Fanfic: A Dama e o Guerreiro - AyA | Tema: AyA (adaptada)

— Perdoe-me, milady. — Alfonso a interrompeu com a voz pontuada por ironia —, mas quando sua morte me parecia iminente, não parei para pensar em minhas boas maneiras e tampouco em cortesia para como uma dama inglesa.

— Pois a morte teria me salvado di... disso! — bradou Anahí.

— Outra vez, mil perdões, minha cara lady Anahí, Não imaginava que tivesse tendências suicidas tão aguçadas, Não existe razão, e nem tampouco glória ou honra, em tirar a própria vida. Além disso, qual o sofrimento que a aflige tanto?

— Estar aqui.

Alfonso segurou-lhe as duas mãos, forçando-a a encará-lo.

— Não acredito que esteja sofrendo.

Sentindo todo seu corpo reagir com intensidade àquele toque, Anahí tentou se levantar.

— Se não sair daqui agora, saio eu.

— Não, não deixarei que faça isso. — As mãos fortes e vigorosas a seguraram com firmeza, obrigando-a a recostar-se nos travesseiros outra vez. Quando ele falou, o rosto estava tão próximo que Anahí podia sentir-lhe a respiração junto a sua face. — Quer saber o que penso de tudo isso, milady?

— Não, mas imagino que me dirá de qualquer maneira.

— Tem toda razão, eu direi. — Um sorriso iluminou as feições másculas. — Penso que sua família a está vendendo para um velho ancião que tem idade para ser seu pai.

— Alain de Lacville é um homem muito gentil e educado.

— Ainda assim é um ancião.

— Você não sabe do que está falando!

— Ah, sei, sim. Conheci o conde há alguns anos, logo após a batalha de Falkirk. Você está certa quando diz que ele é gentil e cortês, mas isso não ameniza o fato de que é velho, muito velho para se casar com uma jovem que tem toda a vida pela frente. Claro que é rico como poucos e que, se você tiver sorte, o conde morrerá logo e a deixara livre e rica para casar-se com quem desejar. Existe, porém, a possibilidade de que ele ainda viva por muitos anos, tornando-a prisioneira de uma união infeliz até que os dias de sua juventude tenham ficado no passado e não lhe reste mais nada a não ser a solidão e a amargura de nunca ter sido amada como merecia. Você é jovem e saudável e é por isso que estava me observando, porque tem sonhos e desejos como todas as mulheres.

Anahí o fitou boquiaberta, pestanejou, então explodiu:

— Santo Deus! Você é ultrajante, Alfonso Graham. Não faz idéia do quanto suas palavras são ridículas. Seu ego é tão grande quanto os músculos que o manejo da espada fez surgir em seus braços. Não sabe nada a respeito de Alain de Lacville. Meu noivo pode muito bem ser velho como disse, mas ainda assim é um dos homens mais gentis e educados que conheço.

— O que sei é que, certamente, você não deseja se casar com ele, Anahí.

Ah, como aquele escocês maldito podia saber tanto a respeito de seus desejos e emoções?, perguntou-se ela, tentando manter a compostura.

— Casamento é apenas um contrato. — respondeu, no tom mais frio e indiferente que conseguiu proferir. — Qualquer pessoa de bem sabe que o matrimônio é um contrato que deve ser honrado por duas famílias.

— Ah, é uma obrigação, então?

 — Sim.

— Mas para quem preza tanto a família, já pensou que se casando com um homem como o conde jamais terá a sua própria, pois dificilmente vai gerar filhos?

— Acha mesmo? Pois não creio. Alain ainda é um homem vigoroso e muito certamente poderá me dar uma dezena de filhos.

— Isso é pouco provável, considerando-se que está sendo vendida para um homem de idade, que até agora não conseguiu gerar um único herdeiro.

— Se estou sendo vendida é porque seu povo destruiu minha casa e minha família, deixando os moradores do vilarejo em volta do castelo sem ter o que comer, pois queimaram todas as plantações e destruíram o que os pobres coitados tinham armazenado.

— Há terras queimadas ao longo de toda a fronteira entre Inglaterra e Escócia. Enquanto Eduardo insistir em travar essa guerra sangrenta, esta situação lamentável deverá persistir. — Ele ficou sério e os olhos verdes assumiram um brilho que mesclava dureza e amargura. — A verdade é que a Inglaterra poderá viver em paz quando a Escócia conquistar a liberdade a que tem direito.

— Bem, sir, por enquanto, eu já ficaria feliz se pudesse me deixar sozinha e em paz.