— Mandou-lhe por e-mail uma informação confidencial, Sra. Grey.
Era uma voz de mulher.
— Bom. Isso é tudo, Andrea.
— Tenha um bom dia, senhora.
Dulce desligou ao pressionar um botão do volante. Logo que a música recomeçou, o telefone voltou a tocar. Nisto consistia sua vida, em constantes telefonemas irritantes?
— Grey. — Disse bruscamente.
— Olá, Dulce. Relaxou?
— Olá, Eliot... Estou no viva voz e não estou sozinha no carro.
Dulce suspirou.
— Quem está contigo?
Dulce balançou a cabeça.
— Anahi Steele.
— Olá, Annie!
— Olá, Eliot.
— Falaram-me muito de ti. — Eliot Murmurou com voz rouca.
Dulce franziu o cenho.
— Não acredite em uma palavra do que Kate te contou. — Annie disse.
Eliot riu.
— Estou levando Anahi para casa. — Dulce disse usando meu nome completo. — Quer que te apanhe?
— Claro.
— Vejo você mais tarde.
Dulce desligou o telefone e a música voltou a
tocar.
— Por que você insiste em chamar-me Anahi?
— Porque é seu nome.
— Prefiro Annie.
— De verdade?
Quase chegamos a minha casa. Não demoramos muito.
— Anahi.... — Disse-me pensativa.
Olhei-a com uma expressão má, mas ela não se
importou.
— O que aconteceu no elevador... não voltará a acontecer.
Bom, a menos que seja premeditado. — Ela disse.
Parou o carro em frente a minha casa. Dei-me
conta, de repente, que não me perguntou onde eu vivia. Já sabia. Claro que
sabia onde vivo, pois me enviou os livros. Como não o faria uma caçadora, com um
rastreador de celular e proprietário de um helicóptero?
Por que não vai voltar a me beijar? Faço um gesto
de desgosto ao pensar nisso. Não a entendo. Honestamente, seu sobrenome deveria
ser Enigmática, não Grey. Ela saiu do carro, andando com facilidade, suas
pernas longas deram a volta com graça ao redor do carro para o meu lado a fim
de abrir a porta.
— Gostei do que aconteceu no elevador. — Murmurei
ao sair do carro.
Não estou segura se ouvi um ofegar afogado, mas
escolhi fazer caso omisso e subi os degraus da entrada.
Kate e Eliot estavam sentados à mesa. Os livros
de quatorze mil dólares não estavam ali, felizmente. Tenho planos para eles.
Kate mostrou um sorriso ridículo e pouco habitual, e sua juba despenteada lhe
dava um ar muito sexy. Dulce me seguiu até a sala de estar, e embora Kate
sorrisse com uma expressão de ter passado uma grande noite, a olhou com
desconfiança.
— Olá, Annie.
Levantou-se para me abraçar e no momento que me
separou um pouco, me olhou de cima a baixo. Franziu o cenho e se voltou para
Dulce.
— Bom dia, Dulce! — Disse-lhe em tom
ligeiramente hostil.
— Senhorita Kavanagh — Respondeu em seu
endurecido tom formal.
— Dulce, seu nome é Kate, — Eliot resmungou.
— Kate.
Dulce assentiu com educação e encarou Eliot,
que riu e se levantou para também me abraçar.
— Olá, Annie.
Sorri e seus olhos azuis brilharam. Fiquei bem
imediatamente. É óbvio que não tinha nada a ver com Dulce, mas, claro, são
irmãos adotivos.
— Olá, Eliot.
Sorri para ele e me dei conta de que mordia meus
lábios.
— Eliot, temos que ir. — Dulce disse em tom
suave.
— Claro.
Virou-se para Kate, abraçou-a e lhe deu um
interminável beijo.
Jesus... Arrumem um quarto! Olhei para meus pés, incômoda. Levantei a visão para Dulce, que
me olhava fixamente. Sustentei-lhe o olhar. Por que não me beija assim? Eliot
continuou beijando Kate, empurrou-a para trás e a fez dobrar-se de forma tão
teatral que o cabelo dela quase toca o chão.
— Até mais, querida! — Disse-lhe sorridente.
Kate se derreteu. Nunca antes a tinha visto
derretendo-se assim. Veio-me à cabeça as palavras "formosa" e
"complacente". Kate, complacente. Eliot deve ser muito bom. Dulce revirou os olhos e me olhou com expressão impenetrável, embora possivelmente a
situação a divertisse um pouco. Apanhou uma mecha de meu cabelo que escapou do
meu rabo de cavalo e o pôs atrás da orelha. Minha respiração entrecortou e ela inclinou minha cabeça com seus dedos. Seus olhos se suavizaram e passou o polegar
por meu lábio inferior. O sangue queimou através das minhas veias. E
imediatamente retirou a mão.
— Até mais, querida. — Murmurou.
Não pude evitar rir, porque a frase não combinava
com ela. Mas embora saiba que está esquivando-se, aquelas palavras ficaram
cravadas dentro de mim.
— Passarei para te buscar as oito.
Deu meia volta, abriu a porta da frente e saiu
para a varanda. Eliot a seguiu até o carro, mas se voltou e lançou outro beijo
para Kate. Senti uma inesperada pontada de ciúmes.
— E então? — Kate perguntou-me com evidente
curiosidade enquanto os observamos subir no carro e afastar-se.
— Nada. — Respondi bruscamente, com a esperança
de que isso a impedisse de continuar com as perguntas.
Entramos em casa.
— Mas é evidente que sim! — Disse-me.
— Vou vê-la novamente esta noite.
Aplaudiu e pulou como uma menina pequena. Não
pode reprimir seu entusiasmo e sua alegria, e eu não pude evitar me alegrar.
Era interessante ver Kate contente.
— Esta noite Dulce vai levar-me a Seattle.
— A Seattle?
— Sim.
— E possivelmente ali...?
— Assim espero.
— Então você gosta dela, não é?
— Sim.
— Você gosta o suficiente para...?
— Sim.
Ergueu as sobrancelhas.
— Uau. Por fim Annie Steele se apaixona por uma mulher, e é Dulce Grey, a bonita e sexy multimilionária.
— Claro, claro, é apenas pelo dinheiro.
Sorri afetadamente até que ao final tivemos
ambas, um ataque de riso.
— Essa blusa é nova? — Perguntou-me.
Deixei que ela soubesse todos os detalhes
desinteressantes sobre a minha noite.
— Já te beijou? —Perguntou-me enquanto preparava
um café.
Ruborizei-me.
— Uma vez.
— Uma vez!
— Exclamou.
Assenti bastante envergonhada.
— É muito reservada.
Kate franziu o cenho.
— Que estranho.
— Não acredito, na verdade, que a palavra seja
"estranho".
— Temos que nos assegurar de que esta noite esteja irresistível. —Disse-me muito decidida.
OH, não... Já vejo que vai ser um tempo perdido, humilhante e doloroso.