Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

Anahí limitou-se a encará-lo em silêncio.

— Não tem nada a dizer em sua defesa?

— Que eu saiba, não lhe devo nenhuma explicação.

— Nesse caso, acho que deve me acompanhar. Está na hora de conhecer sir William Wallace.

Ela não tinha escolha e, mesmo que seus pés se recusassem a seguir, logo se viu impelida em direção à porta da cabine e depois até o interior dela.

Capítulo VI

— Vejam, senhores. Temos visita.

Os três homens se levantaram rapidamente, levando a mão à espada, como se, mesmo em sua própria embarcação, estivessem sempre prontos a se defender de um ataque inimigo.

— Ah, lady Anahí de Clarin! — Wallace disse e a estudou atentamente. — Muito prazer, milady. Sou William Wallace da Escócia.

A voz dele denotava um leve divertimento, o que Anahí não conseguia entender. Afinal, aquele homem tinha sido cruelmente derrotado na batalha de Falkirk. Claro que não fora ela que o levara a derrota, mas, com certeza, estava lá e fora a razão de muitos aldeões de York terem aceitado lutar ao lado de Eduardo I, pois fariam qualquer coisa para defender a Santa Giovanna, como costumavam chamá-la.

— Qualquer criança inglesa que mal tenha saído dos cueiros sabe quem o senhor é. — Anahí respondeu com rispidez.

— Ah, sim, um monstro, sem dúvida.

— Isso, já não posso dizer. O que sei é que os homens do vilarejo que circunda o Castelo de Clarin foram colocados em um celeiro e queimados como palha depois que seus seguidores os trancaram e atearam fogo sem piedade. — retrucou ela, deixando muito claro qual era sua opinião.

— Não marchei contra Clarin, milady. — Wallace declarou, impassível. — Tampouco dei ordens para que ateassem fogo ao vilarejo. Mas isso não vem ao caso. Sim, reconheço que muitos homens mataram e morreram sob meu comando, porém este fardo de morte que carrego nos ombros nem de longe se compara à carnificina que Eduardo I tem praticado em Gales e na Escócia. Mesmo assim, não a condeno por ser leal a seu rei, lady Anahí.

Ela ficou em silêncio por um instante, observando a maneira como os quatros cavalheiros a fitavam.

Wallace falava com uma eloqüência e propriedade surpreendentes para um renegado escocês. Além disso, de certa forma, era estranho notar que os quatro cavalheiros na cabine a excediam em altura e que pareciam tão refinados quanto qualquer nobre que conhecia, exceto pelo fato de que os escoceses usavam tartans sobre os ombros e o capitão nórdico trazia um manto de pele de animais nas costas. Apenas o pirata francês vestia-se como um cavalheiro da corte, apesar do excesso de babados em sua camisa.

Anahí respirou fundo. Tinha imaginado que Wallace deveria ser um dos piores monstros na face da Terra. Afinal, em toda a Inglaterra usavam o nome dele para amedrontar as criancinhas e mantê-las em casa. Agora, no entanto, Alfonso Graham lhe parecia muito mais assustador do que o escocês a quem chamavam Coração Valente.

— Eduardo foi convidado a ir a Escócia quando a linha de sucessão estava em risco. — ela ainda teimou em dizer.

— Seu rei foi convidado como conselheiro, não como conquistador. — Wallace disse num tom firme, quase ríspido.

— Pode ser, mas isso não justifica o fato de o senhor ter atacado meu povo e, muito menos, de estar querendo me usar em seu jogo de guerra com o rei. — argumentou num tom indignado. — É preciso ter misericórdia.

O pirata emitiu um som estranho e afastou-se.

— Cara lady Anahí, agradeceria se parasse de ver essa guerra como uma batalha pessoal contra cada inglês com o qual me defronto, pois não é. — Wallace respondeu num tom baixo e pausado.

Já Alfonso não foi tão gentil quando falou:

— Ah, milady, pelo que sei a senhora não é a pessoa ideal para pedir misericórdia. Eu mesmo trago algumas cicatrizes que comprovam isso.

Anahí virou-se para encará-lo, subitamente consciente do candelabro que iluminava o aposento e da maneira como a tênue iluminação tornava o camisola de cambraia ainda mais transparente.

— Não pode se basear nisso! Lembre-se de que nos conhecemos no campo de batalha, sir.

— Sim, milady. E foi uma grande oportunidade para descobrir de quem se deve ter misericórdia e a quem se deve temer.

Anahí virou-se para Wallace.

— Como alguém pode temer a mim, milorde? Sou apenas uma mulher e não carrego armas!

— Algumas armas que são ainda mais perigosas do que aquelas a que se refere, milady. — Wallace comentou, com uma nota de humor a permear-lhe a voz.