Fanfic: - A marca de uma lágriima (finaliizada)
Daquele momento em diante não haveria mais gula ou regime para dona Albertina. Não havia nem mais o papel de bombom, que desaparecera da mesa. Nela, o que havia era um objeto, talvez um vaso, coberto por um pano.
— Cianureto! — vociferava o investigador para o professor de química. — Como é que uma escola como esta guarda cianureto no laboratório?
O professor de química olhou de lado, procurando algum apoio junto a Brucutu ou à
professora Olga, que parecia a mais revoltada de todos, embora soubesse controlar-se melhor, sem fazer o papel ridículo da professora Virgínia.
— São estudos que estou fazendo com o pessoal do curso técnico — balbuciou o químico. —Estamos analisando a mandioca e...
— A mandioca?! — berrou o investigador. — Vai me dizer que a vítima foi envenenada com mandioca?
— Não... é que extraímos um glicosídio da mandioca que...
O pano que cobria o vaso sobre a mesa foi retirado. Não era um vaso. Era um frasco de
laboratório. A meia distância não era possível a Dulce distinguir o que estava escrito no rótulo.
— A autópsia encontrou cianureto, professor.
— Pois é. Neste frasco há glicosídio cianonitrila que é extraído da mandioca...
— Cianureto?
— É. Pode-se dizer que sim.
— A vítima poderia ter apanhado isto no laboratório, não é? Qualquer pessoa poderia, não é?
— Bem, dona Albertina poderia...
— Como é que uma coisa dessas foi acontecer justo na nossa escola? — lamentou, aos
soluços, a professora Virgínia, assoando o nariz com estrondo.
O investigador exibiu um envelope plástico transparente que revelava um pouco de pó
branco.
— Este envelope estava no chão, ao lado da mão da vítima. Certamente é o mesmo produto
deste frasco, não é?
— Pode ser... — o professor de química sentia-se esmagado.
—Posso fazer uma análise e...
— Deixe isso à polícia técnica, professor. A sua parte irresponsável o senhor já fez, deixando cianureto no laboratório, ao alcance de qualquer um!
O professor protestou timidamente:
— Ora, não é bem assim. Há muitos produtos potencialmente perigosos em qualquer
laboratório. No caso da linamarina...
— Como?! O que o senhor disse?
A surpresa de Dulce interrompeu o professor.
— Linamarina. É o nome que se dá a esse glicosídio.
— A esse veneno, o senhor quer dizer! — cortou o investigador. As recordações daquela
triste manhã, na escuridão do laboratório, voltaram todas à memória de Dulce. Linamarina! Os dois nomes de mulher que, juntos, agora eram o nome da morte. Há quase um mês alguém mexera naquele frasco. Na penumbra, sem óculos, cheia de lágrimas, no começo da longa estrada que haveria de afastá-la cada vez mais do seu grande amor, Dulce não poderia ter reconhecido aquele alguém. Sua única certeza é que não poderia ter sido a diretora. O vulto de avental branco não era grande. Nem obeso.
— Coitada da dona Albertina! — choramingou de novo a vice-diretora.
— Dona Virgínia! Quer retirar-se? A senhora está atrapalhando o interrogatório!
Para a polícia, o caso pareceu simples. A porta trancada, com a chave do lado de dentro, o
envelope contendo linamarina, as janelas fechadas e quatro testemunhas que haviam encontrado,juntas, o cadáver eram provas suficientes para uma conclusão de suicídio. Motivos para o suicídio? Não cabia à polícia deduzir. Afinal, onde está mesmo a lógica de alguém que decide tirar a própria vida? Uma vida obesa, alegre e produtiva? Uma vida de mulher, uma morte de mulher, uma morte com nome de mulher? Uma morte chamada linamarina?
Lembrou-se do poeta João Cabral de Melo Neto e de Morte e vida severina, aquele poema
maravilhoso. Uma vida severina... uma morte linamarina... Tudo se juntava como uma carga pesada demais para Dulce. A recordação daquele beijo louco, daquele Christopher louco do jardim, daquela noite louca, quando tudo havia começado. Depois, a desilusão no laboratório, as cartas e os poemas cheios de seu amor desesperado. Agora, aquela morte tão estúpida, tão grotesca, e a lembrança do vulto de branco mexendo na linamarina. Mexendo na morte.
Suicídio... E o que Dulce tinha feito no dia anterior? Não tinha sido ela mesma a disparar o
tiro de misericórdia na nuca de sua última esperança de felicidade? O que tinha sido aquela
declaração ao telefone? O que tinha significado forçar o encontro de Christopher e Annie em sua própria casa? Não fora isso uma espécie de suicídio? Um desejo de acabar logo com aquele sofrimento que só crescia, a cada hora, a cada verso, a cada lágrima?
Afinal, o que era a morte? Uma massa de banha jogada grotescamente sobre um tapete de
diretoria? E o que era a vida, o que seria a vida, agora que a ligação entre Christopher e Annie tornara-se pública e definitiva? O que seria então a morte senão um alívio, um basta a toda aquela tortura? O que seria a morte? Severina como a do retirante nordestino? Linamarina como a da diretora obesa e sorridente? Como seria a outra morte, a da menina gorda, da garota feia, da poetisa, espinha no nariz e inimigo rachado?
"Mais vale um fim trágico do que uma tragédia sem fim...", recordou ela, ainda na diretoria,
mal sentindo a delicada pressão da mão de Alfonso sobre a sua.
Olhou para o tapete vazio onde havia descoberto o cadáver da diretora. E foi o seu próprio
cadáver que viu ali.
***
— Oh, Dulce, entre. Está mais calminha?
Carinhosamente, a professora Virgínia fez Dulce entrar na pequena sala da vice-diretoria, tão inútil quanto a ocupante.
— Bem... eu é que estava nervosa, não é? Mas você compreende, tenho certeza. Albertina
morta, assim, sem mais nem menos... Nós éramos muito amigas, muito amigas mesmo...
— Sinto muito, dona Virgínia...
— Nós éramos tão amigas... Ela se preocupava tanto comigo... Imagino o seu choque ao
encontrar o corpo da pobrezinha. Você parecia tão nervosa lá, durante o interrogatório... Mas não era para menos, não é? Estávamos todos muito nervosos...
Dulce sentiu-se pouco à vontade. O que queria aquela mulher? Será que faria outro
escândalo, na frente dela? Um cansaço pesado começou a tomar conta do seu corpo. As cargas que ela tinha de suportar estavam pesadas demais para seus ombros de menina.
— Por que você se surpreendeu com o nome do veneno, querida?
— Eu? Me surpreendi? Não me lembro...
— Acho que foi só impressão minha, não foi? Vai ver foi o nervosismo que... Como era
mesmo o nome do veneno?
— O nome, professora? Não sei... cianureto, parece...
— É. Cianureto...
A professora Virgínia olhava brandamente para a aluna. Mas era um olhar ausente, como se
não esperasse resposta.
— Você não sabe... é claro que você não sabe. Pobre amiga morta! Eu já lhe disse que nós
éramos muito amigas, não disse? Ela se preocupava tanto comigo... Imagine: tinha cismado que eu devia me aposentar. Queria que eu descansasse. Veja só... Ela trabalhava tanto, era tão dinâmica... E eu é que precisava descansar. Coitada da Albertina...
A professora Virgínia continuava a falar, como se a menina não existisse, repassando para si mesma aquela amizade que terminara de modo tão triste.
Dulce levantou-se e saiu silenciosamente da sala.
— É tudo tão trágico, Albertina...
Autor(a): aniiinhaa
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Alfonso tomou delicadamente a mão de Dulce, assim que ela abriu a porta de casa, e olhou-a firme nos olhos. —Dul,eu preciso falar com você. —Poncho... Oi. Entre... Dulce afastou-se e o rapaz caminhou em direção à mesa coberta de livros e papéis. — Você estava estudando? — Não... eu... &mdash ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 68
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tammybrenda Postado em 07/08/2009 - 16:33:45
amei a web linda muito bom amei o fim
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tammybrenda Postado em 07/08/2009 - 16:33:45
amei a web linda muito bom amei o fim
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tammybrenda Postado em 07/08/2009 - 16:33:33
amei a web linda muito bom amei o fim
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tammybrenda Postado em 07/08/2009 - 16:33:06
amei a web linda muito bom amei o fim
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marivondy Postado em 05/08/2009 - 20:36:05
Posta mais!
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marivondy Postado em 04/08/2009 - 20:44:03
Posta mais!
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marivondy Postado em 03/08/2009 - 20:30:19
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tammybrenda Postado em 30/07/2009 - 13:30:18
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natyvondy Postado em 30/07/2009 - 01:18:22
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http://www.e-novelas.com.br/?q=ler_novela&id=3544
bjix da Naty -
tammybrenda Postado em 29/07/2009 - 22:30:00
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