E não posso tocá-la. Bem, isto não me surpreende. E essas estúpidas regras... Não, não, não posso. Cubro o rosto com as mãos. Isso não é a maneira de manter uma relação. Preciso dormir um pouco. Estou fisicamente esgotada. As travessuras físicas que pratiquei nas últimas vinte e quatro horas foram, francamente, exaustivas. E mentalmente... Oh, mulher, isso é muito para levar a bordo. Como diria José, uma autêntica fodida mental. Possivelmente pela manhã, isso não me pareça uma brincadeira de mau gosto.
Levanto-me e me troco rapidamente. Talvez devesse pedir emprestado para Kate o seu pijama rosa de flanela. Eu estou precisando do contato com algo fofinho e tranquilizador. Vou para o banheiro para escovar os dentes, vestindo camiseta e calças curtas de pijama.
Eu me olho no espelho do banheiro. Eu não posso considerar isso seriamente...
Meu subconsciente parece sensato e racional, e não sarcástico, como está acostumado a ser. A deusa interior não deixa de saltitar e bater palmas como uma menina de cinco anos. Por favor, vamos fazer isso... se não, acabaremos sozinhas, com um montão de gatos, e suas novelas como companhia.
A única mulher que já me atraiu, chega com um maldito contrato, um chicote e um sem-fim de regras e cláusulas. Bem, ao menos consegui o que queria este fim de semana. Minha deusa interior deixa de saltar e sorri com serenidade. OH, sim... articula com os lábios, acenando para mim presunçosamente.
Ruborizo ao recordar de suas mãos e sua boca sobre mim, seus dedos dentro do meu corpo. Fecho os olhos, eu sinto a força familiar e deliciosa dos meus músculos de baixo, profundo. Eu quero fazer isso de novo e de novo. Talvez se eu só assinasse para o sexo... ela aceitaria isso? Suspeito que não.
Eu, submissa? Talvez eu venha através dessa forma. Talvez eu a tenha enganado na entrevista. Sou tímida, sim... mas submissa? Eu deixei a Kate me intimidar... não é mesmo? E esses limites suaves, caramba. Confundo a minha cabeça, embora me tranquilize saber que temos que discuti-los.
Volto para meu quarto. É muito para pensar a respeito. Preciso limpar a cabeça, uma abordagem pela manhã, quando estiver de cabeça fresca para resolver o problema. Guardo os documentos ofensivos na bolsa.
Amanhã... amanhã será outro dia. Meto-me na cama, apago a luz e fico olhando ao teto. Oh, eu queria nunca tê-la conhecido. Minha deusa interior sacode sua cabeça para mim. Ela e eu sabemos que é mentira. Eu nunca tinha me sentido tão viva.
Fecho meus olhos e mergulho em um sono profundo com sonhos ocasionais de camas com dossel, envelopes de papel manilha e intensos olhos cinza.
Kate me acorda na manhã seguinte.
— Anahi, eu devo chamar você. Você deve ter sentido frio.
Meus olhos se negam a abrir-se. Não só se levantou, mas sim, saiu para correr. Dou uma olhada para o despertador. São oito da manhã. Caramba, dormi mais de nove horas.
— O que foi? — balbucio meio dormindo.
— Chegou um homem com um pacote para você. Tem que assinar.
— O que?
— Vamos. É grande. Parece interessante. — Ela dá pulinhos entusiasmados e volta para a sala de estar. Saio da cama e pego o robe, que está pendurado na porta. Um homem jovem, com um rabo de cavalo, está em pé na nossa sala de estar, segurando uma caixa grande nas mãos.
— Olá — eu murmuro.
— Eu vou preparar um chá. — Kate diz, indo para a cozinha.
— Senhorita Steele?
E imediatamente sei quem me manda o pacote.
— Sim, — eu respondo-lhe com receio.
— Trago um pacote para você, mas tenho que instalá-lo e lhe ensinar a utilizá-lo.
— Sério? A estas horas?
— Eu só cumpro ordens, senhora. — Ele me dá um sorriso encantador, mas profissional, como se dissesse: “não me venha com bobagens”.
Ele acaba de me chamar de "senhora"? Envelheci dez anos em uma noite? Se for assim, é culpa do contrato. Franzo os meus lábios com desgosto.
— Ok, o que é isso?
— É um MacBook Pro.
— É claro que é. — Eu digo, rolando os olhos.
— Ainda não está nas lojas, senhora. É o último da Apple.
Por que não me surpreende? Suspiro ruidosamente.
— Coloque-o aí, na mesa de jantar.
Vou à cozinha para me juntar a Kate.
— O que é? — Ela me pergunta curiosa, com os olhos brilhantes. Também, ela dormiu muito bem.
— Um notebook de Dulce.
— Por que ela mandou um notebook? Sabe que pode utilizar o meu, — ela franze o cenho.
Não para o que ela tem em mente.
— Oh, é só um empréstimo. Queria que eu experimentasse isso. — Minha desculpa parece pouco convincente, mas Kate concorda. Oh meu Deus... eu enganei Katherine Kavanagh. Pela primeira vez. Ela me passa uma taça de chá.
O notebook é brilhante, prateado e bastante bonito. Ele tem uma tela muito grande.
Dulce Grey gosta das coisas grandes... Eu penso no lugar onde ela vive, na verdade, na área de seu apartamento.
— Ele tem o mais recente sistema operacional e um conjunto completo de programas, além de um disco rígido de 1,5 terabytes, assim terá muito espaço, 32 gigas de RAM... Para que vai utilizá-lo?
— Bem... para mandar e-mails.
— E-mails! — Ele exclama pasmo, elevando as sobrancelhas, com um olhar um pouco doente no rosto.
— E, talvez, navegar na internet? — acrescento, encolhendo os ombros, quase me desculpando.
Ele suspira.
— Bem, este tem pleno acesso sem fio N, e o instalei com as especificações de sua conta. Este bebê está preparado para funcionar, virtualmente, em todo planeta. — Ele me explica, olhando-o com certo desejo.
— Minha conta?
— Sua nova conta de e-mail.
Tenho uma conta de e-mail?
Ele aponta para um ícone na tela e segue me falando, mas é como ruído branco. Não entendo uma palavra do que diz e, para ser sincera, não me interessa. Só me diga como ligá-lo e desligá-lo... o resto eu descobrirei sozinha. Depois de tudo, tem quatro anos que utilizo o da Kate. Kate assobia impressionada, assim que o vê.
— É tecnologia de última geração. — Ela levanta as sobrancelhas para mim. — A maioria das mulheres recebem flores ou talvez jóias, — ela diz sugestivamente, tentando conter um sorriso.
Faço uma careta, mas não posso aguentar séria. Nós duas temos um ataque de risada, o rapaz que mexia no notebook, nos olha perplexo, com a boca aberta. Ele termina e me pede para assinar a folha de entrega.
Enquanto Kate o acompanha à porta, sento-me com minha taça de chá, abro o programa de correio e descubro que está me esperando um e-mail de Dulce. O coração dá um salto. Tenho um email de Dulce Grey. Abro-o, nervosa.
De: Dulce Grey
Data: 22 de maio de 2011 23:15
Para: Anahi Steele
Assunto: Seu novo ordenador
Querida senhorita Steele:
Confio que tenha dormido bem. Espero que faça bom uso deste notebook, como comentamos.
Estou impaciente pelo jantar com você, na quarta-feira.
Até então, estarei encantado de responder a qualquer pergunta via e-mail, se o desejar.
Dulce Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.