Kate está na sala de estar, colocando seus livros em caixas.
— Você voltou. Onde está Dulce? Como você está? — pergunta-me em tom febril, nervoso. Vem para mim, agarra-me pelos ombros e examina minuciosamente meu rosto antes mesmo de me dizer olá.
Merda... Tenho que lutar com a insistência e a tenacidade de Kate, e tenho na bolsa um documento legal assinado, que diz que não posso falar. Não é uma saudável combinação.
— Bem, como foi? Não deixei que pensar em ti por um momento, depois que Elliot partiu, claro. — Ela sorri maliciosamente.
Não posso evitar sorrir por sua preocupação e sua ardente curiosidade, mas de repente, me dá vergonha.
Eu ruborizo. O que aconteceu foi muito íntimo. Tudo isso. Ver e saber o que Dulce esconde. Mas tenho que lhe dar alguns detalhes, porque se não, não vai deixar-me em paz.
— Está tudo bem, Kate. Muito bem, eu penso, — digo-lhe em tom tranquilo, tentando ocultar meu sorriso.
— Você pensa?
— Não tenho nada com o que comparar, não é? — digo-lhe, encolhendo de ombros apologeticamente.
— Ela fez você gozar?
Caramba, como ela é direta. Eu fico vermelha.
— Sim, — eu murmuro, exasperada.
Kate me empurra até o sofá e nos sentamos. Ela agarra as minhas mãos.
— Isso é bom. — Olha-me como se não acreditasse. — Foi sua primeira vez. Uau, Dulce deve saber o que se faz.
Oh, Kate, se você soubesse...
— Minha primeira vez foi terrível, — ela continua, fazendo uma cara triste e engraçada.
— Anh? — Isso me interessa, era algo que ela nunca tinha me contado antes.
— Sim. Steve Paton. No segundo grau. Um atleta babaca. — Encolhe os ombros. — Foi muito brusco, e eu não estava preparada. Estávamos os dois bêbados. Já sabe... o típico desastre adolescente, depois da festa de formatura. Ugh, demorei meses para me decidir a voltar a tentar. E não com aquele inútil. Eu era muito jovem. Você fez bem em esperar.
— Kate, isso parece horrível.
Kate parece melancólica.
— Sim, demorei quase um ano para ter meu primeiro orgasmo com penetração, e aí está você... na primeira vez.
Concordo envergonhada. A minha deusa interior está sentada na postura do lótus e parece serena, embora tenha um ardiloso sorriso autocomplacente no rosto.
— Alegro-me de que tenha perdido a virgindade com uma mulher que sabe o que se faz. — Ela pisca para mim com um olho. — E quando volta a vê-la de novo?
— Quarta-feira. Vamos jantar.
— Então você ainda gosta dela?
— Sim, mas não sei o que vai acontecer... no futuro.
— Por quê?
— É complicado, Kate. Você sabe... seu mundo é totalmente diferente do meu.
Boa desculpa. Aceitável também. Muito melhor que... ela tem um Quarto Vermelho da Dor e quer me converter em sua escrava sexual.
— Oh por favor, não permita que o dinheiro seja um problema, Annie. Elliot me disse que é muito estranho que Dulce saia com uma garota.
— Será que ela...? — pergunto-lhe, minha voz estava várias oitavas mais aguda.
Tão obvio, Steele! Meu subconsciente me olha movendo seu comprido dedo e logo se transforma na balança da justiça para me lembrar que Dulce poderia me processar se eu revelasse demais.
Ah... O que pode fazer? Ficar com todo meu dinheiro? Tenho que me lembrar de procurar no Google "pena por descumprir um acordo de confidencialidade" quando fizer minha "pesquisa". É como se ela me tivesse me passado lição de casa. Talvez eu possa ganhar um diploma.
— Anahi, o que foi?
— Estava me lembrando de algo que Dulce me disse.
— Você parece diferente, — Kate me diz com carinho.
— Eu estou diferente. Dolorida, — confesso-lhe.
— Dolorida?
— Um pouco. — Ruborizo-me.
— Eu também., — ela diz com uma careta de desgosto. Nós duas começamos a rir.
— Você também está dolorida? — pergunto-lhe surpreendida.
— Sim... excesso de uso.
Eu começo a rir.
— Fale-me mais sobre Elliot e seu excesso de uso, — pergunto-lhe quando paro por fim. Eu posso sentir que estou relaxando, pela primeira vez, desde que estava fazendo fila no banheiro do bar... antes da chamada de telefone que começou tudo isto... quando admirava o senhora Grey à distância. Dias felizes e sem complicações.
Kate se ruboriza. Oh, meu deus... Katherine Agnes Kavanagh se converte em Anahi Steele. Lança-me um olhar ingênuo. Nunca antes a tinha visto reagir assim por um homem.
Meu queixo cai tanto que chega ao chão. Onde está Kate? O que fizeram com ela?
— Oh, Annie, — ela me diz entusiasmada. — Ele é tão... tão... tudo. E quando nós... Oh... é fantástico. — Ela está tão alterada que logo não pode completar uma frase.
— Eu penso que você está tentando me dizer que você gosta dele.
Ela concorda com a cabeça, rindo como uma lunática.
— E vou vê-lo no sábado. Vai nos ajudar com a mudança. — Junta as mãos, levanta do sofá e se dirige à janela fazendo piruetas. A mudança. Merda, eu tinha esquecido disso, apesar de haver caixas por toda parte.
— Muito amável de sua parte, — digo-lhe. Assim o conhecerei também. Possivelmente possa me dar mais pistas sobre seu estranho e inquietante irmão.
— Então, o que fizeram ontem à noite? — pergunto-lhe. Ela inclina a cabeça para mim e levanta as sobrancelhas em um gesto que deve dizer: "O que te parece que fizemos, idiota?".
— Mais ou menos o mesmo que vocês fizeram, mas nós jantamos antes. — Ela sorri para mim. — Você realmente está bem? Parece um pouco sobrecarregada.
— Estou sobrecarregada. Dulce é muito intensa.
— Sim, já faço uma ideia. Mas ela foi boa para você?
— Sim, — tranqüilizo-a. — Estou morta de fome. Quer que prepare algo?
Ela concorda e coloca um par de livros em uma caixa.
— O que quer fazer com os livros de quatorze mil dólares? — pergunta-me.
— Vou devolvê-los.
— Realmente?
— É um presente exagerado. Não posso aceitá-lo, especialmente agora. — Sorrio, e Kate concorda com a cabeça.
— Eu entendo você. Chegou um par de cartas para você, e José não deixou de ligar. Parecia desesperado.
— Vou ligar para ele, — murmuro evasiva. Se contar para Kate sobre José, ela vai querer ele para o café da manhã. Recolho as cartas da mesa e as abro.
— Ei, tenho entrevistas! Dentro de duas semanas, em Seattle, para fazer estágio.
— Em uma editora?
— Para duas delas!
— Eu lhe disse que seu curiculum acadêmico lhe abriria portas, Annie.