Fanfic: Um porto seguro - adapatada- Portiñón | Tema: Portiñón

Any estava organizando alguns dos frascos de condimentos quando ouviu soar a campainha que tocava quando um cliente abria a porta da loja. Levantando a cabeça por cima da gôndola, ela viu Dulce entrar na loja.

— Oi, senhorita Dulce — disse Kristen, aparecendo por trás da caixa registradora. — Você gosta das roupas que eu coloquei na minha boneca?

Do lugar onde estava, ela mal conseguia ver a cabeça de Kristen por cima do balcão, mas ela trazia nas mãos... Vanessa? Rebeca? Qualquer que fosse o nome da boneca de cabelos castanhos. E a segurava para o alto para que Dulce pudesse vê-la.

— Ela está linda, Kristen — respondeu Dulce. — Esse vestido é novo?

— Não, eu o ganhei faz algum tempo. Mas ela não o usou nos últimos dias.

— Qual é o nome dela?

— Vanessa — disse ela.

“Vanessa”, pensou Any. Quando ela elogiasse Vanessa mais tarde, pareceria uma mãe bem mais atenciosa.

— Foi você que deu esse nome a ela?

— Não, ela já veio com esse nome. Pode me ajudar a calçar as botas nela? Eu não consigo puxá-las até os joelhos.

Any observava quando Kristen entregou a boneca para Dulce e quando a cliente começou a calçar a boneca com as botas de plástico flexível. Por experiência própria, Any sabia que era mais difícil do que parecia. Uma garotinha não teria condições de puxar as botas para que se encaixassem. Ela teve dificuldades para fazer aquilo, mas, de algum modo, Dulce fez com que tudo parecesse bem fácil.

Ela devolveu a boneca e perguntou: — O que acha?

— Está linda. Você acha que seria bom colocar um casaco nela?

— Não está tão frio lá fora.

— Eu sei, mas Vanessa é meio friorenta às vezes. Eu acho que ela vai precisar de um.

A cabeça de Kristen sumiu por trás do balcão e logo voltou a aparecer. — Qual ficaria melhor nela? Um azul ou um roxo?

Dulce colocou um dedo na boca, analisando os casacos com uma expressão séria. — Acho que o roxo vai ficar mais bonito.

Kristen assentiu. — É o que eu estava pensando também. Obrigada.

Dulce sorriu antes de desviar o olhar, e Any concentrou sua atenção nas mercadorias antes que ela percebesse que a observava. Com o canto dos olhos, ela viu Dulce pegar uma pequena cesta de compras antes de ir para um outro corredor.

Any voltou para o balcão da caixa registradora. Quando ela a viu, acenou amigavelmente. — Bom dia.

— Oi — ela tentou colocar uma mecha de cabelo por trás da orelha, mas era curta demais para ficar no lugar. — Só preciso pegaralgumas coisas.

— Me avise se não conseguir encontrar algo de que precisa. Às vezes os produtos são remanejados.

Ela fez que sim com a cabeça antes de continuar a andar pelo corredor. Quando Any assumiu seu posto atrás da caixa registradora ,ela deu uma rápida olhada na tela do monitor. Josh estava pescando no mesmo lugar enquanto um barco se aproximava lentamente do ancoradouro.

— O que você acha, mamãe? — perguntou Kristen enquanto puxava a barra das calças dela com uma mão e segurava a boneca com a outra.

— Oh, ela está linda — disse Any, agachando-se ao lado dela. — E gostei bastante do casaco também. Vanessa é meio friorenta, não é?

— É, sim. Mas ela me disse que quer brincar no balanço, então provavelmente vai ter que se trocar.

— É uma ótima ideia. Talvez possamos ir ao parque depois do almoço. Se você quiser brincar no balanço também — propôs Any.

— Não quero brincar no balanço. É a Vanessa que quer. E é só no faz de conta, mamãe.

— Ah, tudo bem — disse ela, levantando-se. “Lá se vai o passeio no parque”, pensou ela.

Perdida em seu próprio mundo, Kristen começou a despir a boneca novamente. Any deu uma olhada no monitor para ver onde Josh estava, bem no momento em que um adolescente entrou na loja, trajando apenas uma bermuda. Ele lhe entregou um maço de notas.

— Para a bomba de gasolina no ancoradouro — disse ele, antes de correr para fora. Alex registrou a compra da gasolina e acionou a bomba enquanto Dulce vinha até a caixa registradora.

Quando ela olhou por cima do balcão para ver onde Kristen estava, Any percebeu a mudança da cor dos olhos dela.

— Encontrou tudo o que precisava?

— Sim, obrigada.

 começou a guardar as compras que ela fez em uma sacola plástica. — Meu livro favorito de Dickens é Grandes esperanças — disse ela, tentando parecer amistoso enquanto colocava os produtos na sacola. — Qual é o seu?

Em vez de responder imediatamente, Dulce pareceu se assustar por ela ter lembrado que ela havia dito que gostava de Dickens.

— Um conto de duas cidades — respondeu ela, com a voz suave.

— Gostei desse também. Mas é uma história triste.

— Sim. É por isso que eu gosto dela.

Como  sabia que ela voltaria para casa a pé,  colocou mais uma sacola ao redor da primeira.

— Eu imagino que, como você já conhece a minha filha, é hora de eu me apresentar. Meu nome é Anahí. Anahí Portilla.

— O nome dela é senhorita Dulce — disse Kristen por trás dele. — Mas eu já lhe falei isso, não lembra?

Any olhou para Kristen por cima do seu ombro. Quando se voltou para Dulce, ela estava sorrindo enquanto lhe entregava o dinheiro.

— Apenas Dulce — disse ela.

— Prazer em conhecê-la, Dulce.

Ela tocou nas teclas e a gaveta da registradora se abriu com o som de uma sineta. — Imagino que você more aqui perto.

Ela nunca conseguiu responder. Em vez disso, quando Any olhou para cima, percebeu que os olhos dela haviam se arregalado pelo medo. Virando-se para trás,  percebeu o que ela havia visto no monitor que estava atrás dela: Josh havia caído na água, ainda vestindo suas roupas, e se debatia, agitando os braços em pânico.

Any sentiu sua garganta se fechando repentinamente e começou a se mover por instinto. Ela saiu correndo de trás do balcão, passando em disparada pela loja e pelo depósito. Ao abrir a porta, esbaforida, esbarrou em um caixote de toalhas de papel, derrubando-a no chão, mas não diminuiu o passo. Any abriu a porta dos fundos com toda a força, sentindo a adrenalina lhe correr pelo corpo enquanto saltava por sobre alguns arbustos, encurtando o caminho até o ancoradouro.