Fanfics Brasil - Capítulo 18 Um porto seguro - adapatada- Portiñón

Fanfic: Um porto seguro - adapatada- Portiñón | Tema: Portiñón


Capítulo: Capítulo 18

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A manhã de sábado chegou trazendo céu azul, mas logo as nuvens começaram a se formar. Cinzentas e pesadas, elas se formavam e se agrupavam ao mesmo tempo que o vento soprava cada vez mais forte. A temperatura começou a cair e, quando Dulce saiu de casa, ela teve que vestir uma blusa de moletom. A loja ficava a cerca de três quilômetros de sua casa, um percurso de aproximadamente meia hora de caminhada vigorosa, e ela sabia que teria que se apressar se não quisesse que a chuva a apanhasse. Dulce chegou à estrada principal assim que ouviu o ribombar dos trovões. Ela acelerou o passo, sentindo o ar ficar mais denso à sua volta. Um caminhão passou correndo no asfalto, deixando uma nuvem de poeira atrás de si, e Dulce foi até o canteiro central que dividia as duas pistas. O ar cheirava ao sal que vinha do oceano. Acima dela, um gavião de cauda vermelha flutuava intermitente nas correntes de ar ascendentes, testando a força do vento.


O ritmo constante dos seus passos distraiu sua mente, e ela se viu refletindo sobre a conversa com Maite. Não as histórias que ela havia contado, mas algumas das coisas que Maite havia dito a respeito de Anahí. Acabou por decidir que Maite não sabia do que estava falando. Enquanto Dulce estava simplesmente tentando conversar, Maite havia distorcido suas palavras e transformando-as em algo que não era realmente verdadeiro. Any certamente parecia ser uma boa pessoa e, como Maite disse, Kristen era muito doce e meiga, mas não estava interessada nela. Ela mal a conhecia. Desde que Josh havia caído no rio, elas mal haviam trocado algumas palavras, e a última coisa que ela queria era entrar em um relacionamento, qualquer que fosse.


Assim, por que ela tinha a sensação de que Maite estava tentando fazer com que eles ficassem juntos? Ela não sabia ao certo, mas, para ser honesta, aquilo não lhe importava. Estava feliz pelo fato de que Maite viria até sua casa naquela noite. Duas amigas, compartilhando uma garrafa de vinho... não era algo tão especial assim, ela sabia. Outras pessoas, outras mulheres, faziam aquele tipo de coisa o tempo todo. Dulce franziu a testa. Tudo bem, talvez não o tempo todo, mas a maioria delas provavelmente sabia que podia fazer aquilo se quisessem, e ela supunha que aquela era diferença entre ela própria e as outras pessoas. Quanto tempo fazia desde que havia feito algo que parecesse normal? Desde sua infância, admitiu Dulce para si mesma. Desde aqueles dias em que ela colocara moedas sobre os trilhos. Mas ela não havia contado toda a verdade a Maite. Não dissera a ela que ia até o lugar onde o trem passava para fugir do som das discussões de seus pais, das vozes arrastadas que se insultavam mutuamente. Não contou a Maite que havia sido pega no fogo cruzado mais de uma vez e que, quando tinha 12 anos, fora atingida por um enfeite de vidro que seu pai lançara contra sua mãe. O objeto lhe causou um corte na cabeça que sangrou por várias horas, mas nem a mãe nem o pai demonstraram qualquer interesse em levá-la para o hospital. Não disse a Maite que seu pai era cruel quando estava bêbado, ou que ele nunca convidara qualquer pessoa, nem mesmo Emily, para visitar sua casa. Ou que não conseguiu ir para a faculdade porque seus pais achavam que era um desperdício de tempo e dinheiro. Ou que eles a expulsaram de casa no dia em que ela terminou o ensino médio. Ela pensou que talvez pudesse contar aquilo a Maite. Ou talvez não contasse. Não era tão importante. E daí que ela não tivera a melhor das infâncias? Sim, seus pais eram alcoólatras e frequentemente estavam desempregados, mas, ignorando o incidente com o enfeite de vidro, eles nunca chegaram a machucá-la. Não, ela nunca ganhou um carro ou teve festas de aniversário, mas nunca foi para a cama sem jantar. E, quando o outono chegava, independente da situação financeira da família, ela sempre ganhava roupas novas para ir à escola. Talvez seu pai não fosse o melhor homem do mundo, mas ele não vinha até seu quarto na calada da noite para fazer coisas horríveis com ela — coisas que ela sabia que haviam acontecido com algumas amigas.


Aos 18 anos, ela não se considerava uma pessoa traumatizada. Talvez um pouco decepcionada por não ter cursado uma faculdade e nervosa por ter que encontrar seu caminho sozinha no mundo, mas não traumatizada além de qualquer possibilidade de recuperação.  ela havia conseguido. As coisas não foram tão ruins em Atlantic City. Ela conheceu alguns bons rapazes e ainda se lembrava de mais de uma noite que passara rindo e conversando com os amigos do trabalho até o dia amanhecer. Não, insistiu ela consigo mesma. Sua infância não havia definido sua vida, nem tinha algo a ver com a razão pela qual ela se mudara para Southport e, embora Maite fosse a coisa mais próxima de uma amiga que ela tinha na cidade, essa amiga não sabia absolutamente nada sobre sua vida. Ninguém sabia.


— OI, SENHORITA Dulce — disse Kristen, ainda sentada em sua mesinha de desenho.


Não havia nenhuma boneca aquele dia. Em vez disso, ela estava curvada sobre um livro de colorir, com bastões de giz de cera nas mãos, trabalhando em uma imagem de unicórnios sob um arco-íris.


— Oi, Kristen. Como você está?


— Estou bem.


Kristen tirou os olhos do livro de colorir e olhou para Dulce. — Por que você sempre vem a pé para cá?


Dulce analisou a pergunta por um momento e depois deu a volta no balcão, agachando-se para ficar da mesma altura que Kristen. — Porque não tenho um carro.


— Por que não?


“Porque não tenho habilitação”, pensou Dulce. “E mesmo que eu


tivesse, não tenho dinheiro para comprar ou manter um carro”. — Bem, vou lhe dizer o que farei. Vou pensar em comprar um, certo?


— Certo — disse ela. E estendeu o livro de colorir para Dulce. — Você gostou do meu desenho?


— Está bonito. Você está fazendo um ótimo trabalho.


— Obrigada. Vou lhe dar esta folha quando eu terminar.


— Não precisa fazer isso.


— Eu sei — disse ela, com uma autoconfiança encantadora. — Mas eu quero que você fique com ela. Você pode colocá-la na porta da sua geladeira.


Dulce sorriu e se levantou. — Era exatamente nisso que eu estava pensando.


— Precisa de ajuda com as compras?


— Acho que consigo cuidar disso sozinha hoje. Assim você pode terminar de colorir.


— Tudo bem — concordou Kristen.


Ao pegar uma cesta de compras, Dulce viu que Anahí se aproximava.  acenou para ela e, embora não fizesse sentido, ela teve a sensação de que aquela era a primeira vez que realmente prestava atenção nela.


— Oi, Dulce. Como está?


— Estou bem. E você?


— Tudo tranquilo — disse ela, abrindo um sorriso. — É ótimo ver você. Eu queria lhe mostrar uma coisa.


Any apontou para o monitor e ela viu que Josh estava sentado no ancoradouro atrás da loja, segurando sua vara de pescar.


— Você deixou que ele voltasse a pescar? — perguntou ela.


— Percebeu o colete que ele está usando?


Ela se aproximou do monitor, apertando os olhos. — Um colete salva-vidas?


— Eu demorei um pouco para achar um que não fosse desajeitado ou quente demais para ele, mas esse é perfeito. E, para falar a verdade, eu não tive escolha. Você não faz ideia do quanto ele estava triste sem poder pescar. Nem tenho como enumerar quantas vezes ele me implorou para que eu o deixasse voltar para a doca. Não conseguia mais suportar aquilo, então pensei que esta seria uma boa solução.


— Ele não se importa em usar o colete?


— Uma das novas regras da casa. Ou usa o colete ou fica sem pescar. Mas eu não acho que ele se importe.


— E ele chega a pescar alguma coisa?


— Não tanto quanto gostaria, mas, às vezes, ele pega alguns peixes, sim.


— E vocês os comem?


— Às vezes. Mas Josh geralmente os joga de volta na água. Ele não se importa de pescar o mesmo peixe várias vezes.


— Fico feliz por você ter encontrado uma solução.


— Um mãe mais previdente teria pensado nisso antes que um acidente acontecesse.


Pela primeira vez, Dulce olhou para ela. — Tenho a impressão de que você é um ótimo pai.


Seus olhos se encontraram e ambos se observaram por um momento, antes que ela se forçasse a desviar o rosto. Any, sentindo o desconforto dela, começou a mexer nas coisas que estavam atrás do balcão.


— Tenho uma coisa para você — disse ela, tirando uma sacola de trás da caixa registradora e colocando-a sobre o balcão. — Há uma pequena fazenda que me fornece alguns produtos e eles têm uma estufa. Conseguem cultivar algumas coisas em épocas que outras empresas não conseguem. Ontem eles trouxeram alguns legumes frescos. Tomates, pepinos e alguns tipos diferentes de abobrinhas. Talvez você queira experimentá-los. Minha esposa jurava que eram os melhores que ela já havia comido.


— Sua esposa?


Ela balançou a cabeça. — Ah, me desculpe. Ainda faço isso às vezes. Estava me referindo à minha esposa, já falecida. Ela morreu há alguns anos.


— Eu lamento — murmurou ela, enquanto sua mente repassava a conversa que teve com Maite.


Qual é a história dela?


Seria melhor que você perguntasse a ela. Aquela fora a resposta de Maite. Era óbvio que ela sabia que a esposa dela havia morrido, mas não dissera nada a respeito. Estranho.


Any não percebeu que ela estava pensando na conversa que tivera no dia anterior. — Obrigado — disse ela, com a voz um pouco estrangulada. — ela era uma ótima pessoa. Tenho certeza de que você teria gostado dela — completou Any. Uma expressão saudosa lhe cruzou o rosto.


— De qualquer forma, ela sempre elogiou aquele lugar. Eles trabalham com alimentos orgânicos e a família ainda colhe os legumes manualmente. Em geral, os produtos deles desaparecem logo depois que chegam, mas eu separei alguns para você, se quiser experimentá-los — comentou ele, sorrindo. — Além disso, você é vegetariana, não é? Os vegetarianos adoram estes legumes. Eu garanto.


Dulce olhou para ela, apertando os olhos. — Por que você acha que eu sou vegetariana?


— Não é?


— Não.


— Acho que me enganei, então — disse ela, colocando as mãos nos bolsos.


— Tudo bem. Já me acusaram de fazer coisas piores.


— Duvido muito.


“Não duvide”, pensou ela. — Bem, acho que vou levar os legumes. Obrigada.



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Autor(a): portinons2vondy

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Enquanto Dulce fazia as, Any tentava se ocupar, observando-a com o canto do olho. Ela organizou os objetos que estavam sobre o balcão, deu uma olhada no monitor para ver como Josh estava, examinou o desenho de Kristen e voltou a organizar as coisas que estavam sobre o balcão, tentando fazer parecer que estava ocupado. Ela havia mudado nas últimas semana ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 9



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  • angelr Postado em 04/09/2015 - 01:32:59

    Poxa a fic é maravilhosa volta a postar prometo divulgar ela em minhas fics q posto

  • flavianaperroni Postado em 12/07/2015 - 03:13:52

    posta maaais

  • dyas Postado em 28/07/2014 - 15:42:49

    Posta mais vai... :)

  • dyas Postado em 16/07/2014 - 12:05:02

    Aaah Any pensando na Dul *-*' Continua s2

  • dyas Postado em 03/07/2014 - 09:39:14

    Continua *----*' Quero saber mais da história da Dulce.

  • dyas Postado em 11/06/2014 - 10:39:33

    Flor, posta mais! tô amando a web.

  • dyas Postado em 09/05/2014 - 20:24:17

    Continua, adorando. :)

  • lunaticas Postado em 05/05/2014 - 23:17:43

    Continua!!!!!

  • vverg Postado em 05/05/2014 - 00:05:51

    Mais uma... Up *_*


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