Taylor está esperando ao fundo.
— Amanhã, então, — ela diz para Taylor, que concorda.
— Sim, senhora. Que carro vai levar, senhora?
Lança-me um rápido olhar.
— O R8.
— Boa viagem, senhora Grey. Senhorita Steele. — Taylor me olha com simpatia, embora possivelmente no mais profundo de seus olhos esconda um pingo de lástima.
Sem dúvida acredita que sucumbi aos dúbios hábitos sexuais do senhora Grey. Bom, aos seus excepcionais hábitos sexuais, ou possivelmente, o sexo seja assim para todo mundo? Franzo o cenho ao pensar nisso. Não tenho nada com o que compará-la e pelo visto, não posso perguntar a Kate. Assim terei que falar do tema com Dulce. Seria perfeitamente natural poder falar com alguém... mas não posso falar com Dulce se ela se mostrar tão aberto num minuto e tão retraído no seguinte.
Taylor nos segura a porta para que saiamos. Dulce chama o elevador.
— O que foi, Anahi? — pergunta-me. Como sabe que estou remoendo algo em minha mente? Ela chega mais perto e levanta o meu queixo.
— Pare de morder o lábio ou a foderei no elevador, e não vou me importar se entrar alguém ou não.
Ruborizo-me, mas seus lábios esboçam um ligeiro sorriso. Ao final parece que está recuperando o senso de humor.
— Dulce, tenho um problema.
— Oh, sim? — pergunta-me me observando com atenção.
Chega o elevador. Entramos e Dulce aperta o botão marcado com um G.
— Bem, — eu ruborizo. Como posso dizer-lhe isso? — Preciso falar com a Kate. Tenho muitas perguntas sobre sexo, e você está muito comprometida. Se quiser que faça todas essas coisas, como vou saber...? — interrompo-me e tento encontrar as palavras adequadas.
— É que não tenho pontos de referência.
Ela rola os olhos.
— Fale com ela se for preciso. — responde-me zangada. — Mas se assegure de que não comente nada com o Elliot.
Não concordo com sua insinuação. Kate não é assim.
— Kate não faria algo assim, como eu não diria a você nada do que ela me conte sobre Elliot... se me contasse algo, — acrescento rapidamente.
— Bom, a diferença é que não me interessa sua vida sexual — murmura Dulce em tom seco. — Elliot é um bastardo curioso. Mas lhe fale só do que temos feito até agora, — ela adverte.
— Ela, provavelmente, me mataria se soubesse o que quero fazer contigo, — ela acrescenta em voz tão baixa, que não estou segura de se pretendia que o ouvisse.
— Ok, — concordo prontamente, sorrindo para ela, aliviada
Ela franze os lábios e sacode a cabeça.
— Quanto antes se submeta para mim melhor, assim acabamos com tudo isto — ela murmura.
— Acabamos com o que?
— Com seus desafios. — Passa-me uma mão pelo meu queixo e me beija rapidamente nos lábios. As portas do elevador se abrem. Agarra-me pela mão e me leva para a garagem no subsolo.
Eu a desafio... como?
Perto do elevador vejo o Audi 4x4 negro, mas quando aperta o comando para que se abram as portas, acendem-se as luzes de um esportivo negro reluzente. É um desses carros que deveria ter uma loira de pernas longas, deitada no capô, vestida apenas com uma faixa.
— Bonito carro, — eu murmuro secamente.
Ela levanta o olhar e sorri.
— Eu sei, — responde-me, e por um segundo volta a ser a doce, jovem e despreocupada Dulce. Inspira-me ternura. Está entusiasmada. Rolo os olhos, mas não posso ocultar meu sorriso. Abre-me a porta e entro. Uau... é muito baixo. Ela se move em volta do carro com graça fácil e dobra seu corpo longo elegantemente ao meu lado. Como ela faz isso?
— Então, que tipo de carro é esse?
— Um Audi R8 Spyder. Como faz um dia lindo, podemos baixar a capota. Há um boné de beisebol aí. Na verdade, deve haver dois. Ela aponta para uma caixa. — E óculos de sol se você quiser.
Ela dá partida na ignição, e o motor ruge a nossas costas. Deixa a bolsa entre os dois assentos, aperta um botão e a capota retrocede lentamente. Aperta outro, e a voz do Bruce Springsteen nos envolve.
— Vai ter que gostar do Bruce, — Sorri-me, e tira o carro do estacionamento e sobe a rampa, onde nos detemos, esperando que a porta levante.
E saímos para a ensolarada manhã de maio em Seattle. Abro a caixa e pego os bonés de beisebol. São da equipe dos Mariners. Ela gosta de beisebol? Passo-lhe um boné e ponho o outro. Eu passo o rabo de cavalo pela parte de trás do meu boné e puxo a viseira para baixo.
Pessoas nos olham quando nos dirigimos pelas ruas. Por um momento penso que olham para ela... e logo tenho um paranóico pensando que me olham porque sabem o que estive fazendo nas últimas doze horas, mas ao final, me dou conta de que o que olham é o carro. Dulce parece alheia a tudo, perdida em seus pensamentos.
Há pouco tráfico, assim não demoramos para chegar a interestadual 5 em direção ao sul, com o vento soprando por cima de nossas cabeças. Bruce canta que arde de desejo. Muito oportuno. Ruborizo-me escutando a letra. Dulce me olha. Com seus óculos Ray-Ban, não vejo sua expressão. Franze os lábios, apóia uma mão em meu joelho e me aperta suavemente. Minha respiração fica difícil.
— Tem fome? — pergunta-me.
Não de comida.
— Não especialmente.
Seus lábios voltam a apertar-se em uma linha firme.
— Você tem que comer, Anahi, — ela repreende-me. — Conheço um lugar fantástico perto de Olympia. Pararemos ali. — Aperta-me o joelho de novo, sua mão volta a pegar no volante e pisa no acelerador. Vejo-me impulsionada contra o respaldo do assento. Caramba, como corre este carro.
O restaurante é pequeno e íntimo, um chalé de madeira em meio de um bosque. A decoração é rústica: cadeiras diferentes, mesas com toalhas em xadrez e flores silvestres em pequenos vasos. Cuisine Sauvage, alardeia um pôster por cima da porta.
— Fazia tempo que não vinha aqui. Não se pode escolher... Preparam o que caçaram ou recolheram. — Levanto as sobrancelhas fingindo horrorizar-se e não posso evitar de rir. A garçonete nos pergunta o que vamos beber. Ruboriza-se ao ver Dulce e se esconde debaixo de sua comprida franja loira para evitar olhá-la nos olhos. Ela gosta dela! Não acontece só comigo!