— Já me deste os livros, que não posso aceitar, é
obvio. Mas a roupa... Por favor, me deixe que lhe pague isso, — digo tentando
convencê-la com um sorriso.
— Anahi, eu posso fazer isso, acredite.
— Não se trata disso. Por que teria que comprar
esta roupa?
— Porque posso.
Seus olhos despedem um sorriso malicioso.
— O fato de que possa não implica que deva, —
respondo tranquilamente.
Ela me olha elevando uma sobrancelha, com olhos
brilhantes, e de repente me dá a sensação de que estamos falando de outra
coisa, mas não sei do que. E isso me recorda...
— Por que me mandou os livros, Dulce? —
pergunto-lhe em tom suave.
Deixa os talheres e me olha fixamente, com uma
insondável emoção ardendo em seus olhos. Maldita seja... Ela me seca a boca.
— Bom,
quando o ciclista quase te atropelou... e eu te segurava em meus braços e me
olhava me dizendo: "me beije, me beije, Dulce"... Ela encolhe os ombros. — Bom, acreditei que
te devia uma desculpa e uma advertência. — passou uma mão pelo cabelo. — Anahi,
eu não sou uma mulher de flores e corações. Não me interessam as histórias de
amor. Meus gostos são muito peculiares. Deveria te manter afastada de mim. —
Fecha os olhos, como se negasse a aceitá-lo. — Mas há algo em ti que me impede
de me afastar. Suponho que já o tinha imaginado.
De repente, já não sinto fome. Não pode afastar-se de mim!
— Pois não te afaste — eu sussurro.
Ela ficou boquiaberta e com os olhos nos pratos.
— Não sabe o que diz.
— Pois me explique isso.
Olhamo-nos fixamente. Nenhum dos dois toca na comida.
— Então, sei que sai com mulheres... — digo-lhe.
Seus olhos brilham divertidos.
— Sim, Anahi, saio com mulheres. — Ela faz uma pausa para que assimile a informação e de novo me ruborizo. Tornou-se a romper o filtro que separa meu cérebro da boca. Não posso acreditar que disse algo assim em voz alta.
— Que planos tem para os próximos dias? — Ela me
pergunta em tom suave.
— Hoje trabalho, a partir do meio-dia. Que horas
são? — exclamo assustada.
— Pouco mais de dez horas. Tem tempo de sobra. E
amanhã? Colocou os cotovelos sobre a
mesa e apoiou o queixo em seus compridos e finos dedos.
— Kate e eu vamos começar a empacotar. Mudamos
para Seattle no próximo fim de semana, e eu trabalho no Clayton`s toda esta
semana.
— Já têm casa em Seattle?
— Sim.
— Onde?
— Não recordo o endereço. No distrito de Pike
Market.
— Não é longe de minha casa, — diz sorrindo. — E
no que vais trabalhar em Seattle?
Onde quer chegar com todas estas perguntas? A santa inquisidora Dulce Grey é quase tão pesada como a Santa inquisidora
Katherine Kavanagh.
— Mandei meu curriculum para vários lugares para
fazer estágio. Ainda espero resposta.
— E a minha empresa, como te comentei?
Ruborizo-me... Claro que não.
— Bom... não.
— O que tem de ruim com minha empresa?
— Sua empresa ou sua "companhia"? —
pergunto-lhe com uma risada maliciosa.
— Está rindo de mim, senhorita Steele?
Inclina a cabeça e acredito que parece divertida,
mas é difícil sabê-lo. Ruborizo e desvio meu olhar para meu café da manhã. Não
posso olhá-la nos olhos quando fala nesse tom.
— Eu gostaria de morder esse lábio — sussurra
perturbadoramente
Não estou consciente de que estou mordendo meu
lábio inferior. Depois de um leve susto, fico boquiaberta. É a coisa mais sexy
que me disse. Meu coração pulsa a toda velocidade e acredito que estou
ofegando. Meu Deus! Estou tremendo, totalmente perdida e meio doida. Mexo-me na
cadeira e procuro seu impenetrável olhar.
— Por que não o faz? — a desafio em voz baixa.