—Sim, para mim também foi uma novidade, — Ela diz sorrindo. —Dormir com uma mulher... sem sexo.
— Sim, "sexo", — digo e ruborizo, é obvio.
—Não, — responde-me movendo a cabeça e franzindo o cenho, como se acabasse de recordar algo desagradável. — Sinceramente, só dormir com uma mulher.
Agarra o jornal e segue lendo.
Que significa isso? Alguma vez dormiu com uma
mulher? É virgem? Duvido, de verdade. Fico olhando-a sem acreditar nisso. É a
pessoa mais enigmática que já conheci. Dei-me conta de que dormi com Dulce Grey. Quanto teria dado para estar consciente e vê-la dormir? Vê-la vulnerável.
Custa-me imaginá-la. Bom, supõe-se que o descobrirei esta mesma noite.
Já no quarto,
procuro em uma cômoda e encontro o secador. Seco o cabelo como posso, lhe dando
forma com os dedos. Quando terminei, vou ao banheiro. Quero escovar os dentes.
Vejo a escova de Dulce. Seria como colocar ela na boca. Mmm... Olho
rapidamente para a porta do banheiro...
me sentindo culpada. Está úmida. Deve tê-la utilizado. Agarro-a a toda
pressa, coloco pasta de dente e me escovo rapidamente. Sinto-me como uma garota
má. Resulta muito emocionante.
Recolho a camiseta, o sutiã e a calcinha de
ontem, meto-os na bolsa que me trouxe Taylor e volto para a sala de estar a
procurar da bolsa e da jaqueta. Para minha grande alegria, tenho um elástico de
cabelo na bolsa. Dulce me observa com expressão impenetrável enquanto me
arrumo. Noto como seus olhos me seguem enquanto me espera que eu termine. Está
falando com alguém no seu celular.
— Querem dois...? Quanto vai custar...? Bem, e
que medidas de segurança temos ali...? Irã pelo Suez...? Ben Suam é seguro...?
E quando a Darfur...? De acordo, adiante. Mantenha-me informada de como vão às
coisas.
— Está pronta? — ela pergunta-me.
Confirmo. Pergunto-me sobre o que era a conversa. Agarra as chaves do carro e se dirige à porta.
— Você primeiro, senhorita Steele, — murmura me
abrindo a porta.
Tem um aspecto elegante, embora informal.
Fico olhando-a por um segundo mais. E pensando
que dormi com ela esta noite, e que, fora às tequilas e o vômito, continua
aqui. Não só isso, mas além disso quer me levar a Seattle. Por que a mim? Não o
entendo. Cruzo a porta recordando suas palavras: "Há algo em ti...".
Bom, o sentimento é mútuo, senhora Grey, e quero descobrir qual é seu segredo.
Percorremos o caminho em silencio até o elevador.
Enquanto esperamos, levanto um instante à cabeça para ela, que está me olhando.
Sorrio e ela franze os lábios.
Chega o elevador e entramos. Estamos sozinhas. De
repente, por alguma inexplicável razão, provavelmente por estar tão perto em um
lugar tão reduzido, a atmosfera entre nós muda e se carrega de elétrica e
excitante antecipação. Acelera-me a respiração e o coração dispara. Ela olha um
pouco para mim, com olhos totalmente impenetráveis. Olha-me o lábio.
— Merda a papelada. Encosta-se em mim e me
empurra contra a parede do elevador. Antes que me dê conta, me sujeita os dois
pulsos com uma mão, levanta-os acima da minha cabeça e me imobiliza contra a
parede com os quadris. Minha mãe. Com a outra mão me agarra pelo cabelo, puxa-o
para baixo para me levantar o rosto e cola seus lábios aos meus. Quase me faz
mal. Gemo o que lhe permite aproveitar a ocasião para colocar a língua e me
percorrer a boca com perita perícia. Nunca me beijaram assim. Minha língua
acaricia timidamente a sua e se une a uma lenta e erótica dança de sensações,
de sacudidas e empurradas. Levanta a mão e me agarra a mandíbula para que não
me mova. Estou indefesa, com as mãos unidas acima da cabeça, o rosto preso e
seus quadris me imobilizando.
Meu deus...
Deseja-me. Dulce Grey, deseja-me, e eu a desejo, aqui...
Agora, no elevador.