— Significa que quero que se renda a mim, em
tudo, voluntariamente.
Olhei com o cenho franzido, tentando assimilar a
ideia.
— Porque faria algo assim?
— Para satisfazer-me. — Murmurou inclinando a cabeça.
Vejo que esboçou o sorriso.
Satisfazer-me! Quer que a satisfaça! Acho que fiquei com a boca aberta. Satisfazer Dulce Grey. E nesse momento percebo que sim, que é
exatamente o que quero fazer. Quero que ela desfrute comigo. É uma revelação.
— Digamos, em termos muito simples, que quero que
queira me satisfazer. — Disse em voz
baixa, hipnótica.
—Como tenho que fazer?
Senti a boca seca. Queria que tivesse mais vinho.
Certo, entendo o de satisfazê-la, mas o quarto de tortura isabelino me deixou
desconcertada. Quero saber a resposta?
— Tenho normas e quero que as aceite. São normas
que te beneficiam e me proporcionam prazer. Se cumprir essas normas para
satisfazer-me, te recompensarei. Se não, te castigarei para que aprendas. —
Sussurra. Enquanto fala comigo, olho para a estante de varas.
— E em que momento entra em jogo tudo isso? —
Pergunto apontando com a mão ao redor do quarto.
— É parte do pacote de incentivos. Tanto da
recompensa como do castigo.
— Então desfrutará exercendo sua vontade sobre mim.
— Se trata de ganhar sua confiança e seu respeito
para que me permita exercer minha vontade sobre ti. Obterei um grande prazer,
inclusive uma grande alegria, caso você se submeta. Quanto mais se submeter,
maior será minha alegria. A equação é muito simples.
— Certo, e o que eu ganho de tudo isso?
Encolheu os ombros no que pareceu um gesto de
desculpa.
—A mim. — Limitou-se a responder.
Deus meu…
Dulce me observava passar a mão pela vara.
— Anahi, não tem maneira de saber o que
pensa. — Murmurou nervosa. – Vamos voltar para baixo, assim poderei me
concentrar melhor. Desconcentro-me muito contigo aqui.
Estendeu uma mão, mas não sabia se agora queria
segurá-la.
Kate disse que era perigoso e tinha muita razão. Como ela sabia? Era perigoso para minha
saúde, porque sabia que iria dizer que sim. E uma parte de mim quer gritar e
sair correndo por este quarto e tudo o que representa. Sinto-me muito
desorientada.
— Não vou te machucar, Anahi.
Sabia que não estava mentindo. Segurei sua mão e
saí com ela do quarto.
— Quero mostrar algo, se por acaso aceitar.
Em lugar de descer as escadas, girou a direita do
quarto de jogos como ela o chamava e
avançou pelo corredor. Passamos junto a várias portas até chegarmos à
última. Do outro lado havia um
dormitório com uma cama de casal. Tudo era branco… tudo: os móveis, as paredes,
a roupa de cama. Era limpa e fria, mas como uma vista preciosa de Seattle desde
a janela de cristal.
— Este será seu quarto. Pode decorá-lo a seu
gosto e ter aqui o que quiser.
— Meu quarto? Espera que venha viver aqui? —
Pergunto sem poder dissimular meu tom horrorizado.
— Viver não. Apenas, digamos, de sexta à noite
até a noite de domingo. Temos que conversar sobre o tema e negociar. —
Acrescentou em voz baixa e duvidosa.
— Dormirei aqui?
— Sim.
— Não contigo.
—Não. Já disse. Eu não durmo com ninguém. Apenas
contigo quando se embebedou até perder o sentido. — Disse em tom de reprimenda.
Aperto meus lábios. Há algo que não se encaixa. A amável e cuidadosa Dulce, que me resgata quando estou bêbada e me segura
amavelmente enquanto vômito e o monstro que tem um quarto especial cheio de
chicotes e algemas é o mesmo?
— Onde você dorme?
— Meu quarto está abaixo. Vamos, deve sentir
fome.
— É estranho, mas acho que perdi a fome. —
Murmurei sem vontade.
— Tem que comer Anahi. — Chamou minha
atenção.
Segurou minha mão e voltamos para o andar de
baixo.
De volta para o salão incrivelmente grande, me
senti inquieta. Estou à borda de um precipício e tenho que decidir se quero
saltar ou não.
— Sou totalmente consciente de que estou indo por
um caminho escuro, Anahi, e por isso quero de verdade que pense bem. Com
certeza tem coisas para perguntar-me. — Disse soltando minha mão e dirigindo-se
com passo tranquilo para a cozinha.
Eu tenho. Mas por onde começo?
— Assinou um acordo de confidencialidade, assim que pode perguntar o que quiser e responderei.
Estou junto à bancada da cozinha e observo como abre a geladeira e tira um prato de queijo com dois enormes cachos de uva brancas e vermelhas. Deixa o prato sobre a mesa e começa a cortar o pão.
— Sente-se. — Disse apontando um banco junto à bancada.
Obedeço a sua ordem. Se vou aceitar, terei que me acostumar. Percebo que se mostrou dominante desde que a conheci.
— Falou sobre os papéis.
— Sim.
— A que se refere?
— Bom, além do acordo de confidencialidade, há um contrato que especifica o que faremos e o que não faremos. Tenho que saber quais são seus limites, e você tem que saber quais são os meus. Trata-se de um consenso, Anahi.
— E se não quiser?
— Perfeito. — Responde com prudência.
— Mas, não teremos nenhuma relação? — Pergunto.
— Não.
—Por quê?
— É esse o único tipo de relação que me
interessa.
— Por quê?
Encolheu os ombros.
— Sou assim.
— E como chegou a ser assim?
— Por que cada um é como é? É muito difícil
saber. Porque uns gostam de queijo e outros odeiam? Você gosta de queijo? A
senhora Jones, minha governanta deixou queijo para o jantar.
Tirou dois grandes pratos brancos de um armário e
colocou diante de mim.
E agora começamos a falar sobre queijo… maldição…
— Que normas tenho que cumprir?
— Tenho por escrito. Veremos depois de jantar.
Comida… Como vou comer agora?
— De verdade, não tenho fome. — Sussurrei.
— Vai comer — Se limitou a responder.
A dominante Dulce. Agora está tudo claro.