Pare! Pare Agora! - Meu subconsciente está
metaforicamente gritando comigo, braços dobrados, apoiando-se em uma perna e
batendo seu pé em frustração. Entre o carro, vá para casa, vá estudar. Esqueça
ela… Agora! E pare como toda essa
porcaria de auto-piedade.
Eu respiro bem fundo e levanto. Componha-se Anahi. Eu vou para o carro de Kate,
enxugando minhas lágrimas ao mesmo tempo. Eu não irei mais pensar nela. Eu
simplesmente posso encarar este incidente como uma experiência e me concentrar
nos meus exames.
Kate está sentada na mesa de jantar, com o
notebook, quando eu chego. Seu sorriso de boas vindas some quando ela me vê.
— Annie, o que aconteceu?
Ai, não... A inquisição de Katerine Kavanagh. Eu
sacudo minha cabeça para ela, como se dissesse — fique fora disso — mas eu
poderia perfeitamente estar lidando com um cego, surdo e mudo.
— Você andou chorando. — Ela tem um dom
excepcional para enunciar o que é malditamente óbvio, algumas vezes. — O que aquela bastarda fez para você? — ela
fala por entre os dentes, e seu rosto, Jesus! ela está apavorada.
— Nada, Kate. — Este é realmente o problema. O
pensamento traz um sorriso torto à minha face.
— Então, por que você estava chorando? Você nunca
chora. — Ela disse, sua voz se suavizando. Ela fica parada, seus olhos verdes
brilhando de preocupação. Ela coloca seus braços ao meu redor e me abraça.
Eu preciso dizer alguma coisa para ela me deixar
em paz.
— Eu quase fui atropelada por uma bicicleta. —
Era o melhor que eu podia fazer e isso a distraiu imediatamente...dela.
— Jesus, Annie! Você está bem? Está machucada? — Ela
me segura na distância dos braços estendidos e faz uma verificação visual de
mim.
— Não, Dulce me salvou. — eu sussurro. — Mas
foi apavorante.
— Eu não estou surpresa. Como foi o café da
manhã? Eu sei que você odeia café.
— Eu tomei chá. Foi legal, nada de mais para
contar. Eu não sei por que ela me convidou.
— Ela gosta de você Annie. — Ela abaixou seus
braços.
— Não mais. Eu não irei mais vê-la. — Sim, eu consigo lidar com isso.
— Ah é?
Droga. Ela ficou
curiosa. Eu vou para a cozinha para que ela não consiga ver meu rosto.
— Sim... Ela está fora do meu nível Kate. — Eu digo tão secamente quanto eu consigo.
— O que você quer dizer com isso?
— Ora, Kate, é óbvio. — Eu giro para encará-la na
porta da cozinha.
— Não para mim. — Ela diz. — Está bem, ela tem
mais dinheiro que você, mas até ai, ela tem mais dinheiro que muita gente nos
Estados Unidos.
— Kate, ela... — Eu dou de ombros.
— Annie, pelo amor de Deus! Quantas vezes eu vou
ter de te dizer? Você é realmente linda! — ela me interrompe. Ah não! Esse
discurso de novo não!
— Kate, por favor. Eu preciso estudar. — Eu a
corto. Ela franze a testa.
— Você quer ler o artigo? Eu já acabei. José
tirou fotos maravilhosas!
Será que eu preciso de uma lembrança visual da
beleza da Dulce eu – não- te- quero Grey?
— Claro. — Eu coloco um sorriso no rosto, como se
fosse mágica e vou até o notebook. E lá está ela, olhando para mim em preto e
branco, olhando para mim e encontrando minhas falhas. Eu finjo ler o artigo, o tempo todo olhando
para seu olhar cinzento, procurando na foto alguma pista o porquê dela não ser a mulher para mim – em suas próprias palavras. E subitamente, fica extremamente
óbvio. Ela é bonita demais. Nós estamos
em polos diferentes, em mundos diferentes. Eu tenho a visão de mim mesma como
Ícarus, voando perto demais do sol, queimando e caindo como resultado do meu
desejo. As palavras dela fazem sentido. Ela não é mulher para mim.
Foi isso o que ela quis dizer e faz com que a rejeição dela seja mais fácil de aceitar...Quase.
Mas eu posso viver com isso. Eu entendo. E se ela não gostar de garotas também. Ela pode apenas gostar da minha companhia e ponto.
— Está muito bom Kate. — eu digo. — Vou estudar.
— Eu não vou mais pensar nela. Eu prometo para mim mesma e abrindo minhas
anotações de revisão, começo a ler.
É apenas quando eu estou na cama, tentando
dormir, que eu me permito deixar meus pensamentos voltarem para minha estranha
manhã. Eu fico voltando à citação “eu não namoro” e eu fico zangada por não ter
descoberto esta informação mais cedo, quando eu estava em seus braços
mentalmente implorando com cada fibra do meu ser para que ela me beijasse. Ela já havia dito e repetido. Eu viro de lado. Estranhamente eu me pergunto se ela seria celibatária. Eu fecho meus olhos e começo a divagar. Talvez ela esteja se
guardando. “Bem, não para você.” Meu subconsciente sonolento me dá um último
golpe e me joga na terra dos sonhos.
E esta noite eu sonho
com olhos cinzentos, folhas caídas no leite, e eu estou em lugares escuros, com
uma luz estranha e eu não sei se estou correndo para alguma coisa ou de alguma
coisa... Não está claro.