Fanfics Brasil - Capítulo 19 Um porto seguro - adapatada- Portiñón

Fanfic: Um porto seguro - adapatada- Portiñón | Tema: Portiñón


Capítulo: Capítulo 19

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Enquanto Dulce fazia as, Any tentava se ocupar, observando-a com o canto do olho. Ela organizou os objetos que estavam sobre o balcão, deu uma olhada no monitor para ver como Josh estava, examinou o desenho de Kristen e voltou a organizar as coisas que estavam sobre o balcão, tentando fazer parecer que estava ocupado.


Ela havia mudado nas últimas semanas, com um leve bronzeado típico do início do verão, e sua pele tinha um brilho rejuvenescido. Também parecia menos insegura quando estava perto dela, e o que aconteceu hoje foi um dos melhores exemplos. Não, aquela conversa cintilante não havia despertado qualquer chama entre os dois, mas era um começo, não era? Mas o começo do quê? Desde o início, Any sentira que Dulce tinha problemas, e sua resposta instintiva fora querer ajudar. E, é claro, ela era bonita, apesar do corte de cabelo que não combinava com seu rosto e das roupas que não valorizavam seu corpo. Mas fora a maneira como ela confortou Kristen no dia em que Josh caiu na água que tocou verdadeiramente seu coração. E mais do que isso, a reação de Kristen às atitudes de Dulce. Ela buscou a proteção de Dulce como uma criança busca o colo da mãe.


Aquilo fez com que sentisse um nó na garganta, lembrando-a de que ele sentia falta de ter uma esposa com a mesma intensidade que seus filhos sentiam falta de ter uma mãe. Any sabia que eles estavam sofrendo, e ela tentava compensar da melhor maneira que podia.


Mesmo assim, só percebeu que a tristeza era apenas uma parte daquilo que eles sentiam quando viu Dulce e Kristen juntas. A solidão dos seus filhos era um reflexo da sua. Ela ficou preocupado por não ter percebido aquilo antes.


Dulce ainda representava um certo mistério para ela. Havia um elemento que faltava, algo que vinha lhe incomodando. Ela a observava, perguntando-se quem ela realmente era e o que a trouxera até Southport.


Ela estava em frente a um dos refrigeradores, algo que nunca havia feito antes, estudando os produtos que estavam atrás da porta de vidro. Dulce tinha uma expressão séria no rosto, como se estivesse debatendo o que comprar. Any percebeu que os dedos da mão direita dela estavam se movimentando ao redor do anular da mão esquerda, dedilhando um anel que não estava ali. O gesto lhe trouxe algo familiar e que havia sido esquecido há bastante tempo. Era um hábito, um tique que ela percebeu durante os anos em que passou trabalhando no DIC e que às vezes observava em mulheres cujos rostos estavam desfigurados ou tinham hematomas aparentes.


Elas costumavam se sentar de frente para ela, compulsivamente tocando sua aliança de casamento, como se fosse algemas que as prendiam aos maridos. Geralmente, elas negavam que os maridos as haviam agredido e, nas raras ocasiões em que admitiam a verdade, insistiam também que não fora culpa deles. Diziam que haviam provocado a raiva dos maridos. Diziam que haviam queimado o jantar, que não haviam lavado as roupas ou que eles haviam bebido. E sempre, sempre, as mesmas mulheres juravam que era a primeira vez que aquilo lhes acontecia e que não queriam prestar queixa porque a carreira dos maridos seria arruinada. Todos sabiam que o exército agia com rigor contra maridos agressivos.


As coisas eram diferentes com algumas delas, pelo menos no começo. Algumas insistiam em prestar queixa. Ela começava a montar seu relatório e as ouvia questionarem por que a burocracia e a papelada eram mais importantes do que prender um homem que batia em sua esposa. Ou mais importante do que fazer cumprir a lei. Ela redigia o relatório assim mesmo e lia para elas suas próprias palavras antes de pedir que assinassem o documento. Às vezes, era naquele momento que elas perdiam a coragem e ela notava a mulher aterrorizada que estava por baixo da superfície enraivecida. Muitas acabavam não assinando o relatório, e mesmo aquelas que a faziam mudavam de opinião rapidamente quando seus maridos eram intimados para serem questionados. Aqueles casos seguiam adiante, independente do que a esposa dissesse. E depois, quando elas não compareciam para testemunhar, poucas punições eram efetivamente cumpridas. Any acabou compreendendo que apenas aquelas que insistiam em manter as queixas em caráter oficial conseguiam realmente se livrar dos abusos, porque a vida que elas levavam era como uma prisão, mesmo que a maioria daquelas mulheres não admitisse.


Ainda assim, havia outra maneira de escapar do horror das suas vidas, embora, durante toda a sua carreira, Any só conhecesse um único caso de uma mulher que chegasse a fazer aquilo. Ela havia entrevistado a mulher uma vez e ela executou a mesma rotina da maioria das outras, negando as agressões e culpando a si mesma pelo que acontecera. Entretanto, cerca de dois meses depois, ela soube que ela havia fugido. Não havia voltado para sua família nem ido para a casa de algum amigo, mas se escondera em alguma outra parte do mundo, um lugar onde nem mesmo seu marido conseguiria encontrá-la. O marido, perdido em meio à fúria que o tinha dominado depois da fuga da esposa, havia explodido após uma noite de bebedeira e agredira um dos guardas da base onde servia, deixando-o coberto de sangue. Ele foi enviado a Leavenworth2, e Any se lembrava de ter sorrido com satisfação quando ouviu o desfecho do caso. E, quando se lembrou da esposa daquele homem, ela sorriu novamente, pensando: “Bem feito”.


Agora, ao observar Dulce dedilhando uma aliança que não estava mais em seu dedo, ela sentiu que seus antigos instintos de investigação voltavam a funcionar. Houve um marido, pensou ela; o marido dela era o elemento que faltava. Talvez ela ainda fosse casada, ou talvez não fosse. Mesmo assim, Any tinha um pressentimento inegável de que Dulce ainda sentia medo dele.


 


O céu  explodiu  enquanto ela estava pegando um pacote de biscoitos. Relâmpagos cortaram o céu e alguns segundos depois um trovão ressoou pelos ares, antes de finalmente se reduzir a um ruído baixo e constante. Josh veio correndo para dentro da loja antes que a chuva começasse a cair, trazendo sua caixa de iscas e anzóis e a varinha de pesca. Seu rosto estava vermelho e ele estava arfando como um corredor que havia atravessado a linha de chegada.


— Oi, mamãe.


Any olhou para Josh. — Conseguiu pescar alguma coisa?


— Só aquele bagre. O mesmo que eu sempre pesco.


— Vá descansar. Daqui a pouco iremos almoçar.


Josh voltou para o depósito e Any o ouviu subindo os degraus para a casa.


Do lado de fora, a chuva começou a cair com força e as rajadas de vento faziam a água bater contra as janelas. Os galhos das árvores se dobravam por causa do vento, curvando-se a uma força superior. O céu escuro reluzia com os relâmpagos e um trovão rugiu no ar, forte o bastante para fazer as janelas tremerem. Do outro lado da loja,  viu Dulce gemer, com o rosto contorcido em uma expressão de surpresa e terror. Ela imaginou se era daquele jeito que seu marido a via antigamente.


A porta da loja se abriu e um homem entrou correndo, respingando água nas tábuas do piso. Ele agitou as mangas para se livrar da umidade e cumprimentou Any antes de ir em direção à área da chapa e da churrasqueira.


Dulce se virou para a prateleira que tinha os biscoitos. Any não tinha uma variedade muito grande em estoque, apenas os pacotes tradicionais de Ritz e Saltines, os únicos que os clientes compravam regularmente. Ela pegou um pacote de Ritz. Depois de pegar os produtos que geralmente costumava comprar, os levou à caixa registradora. Quando Any terminou de calcular o valor das compras e de colocá-las nas sacolas plásticas, apontou para a sacola que havia colocado no balcão quando Dulce havia chegado.


— Não esqueça seus legumes.


Ela olhou para o total na caixa registradora. — Tem certeza que está me cobrando o preço certo?


— É claro que tenho.


— O total não é maior do que o que costumo pagar pelas minhas compras.


— Dei um desconto de cortesia, pela apresentação do produto.


Ela fez uma expressão séria, sem saber se acreditava no que ela dizia, até finalmente colocar a mão dentro da sacola. Ela pegou um tomate e o trouxe até o nariz.


— O cheiro é ótimo.


— Eu comi alguns desses ontem à noite. São ótimos com uma pitada de sal e os pepinos não precisam de nenhum condimento.


Ela concordou com a cabeça, mas seu olhar estava fixo na porta.O vento estava jogando a água da chuva contra ela em rajadas furiosas. A porta se abriu com um rangido e a água lutava para entrar na loja. O mundo além do vidro não passava de um borrão. As pessoas estavam relaxando ao redor da churrasqueira. Any podia ouvi-las resmungando consigo mesmas, falando algo sobre esperar a tempestade passar.


Dulce tomou fôlego e pegou suas sacolas.


— Senhorita Dulce! — gritou Kristen, quase como se estivesse em pânico. Ela se levantou, agitando a folha de papel que havia colorido, já destacada do livro. — Você quase esqueceu seu desenho.


Dulce estendeu a mão para pegar o desenho, abrindo um sorriso enquanto estudava a imagem. Any sentiu-se como — pelo menos por um instante — se todo o resto do mundo não tivesse mais qualquer importância.


— Está lindo. Mal posso esperar para colocá-lo na porta da minha geladeira.


— Vou colorir outro para você levar, da próxima vez que vier aqui.


— Eu adoraria — disse Dulce.


Kristen sorriu antes de voltar a se sentar em sua mesa. Dulce enrolou o desenho, certificando-se de que não o amassaria, e o colocou cuidadosamente na sacola de compras. Raios e trovões voltaram a rugir, quase simultaneamente desta vez. A chuva martelava o chão e o estacionamento parecia um mar de poças. O céu estava mais escuro do que o céu da madrugada.


— Você sabe o quanto essa tempestade vai durar? — perguntou ela.


— Ouvi no noticiário que ela iria durar o dia todo — respondeu Any.


Ela voltou a olhar pelo vidro da porta. Enquanto decidia o que fazer, dedilhou novamente o anel que não estava mais em seu dedo. Em meio ao silêncio, Kristen puxou a camisa de seu mãe.


— Você podia levar a senhorita Dulce para casa — disse ela. — Ela não tem carro e está chovendo muito.


Any olhou para Dulce, sabendo que ela ouvira o que Kristen havia dito. — Quer uma carona até sua casa?


Dulce balançou a cabeça. — Não precisa se incomodar, está tudo bem.


— Mas e o seu desenho? Ele vai ficar todo molhado — disse Kristen.


Quando Dulce não respondeu ao argumento da menina, Any saiu de trás da caixa registradora. — Vamos lá — disse ela, fazendo um movimento com a cabeça em direção à porta. — Não há motivos para ficar encharcada. Meu carro está nos fundos.


— Não quero incomodar...


— Não é incômodo algum — disse Any, apalpando o bolso para apanhar as chaves do carro antes de pegar as sacolas de compras de Dulce.


— Deixe que eu as levo — disse ela, levantando-as. — Kristen, meu bem, pode subir e dizer a Josh que estarei de volta em dez minutos?


— Claro, mamãe.


— Roger? Dê uma olhada nas crianças e na loja por um momento, por favor.


— Sem problemas — disse ela, com um aceno.


Any apontou para os fundos da loja. — Vamos?


 


 


Elas saíram em disparada em direção ao jipe, empunhando guarda-chuvas que se curvavam com a força da ventania e do aguaceiro que teimava em cair. Os relâmpagos continuavam a riscar o céu, iluminando as nuvens. Quando se acomodaram nos assentos,


Dulce passou a mão no vidro para desembaraçá-lo.


— Não achei que o tempo fosse ficar desse jeito quando saí de casa.


— Ninguém imagina, até que a tempestade começa. Muitas vezes falam que “o céu vai cair” na previsão do tempo, mas quando uma chuva realmente forte cai, as pessoas estão desprevenidas. Se não for tão ruim quanto a televisão previu, nós reclamamos. Se for pior do que esperávamos, nós reclamamos. Se for tão ruim quanto esperávamos, aproveitamos para reclamar, também, porque as previsões geralmente são erradas e não havia como saber que elas estariam certas desta vez. É apenas mais uma razão para que as pessoas reclamem.


— Como aquelas pessoas na área da churrasqueira?         ela assentiu, abrindo um sorriso. — Mas elas são boas pessoas. Em sua maioria, são trabalhadoras, honestas e gentis. Qualquer um dos que estavam ali poderia cuidar da loja para mim se eu pedisse a eles e tenho certeza de que não faltaria nem um centavo no fechamento do caixa. É assim que as coisas são nessa cidade. No fundo, as pessoas sabem que, em uma cidade pequena como esta, todos precisamos uns dos outros. É ótimo saber disso. E olhe que eu demorei um pouco para me acostumar com a ideia.


— Você não é daqui?


— Não. Minha esposa era. Eu nasci em Spokane. Quando me mudei para cá, me lembro de pensar que nunca conseguiria morar em um lugar como este. Afinal, é uma cidade pequena no sul dos Estados Unidos, um lugar que não se importa com o que o resto do mundo pensa. Demora um pouco para se acostumar. Mesmo assim, depois de um tempo, você começa a sentir um certo carinho pelo lugar. Esta cidade me ajuda a manter minha atenção naquilo que é importante.


Dulce perguntou com uma voz suave: — E o que é importante?


Ela deu de ombros. — Depende de cada um, não é mesmo? Mas, neste momento da minha vida, o que importa são meus filhos. Esta cidade é o lar deles, e depois do que eles passaram, eles precisam de estabilidade. Kristen precisa de um lugar para colorir seus desenhos e vestir suas bonecas. Josh precisa de um lugar para pescar, e os dois precisam saber que estou por perto sempre que for necessário. Esta cidade e a loja tornam tudo isso possível. E, neste momento, é exatamente o que eu quero. É o que eu preciso.


 



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Autor(a): portinons2vondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 9



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  • angelr Postado em 04/09/2015 - 01:32:59

    Poxa a fic é maravilhosa volta a postar prometo divulgar ela em minhas fics q posto

  • flavianaperroni Postado em 12/07/2015 - 03:13:52

    posta maaais

  • dyas Postado em 28/07/2014 - 15:42:49

    Posta mais vai... :)

  • dyas Postado em 16/07/2014 - 12:05:02

    Aaah Any pensando na Dul *-*' Continua s2

  • dyas Postado em 03/07/2014 - 09:39:14

    Continua *----*' Quero saber mais da história da Dulce.

  • dyas Postado em 11/06/2014 - 10:39:33

    Flor, posta mais! tô amando a web.

  • dyas Postado em 09/05/2014 - 20:24:17

    Continua, adorando. :)

  • lunaticas Postado em 05/05/2014 - 23:17:43

    Continua!!!!!

  • vverg Postado em 05/05/2014 - 00:05:51

    Mais uma... Up *_*


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