Kate me emprestou dois vestidos e dois pares de sapatos, para esta noite e para a graduação de amanhã. Eu queria poder sentir-me mais entusiasmada com roupas e fazer um esforço extra, mas não são minhas. Qual é a sua, Anahi? A pergunta de Dulce, a meia voz, me perseguia. Balançando a cabeça e me esforçando para acalmar os nervos, escolho o vestido cor de ameixa para esta noite. É discreto e parece adequado para uma entrevista de negócios, por que, depois de tudo, vou negociar um contrato.
Tomo um banho, depilo minhas pernas e as axilas, lavo os cabelos e passo uma boa meia hora secando-os, isso para que caia ondulado sobre meus seios e costas. Pego algumas mechas com um pente para retirá-lo do rosto, aplico algum rímel e brilho de labial. Quase nunca uso maquiagem. Sinto-me intimidada.
Nenhuma das minhas heroínas literárias teve que se maquiar, talvez soubesse algo mais sobre isso se o fizessem. Calço os sapatos de salto cor de ameixa, combinando com o vestido, e por volta das seis e meia, estou pronta.
— Bem? — pergunto para Kate.
Ela sorri.
— Rapaz, você vai arrasar, Annie. — Ela acena com aprovação. —Você está linda.
— Linda! Pretendo ser discreta e parecer uma mulher de negócios.
— Também, mas sobretudo, está um escândalo. Este vestido fica muito bem com seu tom de pele. E marca tudo. — disse com uma risadinha.
— Kate! — repreendo-a.
— As coisas são como são, Annie. A impressão geral é... muito boa. Com esse vestido, terá ela comendo em sua mão.
Aperto os lábios. Oh, você não poderia estar mais errada.
— Deseje-me sorte.
— Você precisa de sorte para ficar com ela? — pergunta ela franzindo o cenho, confusa.
— Sim, Kate.
— Bem, pois então tenha sorte. — Ela me abraçou e eu sai pela porta da frente.
Tenho que tirar os sapatos para conduzir. Wanda, meu fusca azul marinho, não foi desenhado para ser conduzido por mulheres com saltos altos. Estacionei em frente ao Heathman as sete, faltando dois minutos exatamente, dando as chaves ao manobrista, percebo que ele olha para meu fusca com cara feia, mas eu o ignoro. Respiro fundo, me preparo mentalmente para a batalha e me dirijo ao hotel.
Dulce está inclinado sobre o balcão, bebendo um copo de vinho branco. Ela está vestida com a habitual camisa branca de linho, jeans preto e jaqueta preta. Tem os cabelos tão alvoroçados como sempre. Suspiro. Fico uns segundos parada na entrada do bar, observando, admirando a vista. Ela lança um olhar, acredito que nervoso, para a porta se esticando e fica imóvel. Pestaneja um par de vezes e depois esboça lentamente um sorriso indolente e sexy que me deixa sem palavras e isso me derrete por dentro. Avanço para ela fazendo um enorme esforço para não morder meus lábios, consciente de que eu, Anahi Steele de Clumsyville, estou de saltos. Ela caminha graciosamente par me encontrar.
— Você está linda, — ela murmura, inclinando-se para me beijar rapidamente na bochecha. — Lindo vestido, senhorita Steele. Parece-me muito bem. — Agarra minha mão, e me leva a uma mesa reservada e faz um gesto ao garçom.
— O que quer tomar?
Esboço um ligeiro sorriso enquanto me sento na mesa. Bem, ao menos pergunta-me.
Tomarei o mesmo que você, obrigado. — Viu? Sei fazer meu papel e me comportar.
Divertido, pede outro copo do Sancerre e se senta em frente a mim.
— Têm uma adega excelente aqui, — me diz, inclinando a cabeça para um lado.
Ela apoia os cotovelos na mesa e junta os dedos de ambas as mãos à altura da boca. Em seus olhos brilham uma incompreensível emoção. E aí está... uma descarga elétrica que conecta com o meu eu mais profundo. Remexo-me, incômoda diante de seu olhar escrutinador, com o coração pulsando rapidamente. Tenho que manter a calma.
— Está nervosa? — Ela pergunta amavelmente.
— Sim.
Ela inclina-se para frente.
— Eu também, — ela sussurra com cumplicidade. Mantenho meus olhos nos seus. Ela? Nervosa?
Nunca. Eu pestanejo e ela me dá seu precioso sorriso meio de lado. Chega o garçom com meu vinho, um pratinho com frutas secas e outro com azeitonas.
— Então, como faremos isso? — Eu pergunto. — Revisamos meus pontos um a um?
— Sempre tão impaciente, senhorita Steele.
— Bem, eu poderia perguntar o que você achou do tempo hoje?
Ela sorriu e pegou uma azeitona com seus longos dedos. Ela botou na boca e meus olhos se fixam na sua boca, que esteve sobre a minha... em todo meu corpo. Ruborizo.
— Acredito que o tempo hoje não teve nada de especial, — Ela riu.
— Está rindo de mim, senhora Grey?
— Sim, senhorita Steele.
— Sabe que esse contrato não tem nenhum valor legal.
— Sou perfeitamente consciente disso, senhorita Steele.
— Pensou em me dizer isso, em algum momento?
Ela franze o cenho.
— Você acredita que estou te coagindo para que faça algo que não quer fazer, e que além disso pretendo ter algum direito legal sobre você?
— Bem... sim.
— Não tem um bom conceito de mim, não é verdade?
— Não respondeu a minha pergunta.
— Anahi, não importa se é legal ou não. É um acordo que eu gostaria de ter contigo... o que eu gostaria de ter de você e o que você pode esperar de mim. Se você não gostar, não assine. Se o assinar e depois decidir que você não gosta, há suficientes cláusulas que lhe permitirão deixá-lo. Mesmo se você for legalmente vinculada, acredita que levaria você a julgamento se decidisse partir?
Tomo um comprido gole de vinho. Meu subconsciente me dá um golpe no ombro. Tem que estar atenta. Não beba muito.
— As relações deste tipo se apoiam na sinceridade e na confiança, — seguiu me dizendo. — Se não confiar em mim... tem que confiar em mim para que saiba em que medida estou te afetando, até onde posso ir contigo, até onde posso te levar... se não puder ser sincera comigo, então, realmente, não podemos fazer isso.
Oh meu Deus, vá diretamente ao ponto. Até onde pode me levar. Caramba. O que quer dizer?
— É muito simples, Anahi. Confia em mim ou não? — Ela perguntou com os olhos ardentes. — Você manteve este tipo de conversa com... bem, com as quinze?
— Não.
— Por que não?
— Porque elas já eram submissas. Sabiam o que queriam da relação comigo, e em geral, o que eu esperava. Com isso, era uma simples questão de afinar os limites possíveis, esses tipos de detalhes.
— Você as procura em alguma loja? Nós somos Submissas?
Ela ri.
— Não exatamente.
— Então como?
— É disso que quer falar? Ou passamos ao melhor da questão? Às objeções, como você diz.
Engulo em seco. Confio nela? É nisso que se resume tudo, à confiança? Sem dúvida deveria ser coisa mais importante para os dois. Lembro-me de sua raiva quando liguei para José.
— Você está com fome? — Ela pergunta, e me distrai de meus pensamentos.
Oh, não... a comida.
— Não.
— Você comeu hoje?
Eu olho para ela. Honestamente... Caramba, não vai gostar da minha resposta.
— Não. — respondo em voz baixa.
Ela me olhou com expressão muito séria.
— Tem que comer, Anahi. Podemos jantar aqui ou em minha suíte. O que você prefere?
— Acredito que é melhor ficamos em terreno neutro.
Ela sorriu com ar zombador.
— Crê que isso me deteria? — pergunta em voz baixa, como uma sensual advertência.
Arregalo os olhos e volto a engolir a saliva.
— Eu espero.
— Vamos, reservei um jantar privado. — Ela sorriu enigmaticamente e saiu da mesa me estendendo a mão.
— Traga o seu vinho — murmura.
Agarro a sua mão, levanto e paro a seu lado. Solta a minha mão, põe no braço, cruzamos o bar e subimos uma grande escada até a sobreloja. Um rapaz com uniforme do Heathman se aproxima de nós.
— Senhora Grey, por aqui, por favor.
Nós o seguimos por uma luxuosa sala de sofás, até um refeitório privado, com uma só mesa. Era pequeno, mas suntuoso. Sob um candelabro cintilante, a mesa está coberta por linho engomado, taças de cristal, talheres de prata e um ramo com uma rosa branca. Um encanto antigo e sofisticado impregnava a sala, forrada com painéis de madeira. O garçom retira a cadeira e me sento. Eu coloco o guardanapo no colo. Ele coloca as taças na mesa. Dulce se senta em frente a mim. Eu fico olhando para ela.
— Não morda o lábio, — ela sussurra.