Fanfic: Um porto seguro - adapatada- Portiñón | Tema: Portiñón
Já contava 27 anos, não tinha amigos e havia deixado de ser uma mulher morena de cabelos compridos há algum tempo. Ela tinha se mudado para aquele lugar sem praticamente nada e, alguns meses depois, ainda tinha pouco. Ela guardava metade das gorjetas que ganhava e todas as noites dobrava o dinheiro e o punha em uma lata de café, que deixava escondida sob uma tábua do piso perto da varanda. O dinheiro ficava guardado para emergências e ela preferia passar fome a ter que usá-lo. Simplesmente saber que a lata estava ali fazia com que conseguisse respirar um pouco mais aliviada, pois o passado sempre estava à espreita e poderia retornar a qualquer momento. Um passado que cruzava o mundo procurando por ela, e ela sabia que sua fúria crescia a cada dia que passava.
— Bom dia. Você deve ser Dulce Maria — chamou uma voz, interrompendo seus pensamentos.
Dulce se virou. Na varanda da casa ao lado viu uma mulher com
uma cabeleira castanha despenteada, acenando com a mão. Ela parecia ter mais de 30 anos e usava uma calça jeans, com uma blusa de botões que tinha as mangas arregaçadas até os cotovelos. Um par de óculos de sol repousava sobre os cachos emaranhados na cabeça dela. Nas mãos, ela tinha um pequeno tapete e parecia estar debatendo consigo mesma se devia estendê-lo para tirar o pó antes de finalmente deixá-lo de lado e vir até onde Dulce estava. Ela andava com a energia e a tranquilidade de alguém que estava acostumado a se exercitar.
— Irv Benson me disse que seríamos vizinhas.
“O dono das casas”, pensou Dulce. — Eu não sabia que outra pessoa viria morar aqui.
— Acho que ele também não sabia. Ele quase caiu da cadeira quando eu lhe disse que ficaria com a casa. Naquele momento, ela já havia chegado à varanda de Dulce, e estendeu a mão. — Meus amigos me chamam de May.
— É um prazer — disse Dulce, cumprimentando-a.
— Dá para acreditar nesse tempo? Está perfeito, não acha?
— A manhã está uma beleza — concordou Dulce, apoiando o peso do corpo na outra perna. — Quando você se mudou?
— Ontem à tarde. E, por ironia do destino, passei quase a noite toda espirrando. Acho que Benson juntou toda a poeira que conseguiu encontrar e a guardou na minha casa. Você não acreditaria na sujeira que existe lá dentro.
Dulce apontou para a porta da sua própria casa com um movimento da cabeça. — Esta casa estava do mesmo jeito.
— Não parece. Desculpe-me, mas não consegui evitar em dar uma olhada pelas suas janelas quando eu estava na minha cozinha. A sua casa é clara e alegre. Por outro lado, o lugar que eu aluguei é uma masmorra empoeirada e cheia de aranhas.
— O Sr. Benson me deixou pintá-la.
— Tenho certeza de que deixou. Desde que eu faça todo o serviço, eu aposto que o Sr. Benson me deixará pintar a casa também. O imóvel dele fica limpo e bonito e eu acabo fazendo todo o trabalho — disse ela, com um sorriso torto. — Faz tempo que você mora aqui?
Dulc cruzou os braços, sentindo o Sol da manhã lhe aquecer o rosto. — Há quase dois meses.
— Não sei se vou aguentar tanto tempo. Se eu continuar espirrando como na noite passada, minha cabeça provavelmente vai explodir. May pegou seus óculos escuros e começou a limpar as lentes com o tecido da camisa. — E o que está achando de Southport? É um mundo totalmente diferente, não é?
— Como assim?
— Você não parece ser daqui. Imagino que seja de algum lugar ao norte.
Depois de alguns segundos, Katie fez que sim com a cabeça.
— Foi o que pensei. Demora um pouco para as pessoas se acostumarem
com Southport. Sempre gostei muito daqui. Tenho um lugar especial no meu coração para as cidades pequenas.
— Você nasceu aqui?
— Cresci aqui, depois saí e voltei após um bom tempo. É assim que sempre acontece, não é? Além disso, é difícil achar lugares empoeirados
como minha casa em outras cidades.
Dulce sorriu e, por um momento, nenhuma das duas disse qualquer palavra. May parecia contente em ficar diante dela, esperando pelo próximo movimento. Dulce tomou um gole do seu café, olhando em direção às árvores, e se lembrou da boa educação que recebeu.
— Aceita uma xícara de café? Acabei de fazer.
May voltou a colocar os óculos de sol sobre a cabeça, prendendo-os entre os cabelos. — Sabe, eu estava esperando que você dissesse isso. Eu adoraria tomar uma xícara de café. Todas as coisas da minha cozinha ainda estão encaixotadas e meu carro está na oficina. Você faz ideia do quanto é difícil passar o dia inteiro sem cafeína?
— É, eu imagino como deve ser.
— Bem, para que você saiba, eu sou uma verdadeira viciada em café. Especialmente em dias como hoje, em que preciso desembalar minha mobília e minhas coisas. Já mencionei que detesto desencaixotar?
— Acho que não.
— Olhe, provavelmente é a pior coisa que existe. Tentar descobrir onde colocar cada coisa, bater os joelhos enquanto anda entre a mobília e as caixas... Mas não se preocupe, eu não sou o tipo de vizinha que pede ajuda para organizar a casa. Por outro lado, uma xícara de café...
— Entre — disse Dulce, convidando-a. — Só não repare na mobília. Quase tudo já estava aqui quando eu cheguei.
Depois de atravessar a cozinha, Dulce tirou uma xícara do
armário e a encheu até a borda. Ela a entregou para May. — Lamento, mas não tenho chantilly nem açúcar.
— Não é necessário — disse May, pegando a xícara. Ela soprou o café antes de tomar um gole. — Bem... a partir de agora, você é oficialmente minha melhor amiga no mundo inteiro. Este café está delicioso!
— Fico feliz que tenha gostado.
— Benson disse que você trabalha no Ivan’s.
— Sou uma das garçonetes.
— Dave Grandão ainda trabalha lá? Quando Dulce fez que sim com a cabeça, May prosseguiu: — Ele está lá desde quando eu ainda estava no ensino médio. Dave ainda coloca apelidos carinhosos em todo mundo?
— Sim — disse Katie.
— E Melody? Ela ainda comenta quando acha que algum dos clientes é bonito?
— Todos os dias.
— E Ucker? Ele ainda passa cantadas nas novas garçonetes? Quando Dulce assentiu novamente, May riu. — Aquele lugar não muda nunca.
— Você trabalhou lá?
— Não, mas Southport é uma cidade pequena e o Ivan’s é uma instituição aqui. Além disso, quanto mais tempo você mora neste lugar, mais compreende que aqui não existem segredos. Todos sabem da vida de todos e algumas pessoas... como Melody, por exemplo... transformaram a fofoca em uma forma de arte. Antigamente, isso me deixava louca da vida. É claro, metade das pessoas que mora aqui é igualzinha a ela. Não há muito para fazer em Southport além de fofocar sobre a vida dos outros.
— Mas você voltou.
May deu de ombros. — Sim, voltei. O que posso dizer? Talvez eu goste de gente louca. Ela tomou outro gole do café e apontou para a janela. — sabe, mesmo antes de eu sair da cidade, nem sabia que estas casas existiam.
— O dono delas disse que eram cabanas de caça. Eram parte de uma fazenda até que ele as transformou em casas de aluguel.
May balançou a cabeça. — Não consigo acreditar que você se
mudou para cá.
— Mas você também se mudou para cá — argumentou Dulce.
— Sim, mas a única razão pela qual considerei este lugar foi porque eu sabia que não seria a única mulher morando no fim de uma rua de cascalhos, no meio do fim do mundo. Este lugar é meio isolado.
“É exatamente por isso que eu quis viver aqui”, pensou Dulce consigo mesma. — Não é tão ruim. Acho que já me acostumei.
— Espero conseguir me acostumar também — disse May, soprando seu café para esfriá-lo. — E então, o que a trouxe a Southport? Tenho certeza de que não foi a possibilidade de uma carreira de sucesso no Ivan’s. Você tem família aqui? Pais? Irmãos ou irmãs?
— Não — disse Dulce. — Apenas eu mesma.
— Veio por causa de um namorado?
— Não.
— Então você simplesmente... se mudou para cá?
— Sim.
— E por que você quis fazer isso?
Dulce não respondeu. Eram as mesmas perguntas que Ivan, Melody e Ucker haviam feito. Ela sabia que não havia outros motivos ou intenções por trás daquelas perguntas, apenas uma curiosidade natural. Mesmo assim, ela nunca soube direito o que responder, além da verdade.
— Eu queria um lugar onde pudesse recomeçar a vida.
May tomou outro gole do café, aparentemente ponderando a resposta dela. Mas, para a surpresa de Dulce, não continuou a fazer perguntas. Simplesmente fez que sim com a cabeça. — Isso faz bastante sentido. Às vezes, começar de novo é exatamente o que uma pessoa precisa. E eu acho que é algo admirável. Muitas pessoas não têm a coragem necessária para fazer algo assim.
— Você acha?
— Eu tenho certeza — disse ela. — E então, que planos você tem para hoje? O que vai fazer enquanto eu estiver bufando e reclamando da vida, desembalando minhas coisas e limpando tudo até que minhas mãos estejam em carne viva?
— Tenho que trabalhar mais tarde. Mas, fora isso, poucas coisas. Preciso ir ao supermercado e comprar algumas coisas.
— Você vai ao Fisher’s ou a algum outro lugar na cidade?
— Acho que só ao Fisher’s.
— Já conversou com o dono do lugar? Aquele homem de cabelos grisalhos?
Dulce fez que sim com a cabeça. — Uma ou duas vezes. May terminou de tomar seu café e colocou a xícara na pia antes de soltar um suspiro. — certo, certo — disse ela, sem muito entusiasmo. — Chega de procrastinar. Se eu não começar agora, nunca vou terminar de arrumar minha casa. Deseje-me sorte.
— Boa sorte.
May deu um breve aceno. — Foi ótimo conhecê-la, Dulce.
Autor(a): portinons2vondy
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 9
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angelr Postado em 04/09/2015 - 01:32:59
Poxa a fic é maravilhosa volta a postar prometo divulgar ela em minhas fics q posto
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flavianaperroni Postado em 12/07/2015 - 03:13:52
posta maaais
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dyas Postado em 28/07/2014 - 15:42:49
Posta mais vai... :)
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dyas Postado em 16/07/2014 - 12:05:02
Aaah Any pensando na Dul *-*' Continua s2
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dyas Postado em 03/07/2014 - 09:39:14
Continua *----*' Quero saber mais da história da Dulce.
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dyas Postado em 11/06/2014 - 10:39:33
Flor, posta mais! tô amando a web.
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dyas Postado em 09/05/2014 - 20:24:17
Continua, adorando. :)
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lunaticas Postado em 05/05/2014 - 23:17:43
Continua!!!!!
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vverg Postado em 05/05/2014 - 00:05:51
Mais uma... Up *_*