Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

— Te... tem alguma coisa queimando. Estou sentindo cheiro de fumaça.
— Sim, claro que tem. O navio está em chamas.
— O navio?
— Sim, incendiamos a embarcação inglesa. O navio foi cercado, capturado e agora vamos colocá-lo a pique. Quer saber se existem homens a bordo? Pois digo-lhe que não. Enquanto eu estiver no comando, nenhum ser humano será queimado vivo. Era isso que queria perguntar?
Ela assentiu, um tanto envergonhada.
— Estamos em perigo também? — indagou, sem ousar encará-lo. — Quero dizer, este navio corre o risco de pegar fogo também?
Diante da pergunta inesperada, Alfonso franziu o cenho e perscrutou-a com o olhar. Que mulher contraditória era aquela? Primeiro se atirava ao mar sem pensar duas vezes e agora temia morrer em um incêndio? Como podia ser isso?
— Não, senhora. Posso lhe garantir que não corremos esse risco — ele falou por fim.
Anahí respirou fundo,
— Entendo, mas pode me dizer o que foi feito do capitão Abraham e de seus homens? Es... estão mortos?
Uma sonora gargalhada escapou dos lábios carnudos do belo guerreiro escocês.
— De onde tirou essa idéia, milady? Claro que não! Seu capitão está vivo, a bordo do navio de Thomas de Longueville. Fizemos um acordo e os piratas levarão os prisioneiros para a França. Preferimos ficar só com o que era mais precioso em nossa embarcação, ou seja, a senhora, lady Anahí.
— Está querendo dizer que vai pedir um resgate por mim? Alfonso inclinou levemente a cabeça para o lado e sorriu, Anahí não pôde evitar pensar que quando fazia assim, o escocês arrogante era o homem mais belo e atraente que já conhecera em toda sua vida.
— Ainda não sei, milady. Ainda não sei. Por enquanto sugiro que tire essas roupas molhadas e tente se aquecer, porque vou fazer o mesmo.
Então, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Alfonso Graham girou nos calcanhares e saiu da cabine, fechando a porta atrás de si.
Durante um longo momento, Anahí de Clarin ficou parada ali, olhando para a porta e tentando não irromper em um choro incontrolável. Aquele era um de seus piores temores! Entrava em pânico quando se via trancada em aposentos pequenos, como a minúscula cabine do navio nórdico.
Tremendo, puxou a pele que cobria o leito e enrolou-a em torno do corpo encharcado. Não tinha forças para trocar de roupa, não ainda. Agoniada e sentindo-se impotente diante da situação, Anahí jogou-se sobre a cama e deu vazão às lágrimas que lhe queimavam os olhos e... a alma.
Ela estava sonhando e tinha consciência disso. Era como se estivesse revivendo em sonhos todos os momentos que antecederam os acontecimentos trágicos daquela tarde.
Em seu sonho ainda estava em casa, no Castelo de Clarin. Os escoceses tinham sido derrotados na batalha de Falkirk. Ela havia cavalgado com tropas inglesas e depois da vitória começara a ser chamada de Santa Giovanna, tudo isso apenas porque obedecera a seus impulsos e resolvera defender seu povo dos invasores das Terras Altas.
Lembrava-se bem do ataque inimigo. Apesar de destruírem a vila, os escoceses não conseguiram transpor as muralhas de pedras do Castelo de Clarin e o enorme fosso que circundava toda a construção.
No entanto, os moradores da vila em tomo do castelo não tiveram tanta sorte, pois foram saqueados e todos seus bens queimados ou roubados pelos rebeldes. Assim, embora Anahí tivesse sido levada em segurança para a torre do castelo, pôde ver a destruição que assolava os aldeões. Do alto da torre, observara os escoceses colocarem fogo no celeiro onde estava armazenada a colheita.
Indignada, ela havia ordenado aos protetores do castelo que atacassem os inimigos com arcos e flechas atirados da muralha e depois os perseguissem. Contudo, no mesmo dia em que ajudara a defender as terras do castelo, seu pai fora morto ao escoltar suprimentos de guerra para o rei Eduardo I, o que só a fez odiar ainda mais os escoceses que teimavam em invadir e destruir tudo o que encontravam pela frente. Anahí era a única herdeira do senhor de Clarin, porém a lei inglesa a impedia de tomar posse de sua herança e melhorar as condições daqueles que viviam sob sua tutela. Segundo o código de leis inglês, ela só teria direito à herança depois que gerasse um herdeiro legítimo que desse continuidade ao nome da família.
Apesar disso, não estava sozinha no mundo, tinha muitos primos que também viviam no castelo e os quais deveriam ajudá-la a escolher um noivo, segundo seu próprio pai deixara escrito em testamento.
Em seu sonho, era como se agora estivesse novamente no enorme salão da torre principal de Clarin. Naquele dia, nenhuma ameaça de guerra pairava sobre a cabeça dos jovens nobres que ali habitavam. O fogo acolhedor crepitava na lareira. Lindas tapeçarias flamengas pendiam das paredes de pedra, diminuindo um pouco o frio e a umidade característica daquele tipo de construção. Os dias de batalhas com os escoceses haviam terminado depois da derrota em Falkirk, os aldeões tinham reconstruído suas casas e toda a vida que borbulhava ao redor de Clarin parecia ter voltado à normalidade. Mas não era bem assim. Havia outros problemas. Anahí adorava o pai, mas ele se fora e lhe deixara muitas de suas responsabilidades, como, por exemplo, apoiar o rei em todas as suas batalhas, cuidar dos pobres e oprimidos, ajudar os doentes e também a igreja, e isso consumia todas as moedas de ouro de que dispunham.