A verdade é que acredito que nunca te vi tão pálida, Anahi. — Murmurou. —
Está com fome?
Neguei com a cabeça. Não de comida.
— Que casa tão grande.
— Grande?
— Grande.
— É grande. — Admitiu com um olhar divertido.
Tomei outro gole do vinho.
— Sabe tocar? — Perguntei-lhe apontando para o piano.
— Sim.
— Bem?
— Sim.
— Claro, como não. Há algo que não faça bem?
— Sim... umas duas ou três coisas.
Tomou um gole de vinho sem tirar os olhos de cima de mim. Sinto que seu olhar me seguia quando me virei e olhei o imenso salão. Mas não deveria chamar-lhe "salão".
Não é um salão, a não ser uma declaração de princípios.
— Quer te sentar?
Concordei com a cabeça. Agarrou minha mão e me levou ao grande sofá de cor nata. Enquanto me sentava, assaltava-me a ideia de que pareço Tess Durbeyfield observando a nova casa do notário Alec d`Urbervile. A ideia me fez sorrir.
— O que te parece tão divertido?
Estava sentada ao meu lado, me olhando.
Descansava a cabeça sobre a mão direita e o cotovelo estava apoiado na parte de
trás do sofá.
— Por que me deu de presente precisamente Tess,
de D`Urberville? — Perguntei-lhe.
Dulce me olhou fixamente um momento. Acredito
que lhe surpreendeu minha pergunta.
— Bom, disse-me que gostava de Thomas Hardy.
— Só por isso?
Até eu sou consciente de que minha voz soava
decepcionada. Apertou os lábios.
— Pareceu-me apropriado. Eu poderia te empurrar
para algum ideal impossível, como Angel Clare, ou te corromper completamente,
como Alec d`Urbervile. — Murmurou.
Seus olhos brilharam impenetráveis e perigosos.
— Se apenas houver duas possibilidades, escolho a
corrupção. —sussurrei enquanto a encarava.
Meu subconsciente me observava assombrada.
Dulce ficou boquiaberta.
— Anahi, deixa de morder o lábio, por favor.
Desconcentra-me. Não sabe o que diz.
— Por isso estou aqui.
Franziu o cenho.
— Sim. Desculpa-me um momento?
Desapareceu por uma grande porta no outro extremo
do salão. Voltou em dois minutos com uns papéis nas mãos.
—Isto é um acordo de confidencialidade. —
Encolheu os ombros e pareceu ligeiramente incômoda. — Meu advogado insistiu.
Estendeu-me os papéis. Fiquei totalmente perplexa.
— Se escolher a segunda opção, a corrupção, terá que assiná-los.
— E se não quiser assinar nada?
— Então fica com os ideais de Angel Clare, bom, ao menos na maior parte do livro.
— O que implica este acordo?
— Implica que não pode contar nada do que aconteça entre nós. Nada a ninguém.
Observei-a sem dar crédito. Merda. Tem que ser ruim, ruim de verdade, e agora tenho muita curiosidade por saber do que se trata.
— De acordo, assinarei.
Estendeu-me uma caneta.
— Nem sequer vai ler?
— Não.
Franziu o cenho.
— Anahi, sempre deveria ler tudo o que
assina. — Arremeteu.
— Dulce, o que não entende é que em nenhum
caso falaria sobre nós com ninguém. Nem sequer com Kate. Assim que dá no mesmo
se assinar um acordo ou não. Se for tão importante para ti ou para seu
advogado... que é óbvio que você falou de mim para ele, de acordo.
Assinarei.
Observou-me fixamente e assentiu muito séria.
— Boa observação, Srta. Steele.
Assinei as duas cópias com um grandiloquente
gesto e lhe devolvi uma. Dobrei a outra, enfiei-a na minha bolsa e tomei um
comprido gole de vinho. Parecia muito mais valente do que em realidade me
sentia.
— Quer dizer com isso que vais fazer amor comigo
esta noite, Dulce?
Maldita seja! Acabei de dizer isso? Abri ligeiramente a boca, mas em seguida se recompus.
— Não, Anahi, não quer dizer isso. Em
primeiro lugar, eu não faço amor. Eu fodo.. Em segundo lugar, temos
muito mais papelada que arrumar. E em terceiro lugar, ainda não sabe do que se
trata. Ainda poderia sair correndo. Veem, quero te mostrar meu quarto de jogos.
Fiquei boquiaberta. Fodo ! Minha mãe. Isso soa tão... quente. Mas por que vamos ver
um quarto de jogos? Estou perplexa.
— Quer jogar Xbox? — Perguntei-lhe.
Riu às gargalhadas.
— Não, Anahi, nem Xbox, nem PlayStation. Venha.
Levantou-se e me estendeu a mão. Deixei que me
levasse de volta para o corredor. À direita das portas duplas, de onde viemos
havia outra porta que dava a uma escada.
Subimos ao andar de cima e viramos à direita.
Retirou uma chave do bolsinho, virou a fechadura de outra porta e respirou
fundo.
— Pode partir em qualquer momento. O helicóptero
está preparado para te levar aonde queira. Pode passar a noite aqui e partir
amanhã pela manhã. O que disser, para mim, estará bem.
— Abre a maldita porta de uma vez, Dulce.
Abriu a porta e se afastou a um lado para que eu
entrasse primeiro. Voltei a olhá-la. Queria saber o que havia ali dentro. Parei
e entrei.
E senti como se ela tivesse me transportado ao
século XVI, à época da Inquisição espanhola.
Puta merda.
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Gente é isso ta ... amanha vou viajar bem cedo volto na terça ai eu posto mais para voces viu !