— Dois copos do Pinot Grigio, — diz Dulce em tom autoritário. Eu aperto meus lábios, aborrecida. — O que? — pergunta-me bruscamente.
— Eu queria uma Coca-cola light, — eu sussurro.
Seus olhos cinza se apertam e ela sacode sua cabeça.
— O Pinot Grigio daqui é um vinho decente. Irá bem com a comida, tragam o que nos trouxerem, — diz-me em tom paciente.
— Tragam o que trouxerem?
— Sim.
Esboça seu deslumbrante sorriso inclinando a cabeça e faz um nó no meu estômago. Eu não posso deixar de devolver-lhe seu sorriso glorioso.
— Minha mãe gostou de você, — diz-me de repente.
— Sério? — Suas palavras me fazem ruborizar de alegria.
— Olhe, Anahi, para mim também foi um fim de semana de novidades, — diz-me em voz baixa.
— Foi?
— Nunca tinha dormido com ninguém, nunca tinha tido relações sexuais em minha cama, nunca tinha levado uma garota no Charlie Tango e nunca tinha apresentado uma mulher para minha mãe. O que você está fazendo comigo? — A intensidade de seus olhos ardentes me corta a respiração.
A garçonete chega com nossos copos de vinho, e imediatamente dou um pequeno gole. Está sendo franco ou se trata de um simples comentário fortuito?
— Eu gostei muito deste fim de semana, — digo em voz baixa. Ela aperta os olhos para mim novamente.
— Pare de morder o lábio, — ela grunhe. — Eu também, — ela acrescenta.
— O que é sexo baunilha? — pergunto-lhe, embora só para me distrair do intenso olhar ardente e sexy que ela está me dando. Ela ri.
— Sexo convencional, Anahi. Sem brinquedos, nem acessórios. — ela encolhe os ombros. — Você sabe... bom, a verdade é que não sabe, mas isso é o que significa.
— Oh. — Eu pensei que era sexo bolo de chocolate com uma cereja no topo, o que tivemos. Mas então, o que eu sei?
A garçonete nos traz sopa, que ambos olhamos com certo receio.
— Sopa de urtigas, — informa-nos a garçonete, dando meia volta e retornando zangada à cozinha. Não acredito que goste que Dulce não lhe faça nem caso. Provo a sopa, que está deliciosa.
Dulce e eu olhamos uma para a outra, aliviados. Dou uma risada e ela inclina a cabeça.
— Que som adorável, — murmura.
— Por que você nunca fez sexo baunilha antes? Você sempre fez... err, o que faz? — pergunto-lhe intrigada.
Ela concorda lentamente.
— Mais ou menos. — Ela responde-me com cautela. Por um momento franze o cenho e parece liberar uma espécie de batalha interna. Logo levanta os olhos, como se tivesse tomado uma decisão. — Uma amiga de minha mãe me seduziu quando eu tinha quinze anos.
— Oh. Meu deus, tão jovem!
— Seus gostos eram muito especiais. Fui sua submissa durante seis anos. — Ela encolhe os ombros.
— Oh. — Meu cérebro congelou, atordoado por essa confissão.
— Então, eu sei o que isso implica, Anahi. — Seus olhos brilham com a introspecção.
Observo-a fixamente, incapaz de articular uma palavra... Até meu subconsciente está em silêncio.
— A verdade é que não tive uma introdução ao sexo muito corrente.
A curiosidade entra em ação.
— E alguma vez saiu com alguém na faculdade?
— Não. — responde-me, negando com a cabeça, para enfatizar sua resposta.
A garçonete chega para retirar nossos pratos e nos interrompe um por momento.
— Por quê? — pergunto-lhe, quando ela se vai.
Ela sorri sardonicamente.
— Você, realmente, quer saber?
— Sim.
— Porque não quis. Ela era tudo o que queria ou necessitava. Além disso, ela iria me castigar. — Ela sorri com carinho ao recordar.
Oh, isso era muita informação... mas queria mais.
— Então, ela era uma amiga de sua mãe, quantos anos ela tinha?
Ela sorri.
— Tinha idade suficiente para saber o que fazia.
— Você ainda a vê?
— Sim.
— Ainda... bem...? — Ruborizo-me.
— Não. — Ela sacode a cabeça e com um sorriso indulgente. — Ela é uma boa amiga.
-Oh. Sua mãe sabe?
Ela me olha, como se dissesse para não ser idiota.
— Claro que não.
A garçonete retorna com carne de veado, mas meu apetite sumiu. Que revelação.
Dulce, uma submissa... caramba. Eu dou um comprido gole no Pinot Grigio... Dulce tinha razão, é obvio, está delicioso. Deus, tenho que pensar em tudo o que me contou. Necessito tempo para processá-lo quando estiver sozinha, porque agora sua presença me distrai. É tão irresistível, e de repente, lança esta bomba. Ela sabe o que é ser submisso.
— Mas não pode ter sido em tempo integral? — Estou confusa.
— Bem, era, apesar de não vê-la o tempo todo. Era... difícil. Afinal, eu ainda estava na escola e mais tarde, na faculdade. Coma, Anahi.
— Não tenho fome, Dulce, de verdade. Eu estou me recuperando da revelação.
Sua expressão se endurece.
— Coma, — diz-me em tom tranquilo, muito tranquilo.
Eu olho para ela. Esta mulher... abusaram sexualmente dela quando era adolescente... seu tom é ameaçador.
— Espere um momento, — eu murmuro. Ela pisca um par de vezes.
— Ok, — ela murmura e segue comendo.
Assim será a coisa se assinar. Terei que cumprir suas ordens. Franzo o cenho. É isso o que quero?
Pego o garfo e a faca, e começo a cortar o veado. Está delicioso.
— Assim será a nossa... nossa relação? — Eu sussurro. — Estará me dando ordens todo o momento? — pergunto-lhe em um sussurro, sem me atrever a olhá-la.
— Sim, - ele murmura.
— Já vejo.
— E o que mais que eu queira que faça, — acrescenta em voz baixa.
Eu sinceramente duvido disso. Eu corto mais um pedaço de veado e aproximo dos lábios.
— É um grande passo, — eu murmuro e como.
— Sim, é. Ela fecha os olhos por um segundo. Quando os abre, está muito séria.
— Anahi, tem que seguir seu instinto. Pesquise um pouco, leia o contrato... Não tenho problema em comentar qualquer detalhe. Estarei em Portland até na sexta-feira, se por acaso quiser que falemos sobre isso antes do fim de semana. — Suas palavras me chegam em uma corrida. — Ligue-me ... talvez, pudéssemos jantar... digamos na quarta-feira? Na verdade, quero que isto funcione. Nunca quis tanto.
Seus olhos refletem sua ardente sinceridade e seu desejo. É basicamente o que não entendo. Por que eu? Por que não uma das quinze? OH, não... É nisso que vou converter-me? Em um número?
A dezesseis, nada menos?
-O que aconteceu com as outras quinze? - pergunto-lhe, de repente.
Ela suspende as sobrancelhas, surpresa e move a cabeça com expressão resignada.
— Coisas distintas, mas ao fim e ao cabo se reduz a... — detém-se, acredito que tentando encontrar as palavras.
— Incompatibilidade. — Ela encolhe os ombros.
— E acredita que eu poderia ser compatível contigo?
— Sim.
— Então, já não vê nenhuma de suas ex.
— Não, Anahi. Eu não.
Oh... isso é novidade.
— Já vejo.
— Pesquise um pouco, Anahi.
Eu abaixo o garfo e a faca. Não posso continuar comendo.
— Só isso? Isso é tudo o que vai comer?
Eu concordo. Ela franze o cenho, mas decide não dizer nada. Eu deixo escapar um pequeno suspiro de alívio.
Meu estômago está embrulhado com tantas informações e me sinto um pouco tonta pelo vinho. Observo-a devorando tudo o que tem no prato. Deve fazer muito exercício para manter a boa forma. De repente, recordo como lhe cai bem o pijama. A imagem é totalmente perturbadora. Contorço-me desconfortavelmente. Ela me olha e eu ruborizo.
— Eu daria tudo para saber o que está pensando neste exato momento, — ela murmura.
Ruborizo ainda mais.
Ela sorri perversamente para mim.
— Eu posso imaginar, — provoca-me.
— Alegro-me de que não possa ler meus pensamentos.
— Seus pensamentos não, Anahi, mas seu corpo... isso conheço bastante bem desde ontem. — Sua voz é sugestiva. Como pode mudar de humor tão rápido? É tão volátil... É tão difícil seguir seu ritmo.
Chama à garçonete e lhe pede a conta. Depois de pagar, levanta-se e me estende a mão.