Eu franzo o cenho. Caramba. Nem sequer me dei conta de que estava fazendo isso.
— Já pedi a comida. Espero que não se importe.
A verdade é que me parece um alívio. Não estou segura de que possa tomar mais decisões.
— Não, está tudo bem, — eu respondo.
— Eu gosto de saber que pode ser dócil. Agora, onde estávamos?
— No x da questão. — Dou outro longo gole de vinho. Está muito bom. Dulce Grey conhece bem os vinhos bons. Eu lembro do último gole que me ofereceu, em minha cama. O inoportuno pensamento me fez ruborizar.
— Sim, suas objeções. — Põe a mão no bolso interno da jaqueta e tira uma folha de papel.
Meu e-mail.
— Cláusula 2. De acordo. É em benefício dos dois. Voltarei a redigi-lo.
Pestanejo. Caramba... vamos passar por cada um destes pontos, um de cada vez. Não me sinto tão valente estando com ela. Ela parece tão séria. Reforço-me com outro gole de vinho. Dulce continua.
— Minha saúde sexual. Bem, todas as minhas companheiras anteriores fizeram análise de sangue, e eu faço exames a cada seis meses, de todos estes riscos que existam. Meus últimos exames estavam perfeitos. Nunca usei drogas. Na realidade, sou totalmente contra as drogas, e minha empresa leva uma política antidrogas muito a sério. Insisto em que se façam exames aleatórios e de surpresa nos meus empregados para detectar qualquer possível consumo de drogas.
Uau... A obsessão controladora leva à loucura. Eu a encaro perplexa.
— Nunca fiz uma transfusão. Isso responde a sua pergunta?
Concordo, impassível.
— Seu ponto seguinte eu já comentei antes. Você pode sair a qualquer momento, Anahi. Não vou te deter. Mas se for... acaba tudo. Quero que saiba.
— Ok, — eu respondo em voz baixa. Se eu for, acabou. A ideia me parece inesperadamente dolorosa.
O garçom chega com o primeiro prato. Como vou comer? Caramba... ela pediu ostras em uma cama de gelo.
— Espero que você goste das ostras, — Dulce diz em tom amável.
— Nunca as provei. — Nunca.
— Sério? Bem. Pegue uma. A única coisa que tem que fazer é colocar isso na boca e engolir. Acredito que conseguirá. — Ela olha para mim e sei a que está se referindo. Fico vermelha como um tomate. Sorrindo me diz que devo espremer suco de limão em uma ostra e colocá-la na boca.
— Mmm, deliciosa. Tem sabor de mar, — ela diz sorrindo. — Vamos, — ela me encoraja.
— Não tenho que mastigá-la?
— Não, Anahi. — Seus olhos brilham divertidos. Parece muito jovem. Eu aperto os lábios, e sua expressão muda instantaneamente. Ela me olha muito sério. Estico o braço e pego a primeira ostra. Ok... isto não vai sair bem. Jogo suco de limão e a coloco na boca. Ela desliza por minha garganta, todo o mar, sal, e a forte acidez do limão e sua textura carnuda... Oooh. Lambo os lábios, e ela me olha fixamente, com olhos impenetráveis.
— É bom?
— Comerei outra e lhe responderei.
— Boa garota, — me diz orgulhosa.
— Você pediu ostras de propósito? Não dizem que são afrodisíacas? — Não, é só o primeiro prato do menu. Não necessito de afrodisíacos contigo. Acredito que sabe, e acredito que é assim contigo também, — ela diz tranquilamente. — Onde estávamos? — Ela dá uma olhada no meu e-mail, enquanto pego outra ostra.
Acontece o mesmo com ela. Eu a afeto... Uau.
— Obedecer-me em tudo. Sim, quero que faça. Necessito que o faça. Considera um papel difícil, Anahi?
— Mas me preocupa que me faça mal.
— Que te faça mal como?
— Fisicamente. — E emocionalmente.
— De verdade acredita que te faria mal? Que transpassaria os limites, ao ponto de não poder aguentar?
— Você disse que tinha feito mal a alguém antes.
— Sim, mas foi há muito tempo.
-O que aconteceu?
-Pendurei-a no teto do quarto de jogos. De fato, é um dos seus pontos. Suspensão... para isso são os mosquetões. Com cordas. E apertei muito uma corda.
Levanto uma mão lhe suplicando que pare.
— Não preciso saber mais. Então, você que me suspender?
— Não, se realmente não quiser. Pode tirar da lista dos limites rígidos.
— Ok.
— Bom, crê que poderá me obedecer?
Lança-me um olhar intenso. Passam os segundos.
— Poderia tentar, — eu sussurro.
— Bom. — Ela sorri. — Novo termo. Um mês não é nada, especialmente se quiser um fim de semana livre de cada mês. Não acredito que eu possa aguentar ficar longe de ti tanto tempo. Mal o consigo agora. — Ela pausa.
Não pode ficar longe de mim? O que?
— Que tal, um dia de um fim de semana por mês só para você. Mas ficará comigo uma noite no meio da semana.
— De acordo.
— E, por favor, tentamos por três meses. Se você não gostar, pode partir a qualquer momento.
— Três meses? — Sinto-me pressionada. Dou outro comprido gole de vinho e me concedo o gosto de outra ostra. Poderia aprender o que eu gosto.
— O tema da propriedade, é meramente terminologia e remete ao princípio da obediência. É para você entrar no estado de ânimo adequado, para que entenda de onde venho.
— E quero que saiba que, assim que cruzar a porta de minha casa, você é minha por inteiro, farei contigo o que me der vontade. Terá que aceitar de boa vontade. Por isso tem que confiar em mim.
— Vou foder você, quando quiser, como quiser e onde quiser. Vou disciplinar você, por que você vai estragar tudo. Adestrarei você para que me agrade. Mas sei que tudo isto é novo para você.
— De inicio iremos com calma, e eu te ajudarei. Nós vamos atuar em vários cenários. Quero que confie em mim, mas sei que tenho que ganhar sua confiança, e o farei. O "em qualquer outro âmbito"... de novo, é para ajudar você a se colocar em uma situação. Significa que tudo está permitido.
Ela se mostra apaixonada, cativante. Está claro que é sua obsessão, sua maneira de ser... Não conseguia afastar os olhos dela. Quero-a de verdade. Ela para de falar e me olha.
— Continua comigo? — pergunta em um sussurro, com voz intensa, cálida e sedutora. Ela toma um gole de vinho sem tirar seus penetrantes olhos de mim.
O garçom se aproxima da porta, e Dulce assente ligeiramente para lhe indicar que pode retirar os pratos.
— Quer mais vinho?
— Tenho que dirigir.
— Água, então?
Eu concordo.
— Normal ou com gás?
— Com gás, por favor.
O garçom parte.
— Está muito pensativa, — sussurra Dulce.
— Você está muito faladora.
Ela sorri.
— Disciplina. A linha que separa o prazer da dor é muito fina, Anahi. São as duas caras de uma mesma moeda. E uma não existe sem a outra. Posso lhe ensinar quão prazerosa pode ser a dor. Agora não me acreditas, mas a isso me refiro quando falo de confiança. Haverá dor, mas nada que não possa suportar. Voltamos para o tema da confiança. Confia em mim, Annie?
Annie!