso apaixonado do lado de dentro. Surpresos e envergonhados, eles se separam, olhando culpados em todas as direções, menos na nossa. Grey e eu entramos no elevador.
Eu estou lutando para manter uma expressão séria, então eu olho para o chão, sentindo minhas bochechas ficando vermelhas. Quando eu espio para Grey através de meus cílios, ela tem a sugestão de um sorriso em seus lábios, mas é muito difícil de dizer. O jovem casal não diz nada, e nós viajamos até o andar térreo em um silêncio constrangedor. Nós nem sequer temos uma inútil música ambiente para nos distrair.
As portas abrem e, para minha surpresa, Grey toma minha mão, apertando-a com seus dedos longos e frios. Eu sinto o choque correr por mim, e meus já rápidos batimentos aceleram. Quando ela me leva para fora do elevador, nós podemos ouvir as risadinhas suprimidas do casal que estoura atrás de nós. Grey sorri.
— O que tem os elevadores? — Ela murmura.
Nós cruzamos o extenso saguão movimentado do hotel, em direção à entrada, mas, Grey evita a porta giratória e, eu me pergunto se isto é porque ela teria que largar minha mão.
Do lado de fora, está um ameno domingo de maio. O sol está brilhando e o tráfico está limpo. Grey vira à esquerda e anda até a esquina, onde nós paramos, esperando pelas luzes de pedestres do cruzamento mudar. Ela ainda está segurando minha mão. Eu estou na rua, e Dulce Grey está segurando minha mão. Ninguém jamais segurou minha mão. Eu me sinto tonta, e eu estou formigando por toda parte. Eu tento sufocar o ridículo sorriso que ameaça repartir meu rosto em dois. Tente ficar fria, Anahi, meu subconsciente implora. O homem verde aparece, e nós andamos novamente.
Nós caminhamos quatro quarteirões, antes de alcançarmos a Cafeteria de Portland, onde Grey me libera para segurar a porta aberta, para que eu possa entrar.
— Por que você não escolhe uma mesa, enquanto eu pego as bebidas. O que você gostaria? — Ela pergunta, cortês como sempre.
— Eu quero… um, English Breakfast tea, em saquinho.
Ela levanta suas sobrancelhas.
— Café não?
— Eu não gosto de café.
Ela sorri.
— Ok, chá em saquinho. Açúcar?
Por um momento, eu fico atordoada, pensando que está me chamando carinhosamente, mas felizmente meu subconsciente entra em ação com lábios franzidos. Não, estúpida, se você quer açúcar?
— Não obrigada. — Eu olho para baixo para meus dedos atados.
— Alguma coisa para comer?
— Não obrigada. — Eu sacudo minha cabeça, e ela anda para o balcão.
Eu disfarçadamente olho para ela sob meus cílios, enquanto ela está na fila de espera para ser servido. Eu poderia observá-la o dia todo… ela é alta de ombros largos, esbelta e a forma como suas calças pendem de seus quadris… Oh meu Deus. Algumas vezes ela corre seus longos e graciosos dedos por seus agora, cabelos secos, mas ainda desordenado. Humm… eu gostaria de fazer isto. O pensamento vem espontaneamente em minha mente, e meu rosto incendeia. Eu mordo meu lábio e olho para minhas mãos novamente, não gostando para onde meus pensamentos rebeldes estão se dirigindo.
— Um centavo por seus pensamentos? — Grey está de volta, assustando-me.
Eu fico roxa. Eu estava apenas pensando em correr meus dedos por seus cabelos e perguntando-me se pareceria suave ao toque. Eu balanço minha cabeça. Ela está carregando uma bandeja, que ela coloca sobre a pequena mesa redonda de carvalho envernizada.Ela me entrega uma xícara e um pires, um pequeno bule, e um pratinho contendo um solitário saquinho de chá impresso “Twinings English Breakfast”, meu favorito. Ela carrega um café que ostenta um maravilhoso padrão de folhas impresso no leite. Como eles fazem isto? Eu me pergunto à toa. Ela também comprou um bolinho de mirtilo para si mesmo. Pondo de lado a bandeja, ela se senta do meu lado oposto e cruza suas longas pernas. Ela parece tão confortável, tão à vontade com seu corpo, eu a inveja. E aqui estou eu, toda desengonçada e descoordenada, incapaz de conseguir ir de A até B sem cair de cara no chão.
— Seus pensamentos? — Ela solicita.
— Este é meu chá favorito. — Minha voz é calma, ofegante. Eu simplesmente não posso acreditar que eu estou sentada em frente a Dulce Grey, em uma cafeteria em Portland. Ela franze a testa. Ela sabe que eu estou escondendo algo. Eu coloco o saquinho de chá no bule e quase que imediatamente o pesco novamente com minha colher de chá. Quando eu coloco o saquinho usado de volta no pratinho, ela dobra sua cabeça olhando pra mim interrogativamente.
— Eu gosto de meu chá preto e fraco, — eu murmuro como uma explicação.
— Entendo. Ele é seu namorado?
Uou… O que?
— Quem?
— O fotógrafo. José Rodriguez.
Eu rio nervosa, mas curiosa. O que deu a ela aquela impressão?
— Não. José é um bom amigo, apenas isto. Por que você pensou que ele fosse meu namorado?
— O modo como você sorriu para ele, e ele para você. — Seu olhar cinza mantém o meu. Ela é tão enervante. Eu quero desviar o olhar, mas eu estou presa, encantada.
— Ele é mais como da família, — eu sussurro.
Grey acena ligeiramente com a cabeça, aparentemente satisfeito com a minha resposta, e eu olho para baixo para seu bolinho de mirtilo. Seus longos dedos habilmente descascam o papel, e eu assisto fascinada.
— Você quer um? — Ela pergunta, e aquele secreto sorriso divertido, está de volta.
— Não obrigada. — Eu franzo a testa e olho para baixo, para minhas mãos novamente.
— E o garoto que eu conheci ontem na loja. Ele não é seu namorado?
— Não. Poncho é apenas um amigo. Eu disse a você ontem. — Oh, isto está ficando ridículo. — Por que você pergunta?
— Você parece ficar nervosa ao redor dos homens.
Puta merda, isto é pessoal. Eu fico nervosa apenas ao seu redor, Grey.
— Eu acho você intimidante. — Eu fico escarlate, mas mentalmente eu dou tapinhas em minhas costas pela minha franqueza, e olho para minhas mãos novamente. Eu ouço seu profundo suspiro.
— Você deve me achar intimidante, — ela acena concordando. — Você é muito honesta. Por favor, não olhe para baixo. Eu gosto de ver seu rosto.
Oh. Eu olho para ela, e ela me dá um sorriso encorajador, mas irônico.
— Isto me dá algum tipo de pista do que você pode estar pensando, — ela inspira. — Você é um mistério, Senhorita Steele.
Misteriosa? Eu?
— Não existe nada misterioso em mim.
— Eu penso que você é muito auto-suficiente, — ela murmura.
Eu sou? Uau… como vou administrar isto? Isto é desconcertante. Eu, auto-suficiente?
De jeito nenhum.
— Exceto quando você ruboriza, claro, o que acontece frequentemente. Eu só gostaria de saber por que você estava corada. — Ela joga um pequeno pedaço de bolinho em sua boca, e começa a mastigá-lo lentamente, sem tirar seus olhos de mim. Como se fosse uma sugestão, e eu ruborizo. Merda!
— Você sempre faz este tipo de observações pessoais?
— Eu não percebi que fosse. Eu ofendi você? — Ela parece surpreso.
— Não, — eu respondo honestamente.
— Bom.
— Mas você é muito arrogante, — eu retalio calmamente.
Ela levanta as sobrancelhas e, se não me engano, ela ruboriza ligeiramente também.
— Eu estou acostumada a fazer as coisas do meu jeito, Anahi , — ela murmura. — Com todas as coisas.
— Eu não duvido disso. Por que você não me pediu para chamá-la por seu primeiro nome? — Eu fico surpresa por minha audácia. Por que esta conversa se tornou tão séria? Isto não está indo do modo como eu pensei que fosse. Eu não posso acreditar que eu estou me sentindo tão antagônica com ela.
É como se ela estivesse tentando me advertir.
— As únicas pessoas que usam meu nome de batismo são a minha família e alguns amigos íntimos. Este é o modo que eu gosto.
Oh. Ela ainda não disse, “Chame-me Dulce”. Ela é um maníaco por controle, não existe nenhuma outra explicação, e parte de mim está pensando que, talvez, teria sido melhor se Kate a entrevistasse. Duas maníacas por controle, juntas. Mais claro que ela é quase loira, loira morango, como todas as mulheres em seu escritório. E ela é bonita, meu subconsciente me lembra. Eu não gosto da ideia de Dulce e Kate. Eu tomo um gole de meu chá, e Grey come outro pequeno pedaço de seu bolinho.
— Você é filha única? — Ela pergunta.
Uou… ela continua a mudar de direção.
— Sim.
— Fale-me sobre seus pais.