Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

Capítulo V

Eles ainda estavam no mar. Nas duas noites que se passaram desde que haviam se encontrado, Anahí praticamente não tinha visto Alfonso Graham. Sabia que ele estivera ali, porque havia vestígios de sua presença por todos os lados, como o tartan pendurado no gancho atrás da porta, o chifre nórdico no qual ele costumava beber sua cerveja, um livro aberto na cadeira, ou mesmo a estranha sensação de que ele estivera observando-a enquanto dormia.

Anahí estava começando a entrar em desespero. Sentia-se confinada àquele espaço minúsculo. A única pessoa que realmente via era a mulher nórdica de longos cabelos platinados chamada Dulce, que vinha lhe trazer tudo o que precisava.

Dulce, às vezes, dispunha-se a conversar um pouco, mas nessas ocasiões o capitão do navio, um homem alto e loiro, a chamava em tom de repreensão e Dulce o seguia para fora da cabine no mesmo instante, como se ele fosse o sol e a lua e o próprio ar que ela respirava.

Felizmente, havia livros na minúscula cabine, o que ajudava a passar o tempo. Eram livros maravilhosos, com caligrafias muito bem elaboradas, pois tinham sido compilados por monges, em mosteiros irlandeses. Havia histórias gregas e romanas, lendas, contos de fadas, ensaios sobre os ataques vikings à Bretanha e muitos mais. Alguns eram escritos em francês, outros em latim e uns poucos, ela suspeitava, tinham sido escritos no idioma nórdico. Afinal, não sabia nada da língua, o que era frustrante, pois na maioria das vezes as poucas conversas que conseguia ouvir eram proferidas no idioma nórdico. Os ataques vikings haviam terminado havia muitos anos. Apenas os highlanders ainda usavam tal idioma na ilha. Muitas vezes imaginara que seus inimigos eram bárbaros sem instrução, infinitamente menos civilizados do que os ingleses. Jamais acreditara que eles pudessem ter uma educação tão privilegiada quanto a sua, filha de um dos nobres preferidos do rei da Inglaterra.

No entanto, pelo jeito estava redondamente enganada, e aqueles livros eram uma prova de que sabia pouco sobre os escoceses e seus aliados nórdicos.

Ainda assim, mesmo os livros e as informações que traziam, direta e indiretamente, não conseguiam entretê-la o tempo todo. Verdade que não estava mais apavorada com o que fariam dela, pois, se quisessem esquartejá-la e jogá-la ao mar, certamente já o teriam feito. E se estivessem a caminho de um encontro com o rei francês, era pouco provável que ousassem fazê-lo com as mãos manchadas com o sangue da noiva de um nobre da corte. Ela não estava tendo problemas com o mar, gostava de velejar, embora odiasse ficar trancada e confinada entre quatro paredes, ainda mais num espaço tão minúsculo quanto aquele. Por outro lado, até que estava sendo bem-tratada para uma prisioneira.

Dulce trazia-lhe comida fresca, vinho, água, e, às vezes, um pouco da cerveja inglesa. Havia também água para se banhar quando quisesse, e o baú com seus pertences tinha sido levado para a cabine para que pudesse se trocar à vontade. Para sua surpresa, nada havia sido tirado do lugar, suas roupas e suas jóias estavam todas como deixara. Apesar disso, banhava-se e vestia-se com certo desconforto, pois temia que alguém entrasse enquanto estava nua. O outro ocupante da cabine, porém, parecia só vir à noite, e ninguém mais, além da doce e bela Dulce, ousava contatá-la.

Acreditava que aquela deveria ser a quinta noite desde que tinha sido levada para o navio nórdico. Tinha adormecido no leito coberto de peles de animais, porém, seu sono não era tranqüilo, era como se algo a estivesse incomodando. Mas o quê? A certa altura, acordou subitamente e olhou em meio a escuridão, tomada pela forte sensação de que alguém havia acabado de sair dali. Correu os olhos pelo pequeno aposento, com medo de que a pessoa ainda pudesse estar próxima, mas a cabine estava vazia. Contudo, havia alguma coisa diferente no ar.

higlander: No sentido exato da palavra, um highlander é todo o indivíduo que nasceu ou mora na região norte da Escócia, ou região alta, como é chamado por eles.

tartan: Tartan é um padrão quadriculado de estampas, composto de linhas diferentes e cores variadas.