Olha-me com expressão cálida e apreciativa. A mulher loira que está ao seu lado se vira e me dedica um amplo sorriso. Levanta-se também. Está impecavelmente vestida, com um vestido estilo camisa, castanho claro, com sapatos combinando. Está arrumada, elegante, bonita, e me mortifico um pouco pensando como estou um desastre.
— Mamãe, apresento-lhe Anahi Steele. Anahi, esta é Blanca Trevelyan-Grey.
A doutora Trevelyan-Grey me estende a mão. T... de Trevelyan?
— Prazer em conhecê-la, — ela murmura. Se não estou enganada, há espanto e alivio, talvez atordoamento em sua voz e um brilho quente em seus olhos cor de avelã. Aperto-lhe a mão e não posso evitar de sorrir, retornando o seu calor.
— Doutora Trevelyan-Grey, — eu murmuro.
— Chame-me de Blanca. — Sorri, e Dulce franze o cenho. — Usualmente sou chamada de doutora Trevelyan, e a senhora Grey é minha sogra. — Ela pisca um dos olhos. — Então, como se conheceram? — pergunta olhando para Dulce, incapaz de ocultar sua curiosidade.
— Anahi me entrevistou para a revista da faculdade, porque esta semana vou entregar os diplomas de graduação.
Dupla merda. Tinha-o esquecido.
— Então, você vai se graduar esta semana? — Blanca pergunta.
— Sim.
Meu celular começa a tocar. Kate, eu aposto.
— Desculpem-me. O telefone está na cozinha. Aproximo-me e o pego do balcão sem checar o número.
— Kate.
— Meu Deus! Annie! – Que merda, é José. Parece desesperado. — Onde está? Já liguei umas vinte vezes. Tenho que ver você. Quero te pedir perdão pelo que aconteceu na sexta-feira. Por que não me respondeu as ligações?
— Olhe, José, agora não é um bom momento.
Olho muito nervosa para Dulce, que me observa atentamente, com rosto impassível, enquanto murmura algo para sua mãe. Dou-lhe as costas.
— Onde você está? Kate está muito evasiva, — ele queixa-se.
— Estou em Seattle.
— O que você faz em Seattle? Está com ela?
— José, eu ligo para você mais tarde. Não posso falar agora. E desligo.
Volto com toda tranquilidade para Dulce e sua mãe. Blanca está em pleno falatório.
— ... e Elliot me ligou para dizer que você estava por aqui... Faz duas semanas que não vejo você, querido.
— Elliot sabia? — Dulce pergunta me olha com expressão indecifrável.
— Pensei que poderíamos comer juntos, mas já vejo que tem outros planos, assim não quero lhes interromper. — Ela agarra seu comprido casaco de cor creme, vira-se para ela, oferecendo-lhe o rosto. Ela a beija rapidamente com suavidade. Ela não toca nela.
— Tenho que levar Anahi para Portland.
— É claro, querida. Anahi, foi um prazer lhe conhecer. Espero que voltemos a nos ver.
Ela estende-me a mão, com olhos brilhantes e nós sacudimos.
Taylor aparece procedente de... onde?
— Senhora Grey? — Ele pergunta.
— Obrigado, Taylor. — Ele a segue pelo salão e atravessam as portas duplas que vão para o vestíbulo. Taylor esteve aqui o tempo todo? Por quanto tempo esteve aqui? Onde esteve?
Dulce me olha.
— Então o fotógrafo ligou para você?
Merda.
— Sim.
— O que queria?
— Só me pedir perdão, já sabe... por sexta-feira.
Dulce aperta os olhos.
— Eu vejo, — ela diz simplesmente.
Taylor volta a aparecer.
— Senhora Grey, há um problema com o envio de Darfur.
Dulce acena bruscamente para ele com a cabeça.
— O Charlie Tango voltou para o Boeing Field?
— Sim, senhor.
Taylor sacode a cabeça para mim.
— Senhorita Steele.
Eu sorrio timidamente para ele, que se vira e sai.
— Taylor vive aqui?
— Sim. — responde-me cortante. Qual o problema agora?
Dulce vai à cozinha, pega o seu BlackBerry e dá uma olhada aos e-mails, suponho. Está muito séria. Ela faz uma ligação.
— Ros, qual é o problema? — pergunta bruscamente. Escuta sem deixar de me olhar com olhos interrogativos. Eu estou no meio do enorme salão me sentindo extraordinariamente auto-consciente e deslocada.
— Não vou pôr a tripulação em perigo. Não, cancele-o... Lançá-lo-emos do ar... Bom.
Desliga. A suavidade em seus olhos desapareceu. Parece hostil. Lança-me um rápido olhar, dirige-se para seu escritório e volta um momento mais tarde.
— Este é o contrato. Leia e o comentaremos no fim de semana que vem. Sugiro que pesquise um pouco, para que saiba do que estamos falando. — Para por um momento. —Bom, se aceitar e espero realmente que aceite. — acrescenta em tom mais suave, nervoso.
— Pesquisar?
— Você pode ficar surpresa com o que pode encontrar na internet — ela murmura.
Internet! Não tenho computador, só o notebook de Kate, e, é obvio, não posso utilizar o do Clayton`s para este tipo de "pesquisa", certo?
— O que acontece? — pergunta-me inclinando a cabeça.
— Não tenho computador. Estou acostumada a utilizar os da faculdade. Verei se posso utilizar o notebook de Kate.
Ela me entregou um envelope pardo.
— Estou certo que posso... err, lhe emprestar um. Recolha suas coisas. Voltaremos para Portland de carro e comeremos algo pelo caminho. Vou vestir-me.
— Tenho que fazer uma ligação, — eu murmuro. Só quero ouvir a voz do Kate. Ela franze o cenho.
— Para o fotógrafo? — Suas mandíbulas se apertam e os olhos ardem. Eu pisco para ela. — Eu não gosto de compartilhar, senhorita Steele. Lembre-se disso. — Seu tom de voz calmo, é um arrepiante aviso e dando um olhar muito frio para mim, ela volta para o quarto.
Caramba. Eu só queria ligar para a Kate. Quero ligar diante dela, mas sua repentina atitude distante me deixou paralisada. O que aconteceu com a mulher generosa, depravada e sorridente que me fazia amor faz apenas meia hora?