OH, não... Kate. Deixei a bolsa
no estúdio de Dulce. Vou buscá-la e pego meu celular. Três mensagens.
*Tudo OK Annie?*
*Onde estás Annie?*
*Que droga Annie!*
Ligo para Kate, mas não me responde e
lhe deixo uma mensagem na secretária eletrônica, lhe dizendo que estou viva e
que nada acabou comigo, bem, ao menos não no sentido que poderia lhe
preocupar... ou talvez sim. Estou muito confusa. Tenho que tentar me
esclarecer e analisar meus sentimentos por Dulce Grey. É impossível. Movo a
cabeça me dando por vencida. Preciso estar sozinha, longe daqui, para pensar.
Encontro na bolsa dois elásticos para o
cabelo e rapidamente faço duas tranças. Sim! Possivelmente quanto mais menina
pareça, mais a salvo estarei da Dulce. Pego o meu iPod na bolsa e coloco os
fones. Não há nada como música, para cozinhar. Coloco o iPod no bolso da camisa, subo o volume e começo a dançar.
Santo inferno, eu estou faminta.
A cozinha me intimida um pouco. É elegante e moderna,
com armários sem puxadores. Demoro uns segundos em chegar à conclusão de que
tenho que pressionar as portas para que se abram. Possivelmente deveria
preparar o café da manhã para Dulce. No outro dia comeu uma panqueca...
Bem, ontem, no Heathman. Caramba, quantas coisas aconteceram desde ontem. Abro
a geladeira, vejo que há muitos ovos e pego o que quero para panquecas e bacon.
Começo a fazer a massa dançando pela cozinha.
Estar ocupada é bom. Isso me concede um
pouco de tempo para pensar, mas sem aprofundar muito. A música que ressona em
meus ouvidos também me ajuda a afastar os pensamentos profundos. Eu vim para cá
para passar a noite na cama de Dulce Grey e consegui, embora ela não
permita a ninguém dormir em sua cama. Sorrio. Missão cumprida. Bons momentos.
Sorrio. Bons, muito bons momentos, e começo a divagar recordando a noite. Suas
palavras, seu corpo, sua maneira de fazer amor... Fecho os olhos, meu corpo
vibra ao recordá-la e os músculos de meu ventre se contraem. Meu subconsciente me
faz cara feia. Sua maneira de foder, não de fazer amor, grita-me como
uma harpia. Não faço conta, mas no fundo sei que tem razão. Movo a cabeça para
me concentrar no que estou fazendo.
A cozinha é muito sofisticada. Confio
que saberei como funciona. Necessito de um lugar para deixar as panquecas, para
que não esfriem. Começo com o bacon. Amy Studt está cantando em meu ouvido uma
canção sobre gente inadaptada, uma canção que sempre significou muito para mim,
porque sou uma inadaptada. Nunca me encaixei em nenhum lugar, e agora... tenho
que considerar uma proposta indecente da Rainha dos Desajustes. Por que Dulce é assim? Por natureza ou por educação? Nunca conheci a ninguém igual.
Coloco o bacon no grill, enquanto frita,
bato os ovos. Volto-me e vejo Dulce sentada em um tamborete, com os
cotovelos em cima do balcão de café da manhã e o rosto apoiado na mão. Veste o camisão com que dormiu. O cabelo estava preso num rabo de cavalo, fica realmente bem. Parece divertida e surpresa ao mesmo tempo. Fico paralisada
e ruborizada. Logo me acalmo e tiro os fones. Com os joelhos tremendo, só de
vê-la.
— Bom dia, senhorita Steele. Está muito ativa
esta manhã, — diz-me em tom frio.
— Eu dormi bem, — digo-lhe gaguejando.
Ela tenta dissimular seu sorriso.
— Não imagino por que. — ela faz uma
pausa e franze o cenho. — Eu também, quando voltei para a cama.
— Está com fome?
— Muita, — responde-me com um olhar
intenso, e acredito que não se refere à comida.
— Panquecas, bacon e ovos?
— Soa muito bem.
— Não sei onde estão os guardanapos de
mesa. — Encolho os ombros e tento desesperadamente não parecer nervosa.
— Eu me ocupo disso. Você cozinha. Quer
que ponha música, então você pode continuar... err... dançando?
Olho para os meus dedos, perfeitamente
consciente de que estou ruborizando.
— Por favor, não pare por minha causa.
Isso é muito interessante, — diz-me em tom zombador.
Enrugo os lábios. Interessante, verdade?
Meu subconsciente se dobra de rir.
Viro e sigo batendo os ovos, certamente com mais
força do que necessário.
Num instante, ela está ao meu lado. Ela gentilmente puxa a minha trança.
— Eu adoro isso, — sussurra. — Mas não vão proteger você.
— Como quer os seus ovos? — pergunto-lhe bruscamente. Ela sorri.
— Completamente batidos e espancados, — ela sorri.