Dulce percorre seu estúdio de um lado a outro
passando as mãos pelo cabelo.
As duas mãos... o que quer dizer que está duplamente
zangada. Seu férreo controle habitual parece haver rachado.
— Não entendo por que não me disse isso,
— ela diz zangada.
— Não vi razão para isso. Não tenho por
costume ir falando por aí sobre a minha vida sexual. Além disso... acabamos de
nos conhecer. — Olho para as minhas mãos. Por que me sinto culpada? Por que
está tão zangada? Olho para ela.
— Bom, agora sabe muito mais de mim —
diz-me bruscamente, e aperta os lábios. —Sabia que não tinha muita experiência,
mas... virgem! — Ela fala como se fosse um insulto.
— Inferno, Annie, eu acabo de te mostrar... —
queixa-se. — Que Deus me perdoe. Já beijaram você alguma vez, sem que tenha
sido eu?
— Claro que sim, — respondo-lhe tentando
parecer ofendida. Ok... talvez, duas vezes.
— E nenhum pessoa bonita a fez se
apaixonar? Realmente, não entendo. Tem vinte e um anos, quase vinte e dois.
Você é bonita. — Volta a passar a mão pelo cabelo.
Bonita. Ruborizo-me de alegria.
Dulce Grey me considera bonita. Entrelaço os dedos e olho para ela fixamente,
tentando dissimular meu estúpido sorriso. Talvez ela seja míope, meu
subconsciente adormecido levanta a cabeça. Onde estava quando eu necessitava
dela?
— E você está realmente falando sobre o
que quero fazer, quando não tem experiência?
Junta suas sobrancelhas outra vez.
— Por que evitou o sexo? Conte-me, por favor.
Encolho os ombros.
— Ninguém realmente, você sabe... —
Ninguém me fez sentir assim, só você. E no final, você é uma espécie de
monstro. — Por que está tão zangada comigo? — sussurro-lhe.
— Não estou zangada contigo, estou zangada comigo
mesmo. Eu pensei que... — ela suspira. Ela olha atentamente para mim e balança
a cabeça. — Quer partir ? — pergunta-me, em tom gentil.
— Não, a menos que você queira que eu
parta — murmuro. Oh não... Eu não quero partir.
— Claro que não. Eu gosto tê-la aqui. — Ela me
diz franzindo o cenho e dá uma olhada ao relógio. — É tarde. — E volta a
levantar os olhos para mim. — Você está mordendo o lábio. — Diz-me com voz
rouca e me olha especulativo.
— Desculpe.
— Não se desculpe. É que eu também quero
mordê-lo, forte.
Fico boquiaberta... Como pode me dizer
essas coisas e esperar que não me afetem?
— Venha, — Ela murmura.
— O que?
— Vamos arrumar a situação agora mesmo.
— O que quer dizer? Que situação?
— Sua situação, Annie. Vou fazer amor com
você, agora.
— Oh. — Sinto que o chão se move. Sou
uma situação. Prendo a respiração.
— Isto é, se você quiser, eu quero
dizer, não quero tentar a minha sorte.
— Eu pensei que você não fizesse amor. Pensei
que você só fodesse duro. — Engulo em seco, de repente minha boca ficou seca.
Lança-me um sorriso perverso e os
efeitos dela percorrem o meu corpo até chegar lá...
— Posso fazer uma exceção, ou talvez
combinar as duas coisas, veremos. Eu realmente quero fazer amor com você. Por
favor, venha para a cama comigo. Quero que nosso acordo funcione, mas você tem
que ter uma ideia de onde está se metendo. Podemos começar seu treinamento esta
noite... com o básico. Isso não significa que venha com flores e corações, é um
meio para chegar a um fim, mas quero esse fim e espero que você o queira
também. — Seu olhar cinza é intenso.
Ruborizo-me... oh...meus...
desejos se tornaram realidade.
— Mas não tenho que fazer tudo o que
pede em sua lista de normas. — Digo-lhe com voz entrecortada e insegura.
— Esqueça das normas. Esqueça de todos
esses detalhes por esta noite. Desejo-te. Desejei-te desde que entrou em meu
escritório, e sei que você também me deseja. Não estaria aqui conversando
tranquilamente sobre castigos e limites rígidos se não me desejasse. Annie, por favor,
fica comigo esta noite. — Estende-me a mão com olhos brilhantes, ardentes...
excitados, e eu coloquei minha mão na sua. Ela me puxa para cima e para os seus
braços, para que eu possa sentir o comprimento do seu corpo contra o meu, esta
ação rápida pegou-me de surpresa. Ela passa os dedos em volta da minha nuca,
pega o meu rabo de cavalo em seu pulso, puxa delicadamente e desfaz. Eu sou
forçada a olhar para ela. Ela olha para mim.
— É uma garota muito valente, —
sussurra-me. — Estou fascinada por você.
Suas palavras são como um artefato incendiário.
Arde-me o sangue. Ela inclina-se, beija-me brandamente e me chupa o lábio
inferior.
— Queria morder este lábio, — ela murmura sem separar-se de minha boca. Cuidadosamente, ela o puxa com os dentes.
Eu gemo e ela sorri.
— Por favor, Annie, me deixe fazer amor
com você.
— Sim, — eu sussurro. Por isso eu estou
aqui. Vejo seu sorriso é triunfante quando me solta, agarra-me a mão e me
conduz através do apartamento.
Seu quarto é grande. Das altas janelas,
que vão do chão ao teto, pode-se ver os iluminados arranha-céus de Seattle.
As paredes são brancas, e os acessórios, azul
claro. A enorme cama é ultramoderna, de madeira maciça de cor cinza, com quatro
postes, mas sem dossel. Na parede da cabeceira há uma impressionante paisagem
marinha.
Estou tremendo como uma folha. É isto.
Por fim, depois de tanto tempo, vou fazer isso, e nada menos que com Dulce Grey. Respiro entrecortadamente e não posso tirar os olhos dela.
Ela tira o relógio e o deixa em cima de uma
cômoda ao lado da cama. Ela tira a jaqueta e a deixa em uma cadeira. Ela está
com uma blusa branca e jeans.
Ela é absurdamente bonita. Seu cabelo cor de
cobre escuro está alvoroçado, ela pendura a jaqueta... Seus olhos cinzentos são
ousados e deslumbrantes. Descalça o tenis e se inclina para tirar as meias,
também. Os pés de Dulce Grey... Uau... o que há sobre pés descalços? Ela vira-se e me olha com expressão doce.
— Quer que feche as persianas? Ela diz calmamente
— Não me importa. — sussurro. — Pensei
que permitisse a ninguém dormir em sua cama.