— Levarei você ao trabalho amanhã, às nove.
Franzo o cenho. Quer que eu fique outra noite?
— Tenho que voltar para casa esta noite. Preciso
trocar de roupa.
— Podemos comprar algo.
Não tenho dinheiro para comprar roupa.
Levanta a mão, agarra o meu queixo e faz meus dentes soltarem meu lábio
inferior. Eu não estava consciente de que me estava mordendo o lábio.
— O que acontece? — pergunta-me.
— Tenho que voltar para casa esta noite.
Ela aperta a boca em uma linha dura.
— Ok, esta noite, — ela aceita. — Agora acabe o
café da manhã.
Minha cabeça e meu estômago dão voltas.
Meu apetite sumiu. Contemplo a metade de meu café da manhã, que segue no prato.
Já não tenho fome.
— Coma, Anahi. Ontem à noite não
jantou.
— Não tenho fome, de verdade, —
sussurro.
Ela aperta os olhos.
— Eu gostaria muito que terminasse o seu
café da manhã.
— Qual o seu problema com a comida? — Eu
deixo escapar. Ela franze a testa.
— Já te disse que não suporto
desperdiçar comida. Coma, diz-me
bruscamente, com expressão sombria, doída.
Droga. O que é tudo isto? Pego o
garfo e como devagar, tentando mastigar.
Se for ser sempre tão estranha com a comida,
terei que lembrar para não encher tanto o prato. Seu semblante se adoça a
medida que vou comendo o café da manhã. Observo-a retirar seu prato. Espera a
que eu termine e retira o meu também.
— Você cozinhou, eu limpo.
— Muito democrática.
— Sim. — diz-me, franzindo o cenho. — Não
é meu estilo habitual. Assim que acabar, tomaremos um banho.
— Oh, ok. Oh meu Deus... Eu
preferiria uma ducha. O som de meu telefone me tira do devaneio. É Kate.
— Olá. — Afasto-me dela e me dirijo para
as portas de vidro da varanda, na minha frente.
— Annie, por que não me mandou uma
mensagem ontem à noite? — Ela está zangada.
— Desculpe-me.
Eu fui superada pelos acontecimentos.
— Você está bem?
— Sim, perfeitamente.
— Você fez? — Ela tenta conseguir a informação. Eu rolo meus olhos com a expectativa em sua voz.
— Kate, eu não quero comentar isso por telefone. — Dulce eleva os olhos para mim.
— Você fez... eu posso dizer.
Como pode estar segura? Ela está blefando, e eu não posso falar sobre isso. Eu assinei um maldito acordo.
— Kate, por favor.
— Como foi? Você está bem?
— Já te disse que estou perfeitamente bem.
— Ela foi gentil?
— Kate, por favor! - Não posso reprimir meu aborrecimento
— Annie, não me oculte isso. Estou a quase quatro
anos esperando este momento.
— Nos veremos esta noite. — E desligo.
Vou ter dificuldade com esse assunto. É
muito obstinada e quer que eu conte tudo com detalhes, mas não posso contar-lhe
porque assinei um... como se chama? Um contrato de confidencialidade.
Ela vai ter um ataque e com razão. Tenho que
pensar em algo. Volto à cabeça e observo Dulce movendo-se com desenvoltura
pela cozinha.
— O acordo de confidencialidade abrange
tudo? — pergunto-lhe indecisa.
— Por quê? — Ela se vira e me olha,
enquanto guarda a caixa de chá. Ruborizo-me.
— Bom, tenho algumas duvidas, já sabe...
sobre sexo. — Falo com ela, olhando os dedos. — E eu gostaria de conversar com
Kate.
— Você pode falar comigo.
— Dulce, com todo o respeito... — Fico
sem voz. Eu não posso falar com você. Vou pegar o seu viés,
enrolado como o inferno, com sua distorcida visão de sexo. Quero uma opinião
imparcial. — É apenas sobre a mecânica. Não vou mencionar o Quarto Vermelho da
Dor.
Ela levanta as sobrancelhas.
— Quarto Vermelho da Dor? Trata-se,
sobretudo, de prazer, Anahi. Acredite-me. — Ela diz.
— E além disso, — ela acrescenta em tom mais
duro, — sua companheira de quarto está saindo com meu irmão. Preferia que você
não falasse com ela.
— Sua família sabe algo sobre as suas...
preferências?
— Não. Não é assunto deles. — ela aproxima-se de mim.
— O que quer saber? — pergunta-me, ela desliza os
dedos gentilmente pela minha bochecha até o queixo, depois o levanta para me
olhar diretamente nos olhos. Estremeço por dentro. Não posso mentir para esta mulher.
— No momento, nada de concreto, —
sussurro.
— Bem, podemos começar perguntando como
foi para você ontem à noite? — A curiosidade ardia nos seus olhos. Estava
impaciente para saber. Uau.
— Bom, - eu murmuro.
Esboça um ligeiro sorriso.
— Para mim também, — ela murmura. — Eu
nunca fiz sexo baunilha antes. Há muito a ser dito sobre ele. Mas, então,
talvez seja porque é com você. — Desliza o polegar por meu lábio inferior.
Eu inalo fortemente. Sexo baunilha?
— Venha, vamos tomar um banho. — Ela se inclina e
me beija. O meu coração dá um salto e o desejo percorre o meu corpo e se
concentra... na minha parte mais profunda.
A banheira é branca, profunda e ovalada, muito designer.
Dulce se inclina e abre a torneira da parede ladrilhada. Bota na água um
óleo de banho que parece muito caro. À medida que a banheira vai enchendo
forma-se uma espuma, um doce e sedutor aroma de jasmim invade o banheiro.
Dulce me olha com olhos impenetráveis, vai tirando o camisão e deixa cair pelo seu corpo. O corpo mais lindo que já vi.
— Senhorita Anahi. — diz-me, estendendo
a mão.