Fanfic: tentadora paixão (adaptada aya) | Tema: anahi e alfonso / aya/ ponny

Sentado na biblioteca, Alfonso ouviu os passos da enfermeira inglesa se dirigindo para a cozinha e voltarem alguns minutos depois.
Maravilhoso. Ela estava voltando.
Virou a cabeça, olhando para nada porque tudo era escuro desde o acidente, 14 meses e 11 dias antes.
A porta se abriu e ele soube, pelo modo como a maçaneta foi virada e pela leveza dos passos, que era ela.
— Você está errada sobre outra coisa — disse, rudemente, quando ela entrou na biblioteca. — O acidente não foi um anos atrás, foi há quase um ano e meio. Aconteceu em fevereiro do ano passado.
Ela parou e ele a sentiu além de seu olhar, além de seu alcance, em pé, olhando, esperando. Isso o atormentava, não saber, não ver. Conseguira o que tinha usando seus olhos, sua mente, sua coragem. Confiava em seus olhos e em sua coragem, e agora, sem eles, não sabia o que era verdade ou real.
Como Calista, por exemplo.
— Isso é ainda pior — disse sua nova enfermeira de pesadelo. — Já deveria estar de volta ao trabalho. Tem uma empresa para dirigir, pessoas que dependem do senhor. Não está fazendo bem a ninguém, escondendo-se aqui em sua vila.
— Não posso administrar minha firma se não posso andar ou ver...
— Mas pode andar, e há chances de poder voltar a ver...
— Uma chance de menos de cinco por cento. — Riu com amargura. — Sabe, antes das últimas cirurgias, a chance era de 35 por cento, mas eles estragaram tudo...
— Não estragaram. As cirurgias eram ainda experimentais.
— Sim, e esse tratamento experimental reduziu minhas chances de ver para zero.
— Zero, não.
— Cinco por cento! Não há muita diferença. Especialmente quando dizem que mesmo se a operação for um sucesso, nunca poderei dirigir, voar ou velejar. Que os danos foram grandes demais para eu voltar a ser o que era.
— E sua resposta é se sentar aqui enrolado em ataduras, na escuridão, e sentir pena de si mesmo? — perguntou secamente, a voz mais próxima.
Alfonso se mexeu na cadeira e sentiu uma ativa e crescente aversão por Any. Estava em pé à sua direita e a atitude complacente e superior o irritou profundamente.
— Os serviços de sua companhia foram dispensados.
— Não foram...
— Posso ser cego, mas, aparentemente, você é surda. A First Class Rehab recebeu de mim o último cheque, o cheque de fechamento da conta. Não haverá outros pagamentos por serviços prestados.
Ele a ouviu soltar o ar... uma respiração rápida, suave, tão feminina que ele recuou, momentaneamente assustado.
E nesse meio segundo ele se sentiu traído.
Ela é que não estava ouvindo. Ela é que estava forçando sua presença. E no entanto... no entanto era uma mulher e ele era, ou tinha sido, um cavalheiro, e cavalheiros eram bem educados.
Cavalheiros deviam estar acima de críticas.
Resmungando, ele se recostou na cadeira, agarrou os aros das rodas e olhou fixamente para onde imaginava que ela estava.
Não devia se sentir mal por falar com rudeza. Era culpa dela.
Ela chegara, invadira sua casa com sua atitude prepotente que lhe embrulhava o estômago.
O acidente não ocorrera no dia anterior. Vivera tempo suficiente nessa situação para saber com que estava,lidando. Não precisava que ela lhe dissesse isso ou aquilo, como se ele fosse incapaz de saber por si mesmo.
Não, a enfermeira Portilla-Any era igual às outras seis. Aos olhos delas, a cadeira de rodas fazia dele um incompetente, incapaz de pensar por si mesmo.
— Não tenho mais contrato com você — repetiu com firmeza, determinado a acabar logo com aquilo. — Você recebeu seu último pagamento. Você e sua companhia não tem mais o que fazer aqui.
Então ela fez aquele som de novo, aquele pequeno som que o fizera recuar. Mas desta vez ele o reconheceu.
Uma risada.
Estava rindo dele.
Rindo e andando em torno de sua cadeira, obrigando-o a virar a cabeça para tentar segui-la.
Sentiu as mãos dela segurarem as costas da cadeira. Ela devia ter se abaixado, ou talvez não fosse muito alta, porque sua voz chegou a seus ouvidos muito perto.
— Mas o senhor não está me pagando. Nossos serviços foram contratados e fomos autorizados a continuar a cuidar do senhor. Apenas, em vez de o senhor nos pagar, os acertos financeiros estão nas mãos de uma fonte privada.