Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

Capítulo III

— Ela viverá?

Dulce Thornsen ergueu o rosto, surpresa com o som da voz grave e com a presença de Alfonso em sua cabine. Pensara que estava sozinha com a moça adormecida, além do quê, deveria estar acostumada ao silêncio, pois com freqüência os homens do navio estavam tão compenetrados em se defender ou lutar contra o inimigo que lhe ignoravam a presença.

A chuva cessara e o vento havia diminuído. Com os inimigos sob total controle, havia sido convocada a cuidar da dama inglesa.

A princípio, a bela prisioneira estava ardendo em febre e, a despeito de Alfonso ter lhe ordenado que a mantivesse longe de sua criada pessoal, Dulce tinha mandado chamar Birdie, que até então fora mantida na embarcação de Longueville, para ajudá-la a cuidar de lady Anahí de Clarin.

Juntas, as duas mulheres haviam tirado as vestes encharcadas, banhado-a com água limpa e forçado-a a beber um caldo de ervas enriquecido com legumes e alguns pedaços de carne salgada.

A tarde da tempestade tinha chegado ao fim, um outro já havia passado, e agora, outra vez, a noite voltava a cair sobre aquele ponto do mar sem que lady Anahí abrisse os olhos.

Ela estava sob a responsabilidade de Dulce, pois os homens tinham uma grande tendência a deixar os doentes e feridos aos cuidados de suas mulheres. Aliás, surpreendia-a o fato de Alfonso estar ali, embora aquela fosse justamente a cabine do jovem guerreiro escocês antes de ele resgatar a donzela inglesa do mar.

Dulce conhecia Alfonso Graham desde que passara a viver com Christopher. Afinal, a despeito da guerra que assolava a Escócia e das longas viagens, os parentes e membros de um mesmo clã costumavam visitar-se com grande freqüência. Os pais de Christopher e Alfonso eram primos em primeiro grau, o que significava que possuíam um forte laço de sangue, a despeito de o primeiro obedecer as leis do rei da Noruega e o segundo estar em luta pela libertação de sua terra das mãos de Eduardo I.

Como era normal acontecer em períodos de guerra, após o início do conflito com os ingleses, os Graham haviam estreitado ainda mais os laços com seus primos que viviam em terras e mar noruegueses. Na verdade, Dulce tinha sido chamada várias vezes para cuidar de Alfonso Graham quando ele padecia daquelas doenças típicas da infância, o que significava que o conhecia bem demais. Por isso mesmo, espantava-a o fato de ele estar ali agora, olhando solenemente para a jovem prisioneira estendida no leito rústico da embarcação.

— E então, Dulce, acredita que ela viverá? — A voz rouca tinha um tom levemente agudo, denunciando-lhe a preocupação.

— Sim, acredito que viverá. — Dulce falou, à medida que mergulhava um pano de linho branco em uma bacia de água, torcia-o e o colocava sobre a testa da jovem dama inglesa. Olhou de soslaio para Alfonso e divisou os caracóis de cabelos escuros caindo-lhe junto às faces angulosas. Também notou a maneira como ele apertava as mãos nervosamente.

Alfonso Graham era um homem impressionante, apesar de ter pouco mais de vinte anos. Ainda se lembrava de que ele parecia quase uma criança quando lutara no exército de Arryn para salvar lady Kyra das mãos de lorde Darrow. O que alguns anos não podiam fazer! Durante quase toda sua curta existência, Alfonso tivera de enfrentar conflitos armados, guerras e derrotas, mas isso não o transformara em uma pessoa amarga, pelo contrário, ensinara-o a dar grande valor à vida e a respeitar as pessoas.