— Sim.
É a decisão correta. Se ficar nesta mesa com ela, me entregarei. Levanto com determinação. — Amanhã nos vemos as duas na cerimônia de graduação.
Dulce se levanta automaticamente, manifestando anos de arraigada urbanidade.
— Não quero que vá.
— Por favor... Tenho que ir.
— Por quê?
— Porque você me expôs muitas coisas, nas quais devo pensar... e preciso de uma certa distância.
— Poderia fazer você ficar, — ela ameaça.
— Sim, não seria difícil, mas não quero que faça.
Ela passa a mão pelos cabelos, me olhando atentamente.
— Olha, quando veio para minha entrevista e entrou em meu escritório, tudo era "Sim, senhor", "Não, senhor". Pensei que fosse uma submissa nata. Mas, na verdade, Anahi, não estou seguro de que seja totalmente submissa, diz em tom tenso, se aproximando de mim.
— Talvez você tenha razão, — eu respondo.
— Quero ter a oportunidade de descobrir se é, — ela murmura, me olhando. Levanta um braço, acaricia meu rosto e passa o polegar pelo meu lábio inferior. Não sei fazer de outra maneira, Anahi. Sou assim.
— Eu sei.
Ela inclina-se para me beijar, mas para antes de seus lábios tocarem os meus, seus olhos procuram os meus, como me pedindo permissão. Elevo os lábios para ela e me beija, e como não sei se voltarei a beijá-la mais, deixo-me levar. Minhas mãos se movem, deslizam por seu cabelo, atraindo-a para mim. Minha boca se abre e minha língua acaricia a sua. Me pega pela nuca para me beijar mais profundamente, respondendo ao meu ardor. Desliza a outra mão pelas minhas costas, e ao chegar ao final da coluna, para e me aperta contra seu corpo.
— Não posso te convencer de ficar? — pergunta sem deixar de me beijar.
— Não.
— Passe a noite comigo.
— Sem tocar em você? Não.
Ela geme.
— Você é impossível, garota. — Queixa-se. Levanta a cabeça e me olha fixamente. —Por que tenho a impressão de que está se despedindo de mim?
— Porque eu tenho que ir, agora.
— Não é isso o que quero dizer, e você sabe.
— Dulce, eu tenho que pensar em tudo isto. Não sei se posso manter o tipo de relação que você quer.
Ela fecha os olhos e pressiona sua cabeça contra a minha, dando a ambos a oportunidade de relaxar ou respirar. Um momento depois me beija na testa, respira fundo, com o nariz afundado em meu cabelo, me solta e dá um passo atrás.
— Como quiser, senhorita Steele, — diz com rosto impassível. Acompanho você até o vestíbulo.
Estendo a mão. Inclino-me, pego a bolsa e lhe dou a mão. Maldito seja, isto poderia ser tudo. Eu a sigo pela grande escada até o vestíbulo, sinto coceira no couro cabeludo, e o sangue me bombeia depressa. Poderia ser o último adeus se eu não aceitar.
Meu coração se contrai dolorosamente no peito. Que reviravolta. Que diferença um momento de clareza pode fazer a uma menina.
— Tem o ticket do estacionamento?
Pego o ticket na bolsa e entrego. Dulce o entrega ao porteiro. A encaro enquanto esperamos.
— Obrigada pelo jantar, — eu murmuro.
— Foi um prazer como sempre, senhorita Steele, — ele responde educadamente, embora pareça distante em seus pensamentos, completamente distraído.
Observo atentamente e memorizo seu formoso perfil. Obcecada com a desagradável ideia de que poderia não voltar a vê-la. Tudo isso é muito doloroso para mim, de repente, se vira e me olha com expressão intensa.
— Esta semana eu volto para Seattle. Se tomar a decisão correta, poderei ver você no domingo? — pergunta em tom inseguro.
— Bem, vou ver. Talvez. — Eu respiro. Momentaneamente, ela parece aliviada, mas em seguida franze o cenho.
— Agora faz frio. Você trouxe casaco?
— Não.
Ela sacode a cabeça com irritação e tira a sua jaqueta.
— Toma. Não quero que passe frio.
Eu pisco para ela, enquanto ela segurava a jaqueta aberta. Ao passar os braços pelas mangas, lembro um momento em seu escritório em que ela pôs a jaqueta sobre os ombros, no dia em que a conheci, e a impressão que me causou. Nada mudou. Na realidade, agora é até mais intenso.
Sua jaqueta estava quente, era muito grande e cheira a ela. Oh minha... deliciosa.
Chega o meu carro. Dulce fica boquiaberta.
— Esse é seu carro? — Ela estava horrorizada. Agarra minha mão e sai comigo ao encalço. O manobrista sai, me entrega as chaves, e Dulce lhe dá uma gorjeta.
— Está em condições de circular? — pergunta, me fulminando com o olhar.
— Sim.
— Chegará até Seattle?
— Claro que sim.
— Em segurança?
— Sim — respondo irritada. Veja, é velho, mas é meu e funciona. — Meu padrasto comprou pra mim.
— Oh, Anahi, acredito que podemos melhorar isso.
— O que você quer dizer? — de repente, entendo. — Nem pense em me comprar um carro.
Ela me olha com o cenho franzido e a mandíbula tensa.
— Logo veremos, — responde.
Faz uma careta enquanto abre a porta do condutor e me ajuda a entrar. Eu tiro os sapatos e abaixo o vidro. Ela me olha com expressão impenetrável e olhos turvos.
— Conduza com cuidado, — diz em voz baixa.
— Adeus, Dulce. — Eu digo com voz rouca, como se estivesse a ponto de chorar... caramba, eu não vou chorar. Eu sorrio ligeiramente.
Enquanto me afasto, sinto uma pressão no peito, começam a aflorar as lágrimas e sufoco um soluço.
As lágrimas não demoram a rolar por minhas bochechas, embora, a verdade é que não entendo por que choro. Eu estava me segurando. Ela explicou tudo. Ela foi clara . Ela me quer, mas preciso de mais. Preciso que ela me queira como eu a quero e preciso, e no fundo sei que não é possível. Estou triste.
Eu nem sei como classificá-la. Se aceitar... ele será minha namorada?
Poderei apresentá-la aos meus amigos? Ir com ela a bares, ao cinema ou jogar boliches? Acredito que não, na verdade. Ela não vai me deixar tocá-la, nem dormir com ela. Sei que não tenho feito estas coisas no passado, mas quero fazer no futuro. E não é este o futuro que ela tem pra mim.
E se eu disser que sim, e no prazo de três meses ela disser que não, que se cansou de tentar me moldar-me em algo que não sou. Como vou me sentir? Estarei comprometida emocionalmente? E durante três meses terei feito coisas que não estou segura de que queira realmente fazer. E se depois me diz que não, que acabou o acordo, como vou sobreviver o abandono? Possivelmente o melhor seja desistir agora, quero manter minha auto-estima mais ou menos intacta.
Mas a ideia de não voltar mais a vê-la parece insuportável. Como ela entrou em minha pele em tão pouco tempo? Não pode ser apenas sexo... pode? Passado a mão pelos olhos para secar as lágrimas. Não quero analisar o que sinto por ele. Assusta-me só de pensar o que poderia descobrir. O que vou fazer?
Estaciono em frente a nossa casa. Não vejo luzes acesas, assim acho que Kate deve ter saído. É um alívio. Não quero ter que responder perguntas. Enquanto me dispo, ligo meu computador infernal e encontro uma mensagem de Dulce na caixa de entrada.
De: Dulce Grey
Data: 25 de maio de 2011 22:01
Para: Anahi Steele
Assunto: Esta noite
Não entendo por que saiu correndo esta noite. Espero sinceramente ter respondido todas as suas perguntas de forma satisfatória. Sei que tem que expor muitas coisas e espero fervorosamente que leve a sério minha proposta. Quero de verdade que isto funcione. Temos que levar com calma.
Confie em mim.
Dulce Grey
CEO, Grey Participações e Empreendimentos Inc.